Análise: Romancing SaGa 2 – Revenge of the Seven: “Make SaGa Great Again!”

Reprodução.

Fui apresentado à franquia SaGa através do recente SaGa: Emerald Beyond (que você pode conferir a review aqui) e, baseado na primeira experiência que tive, tenho que ser honesto e assumir que não esperava muito de mais um jogo da série que me fosse repassado para analisar. Aparentemente, tem havido por parte da Square Enix um esforço notável em tornar esta IP atrativa a um público novo (principalmente ocidental) e a agradar também fãs mais antigos da criação de Akitoshi Kawazu, e uma dessas táticas é através até mesmo da produção de remakes de alguns projetos aclamados de décadas atrás.

Eu diria que isso por si só é uma atitude louvável, visto que nem sempre é comum vermos por partes de grandes softhouses tais iniciativas para tornarem marcas que ajudaram a consolidar seus nomes na indústria no passado com propostas até então chamativas e inovadoras relevantes novamente. Mas a grande questão é se os projetos realmente conseguem agregar algo novo preservando a essência clássica (como em Megaman 11) ou viram lamentáveis caricaturas de si mesmas (caso de Warcraft III: Reforged).

Mas e aí? E quanto a Romancing SaGa 2 – Revenge of the Seven? Em qual posição de tal “espectro” o remake do já clássico Romancing SaGa 2 lançado originalmente para a versão japonesa do Super Nintendo em 1993 se encaixa? É o que iremos examinar desta iniciativa “Make SaGa Great Again!” que a Square vem fazendo:

O LEGADO DE GERAÇÕES

Square Enix / Divulgação

Logo nos primeiros minutos de acesso ao jogo o público é apresentado à Lenda dos 7 Heróis, que conta sobre um grupo de guerreiros que em uma época usaram suas habilidades e poderes para salvar o mundo de Varennes e que acabaram sendo banidos para uma outra dimensão.

1000 anos após o ocorrido e em meio a aparentes tempos de paz, acompanhamos o jovem príncipe Gerard, que tem partido em expedições junto a seu pai, Leon, atual líder do Império de Avalon, para desenvolver suas habilidades de combate, aprender sobre o mundo e a como tornar-se um governante à altura do que seu pai espera.

Porém, quando os outrora 7 heróis retornam de seu exílio dimensional na forma de ameaçadoras criaturas demoníacas sedentas por disseminar o caos e a destruição, Gerard agora precisa provar também sua aptidão para proteger o destino de Avalon e do mundo de Varennes da iminente ameaça, seja com as possibilidades que tem em vida ou como um legado de seu clã a ser preservado por seus descendentes.

E é nessa base que a inovação trazida por Romancing SaGa 2 se posiciona em relação a seu antecessor: a possibilidade do jogador ser capaz de conduzir o destino de uma dinastia de heróis ao longo de vários gerações no combate à legião de seres demoníacos.

BATALHAS CLÁSSICAS COM TOQUES MODERNOS

Square Enix / Divulgação

Em meio a um cenário na atual geração de videogames onde jogos como serviço com jogabilidade frenética tem ganhado a atenção e o financiamento em larga escala das grandes publishers e do próprio público consumidor mais jovem, Romancing SaGa 2: Revenge of The Seven junta-se a outros títulos como os recentes Shin Megami Tensei V: Vengeance e Sea of Stars na árdua missão de mostrar a jogadores novos e veteranos que RPGs de turno seguem como alternativas interessantes ao conciliar aspectos clássicos e modernos em sua produção e jogabilidade.

Em seu sistema de combate, tal qual como SaGa: Emerald Beyond, o jogo faz uso do método conhecido como glimmer, onde dessa vez através de um ícone de lâmpada ao lado direito da opção a ser escolhida para atacar inimigos é possível o jogador não só se guiar para conseguir aprender novos golpes com as armas equipadas pelos personagens como também para encher uma barra azul na parte inferior da tela intitulada Overdrive, que ao estar cheia e brilhante possibilita a mecânica United Attack, inédita no jogo original e que a depender da unidade que usá-la e a distância de turno do último membro atacante de sua equipe, possibilita um combo duplo de técnicas, que pode tornar o desfecho dos confrontos bastante ágil.

Cada personagem pode equipar até dois armamentos e um dos aspectos mais positivos a serem destacados em relação ao aprendizado de habilidades é a possibilidade de transmiti-las a outros personagens do seu time em meio aos “saltos geracionais” de elenco proporcionados pelo jogo, através de lugares que podem ser construídos para isso. Diferente de Emerald Beyond, a linha do tempo de batalha fica em menor destaque e tamanho, dessa vez ocupando o canto superior esquerdo da tela.

Square Enix / Divulgação

Para dar início aos embates, a exemplo de jogos como Dragon Quest VIII ou Persona 3, o jogador pode chamar atenção do avatar referente a um inimigo transitando pelo cenário, correndo o risco de ser atacado pelas costas e começando em desvantagem ou surpreendê-los ao ir por de trás de um deles e fazer um comando de ataque possível, que faz com que eles comecem a batalha com uma certa quantidade de pontos de vida subtraídos e atraso nos turnos.

Square Enix / Divulgação

Nem sempre são mostrados a que tipos de ataques ou magias os rivais são vulneráveis, levando o jogador a apostar em tentativa e erro nos encontros iniciais, mas ao serem constatadas as fraquezas, o jogo é generoso ao relembrar contra que tipo de golpe físico ou mágico determinados adversários sofrem desvantagem, uma vez que informações sobre os oponentes ficam registradas em uma parte do menu de inventário. Vale destacar que em SaGa, não há níveis como em outros JRPGs tradicionais, aqui a cada embate vencido, você e seus companheiros são contemplados com technical points (TP) que ampliam os atributos de seus recursos de vida, magia, ações e de ataque que você traz consigo.

Um ponto negativo a destacar (além da já recorrente ausência de tradução em português de jogos da Square para jogos onde a leitura é parte crucial da experiência…) é que para recuperar pontos de vida, caso um de seus personagens não tenha magias de cura à disposição em meio a batalha, é preciso equipar ítens de cura antes de se envolver nelas para ter a opção de usá-los, de modo que ao menos a princípio objetos que recuperam os chamados BP (sigla para Battle Points, a “mana” do jogo) não são acessíveis para recuperar as possibilidades de ação de seus personagens contra um grupo numeroso de inimigos ou contra monstros disfarçados de baús de ítens (mímicos), o que pode criar algumas situações um tanto quanto críticas, visto que não são apenas as magias que consomem BP, certos ataques físicos também o fazem.

Só dá pra recuperar o BP utilizado após chegar a certos lugares do mapa que são na maioria das vezes inclusive próximos de save points, o que felizmente permite com que sua equipe esteja ao menos minimamente preparada para confrontar chefes.

GUIE A SAGA DE SUA GLÓRIA

Square Enix / Divulgação

Se você um dia desejou sentir-se como um rei ou imperador que precisa liderar a nação que governa contra incursões opositoras, ajudar seus súditos a resolver problemas (que frequentemente envolvem batalhas) e inclusive decidir como irá expandir o território conquistado, o remake de Romancing SaGa 2 pode sem dúvida lhe proporcionar uma bela amostra de tal fantasia de poder além da própria liberdade de conduzir sua aventura principal que tornou a franquia SaGa conhecida.

Isso porque Romancing SaGa 2 conta com um modo de gerenciamento e customização de território do império que torna possível a construção de locais que possibilitam desde a confecção de armamentos para os combatentes que o servem até centros de treinamento para a aquisição das mais variadas artimanhas de guerra, nada comparado a jogos de simulação como Sim City, mas sim de caráter mais simplificado e até intuitivo. Tais oportunidades vão sendo expandidas a medida que missões secundárias vão sendo solucionadas por você e um grupo que fica também à sua plena escolha, podendo-se escolher personagens de até mais de 30 classes. Há a chance também de você poder inclusive selecionar em menus de inventário a formação de batalha ideal para partir para a briga contra forças antagônicas (e que pode ser dissolvida caso você seja pêgo desprevenido) que cruzem o seu caminho.

Você também pode escolher a ordem em que enfrentará um dos 7 inimigos que fazem parte da narrativa principal, de modo que quando o roteiro precisa seguir, até há uma execução razoável, ainda que a estória do jogo em si não seja o principal elemento atrativo, o que pode fazer com que os jogadores não consigam estabelecer um vínculo com os protagonistas ao longo da experiência comum a de aventuras épicas como games da série Final Fantasy, uma vez que para alguns SaGa possa soar mais como uma coleção de side quests aleatórias que tem sua trama principal apenas como um pretexto para o jogador simplesmente administrar o que pode fazer no jogo na ordem em que bem entender e sem um compromisso significativo ou esforço para entender suas nuances.

No tocante a aspectos gráficos, o estúdio Xeen, que também trabalhou na versão de Trials of Mana conseguiu realizar mais um trabalho competente, embora por vezes o jogo apresente pequenos atrasos para que todos os objetos sejam carregados na tela em algumas transições de cutscenes. Já ao se falar de trilha sonora, Kenji Ito (que também trabalhou em jogos da série Mana) retorna aqui com rearranjos das mesmas composições que fizeram parte do game original e que trazem o tom medieval aventuresco que um bom RPG com tal temática precisa para cativar o jogador com alguma imersão nos momentos em que se encontra ao longo da experiência.

VEREDITO

Square Enix / Divulgação

Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven, ao menos pra mim, se mostrou mais assertivo e satisfatório que SaGa: Emerald Beyond no quesito “porta de entrada” para interessados na franquia SaGa, uma vez que com tal proposta a Square renovou aquilo que já deu certo e que já é parte da memória afetiva de um público consolidado a fim de torná-lo também mais palpável e atraente a um novo público em potencial.

No entanto, é preciso que o consumidor alinhe suas expectativas com a experiência que SaGa propõe para que ao final de uma primeira conferida ou de algumas horas de jogatina fique de fato satisfeito com o produto que adquiriu, visto que SaGa até se aproxima mais da experiência de um bom e velho RPG de mesa ao colocar o jogador em contextos onde suas decisões serão fundamentais para definir os rumos do que o espera posteriormente, mas falha em trazer ao jogador uma narrativa emocionalmente memorável, o que pode não ser um demérito se você simplesmente aprecia a autonomia de conduzir a “saga” em que está inserido do seu próprio jeito.

Romancing SaGa 2 – Revenge of the Seven está disponível para PlayStation 5 e 4, Nintendo Switch e PC.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*