Especial: A importância de Marc du Pontavice na animação francesa: Parte 1

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A indústria de animação francesa é uma das maiores do mundo nos dias de hoje, principalmente por produções como Miraculous: As Aventuras de Ladybug e Cat Noir, da Zagtoon e Oggy e as Baratas Tontas, da Xilam Animation, estúdio fundado pelo produtor de animação Marc du Pontavice em 1999 depois do fim da Gaumont Multimédia e de sua saída da Gaumont no final de 1998. A seguir, conheceremos mais da figura de Pontavice tendo como base o livro autobiográfico Destin animé (Destino Animado), lançado em 2022 pela editora Slatkine & Cie.

Marc Marie Joseph Raymond du Pontavice nasceu em 10 de janeiro de 1963 no 15º arrondissement da capital francesa, Paris. Filho do acadêmico Emmanuel du Pontavice e da médica Anne de Pardieu, ele vem da nobreza bretã, a família du Pontavice. Ao contrário dele, seus pais nunca trabalharam no cinema audiovisual francês e raramente o acompanhavam a espetáculos; sua avó era quem o levava a um cinema lendário do 7º arrondissement de Paris, chamado La Pagode.

Em seu sétimo aniversário, seus pais concordaram em apresentar a ele um filme que eles adoravam, Luzes da Cidade, clássico de Charlie Chaplin. Todos os domingos, Marc assistia ao um programa que não perdia, Histoires sans paroles, da ORTF. Fatty Arbuckle, Buster Keaton e Charlie Chaplin são os heróis dele, além de ter como influências Mogli – O Menino Lobo (1967) da Disney; os desenhos dos lendários animadores Tex Avery e Chuck Jones; quadrinhos como Rahan e Mandrake e admirava as pinturas do artista russo Alexander Iakovlev, que eram penduradas na casa de sua avó que colecionava as pinturas.

Sua infância não foi fácil, devido os abusos violentos que sofria de sua mãe quando criança (que foram acalmadas quando ela abandonou seu pai em 1986 para se mudar para os EUA). Marc não veria sua mãe novamente até o falecimento desta 30 anos depois, o que lhe causou traumas.

A vocação do cinema chegou tarde e, quase por acaso a Marc, onde ele tinha sido rejeitado pela segunda vez, na ENS (École nationale supérieure). Infeliz por ter que abandonar a Filosofia e perder tempo estudando Direito, sem conseguir escolher um rumo, adiou inconscientemente o prazo de sua escolha, e recusando a confinar o seu futuro, mas o tédio da sua adolescência volta a assombrar, o que acabou pesando sobre ele. Foi então que um amigo de Marc perguntou o que o motivava.

Aos 16 anos, a escolaridade dele era uma sucessão de fracassos e a sua vida familiar era um terrível desastre, quando o impasse era seu único horizonte. Marc convence os seus pais a o matricularem num internato, no qual decidem mandá-lo para a Alemanha, embora não falasse uma palavra em alemão. Seus pais escolhem um colégio jesuíta, perto de Bonn, cuja disciplina acham que irá fazer o maior bem a Marc. Ele passa os primeiros dois meses em silêncio absoluto, sem conversa e rodeado de estranhos.

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Acalmado pelo poder do silêncio, Marc du Pontavice passa seus dias lendo. Lê muita poesia e poucos romances. A importância da narrativa chega a Marc muito mais tarde, quando for associada às imagens, mas por enquanto, seus pensamentos corroboram apenas em palavras. Não se impressiona tanto a beleza da linguagem, mas sim pela genialidade íntima, que cria imagens simples ou complexas, como tantos rostos. Se reconecta com o mundo, com as palavras, tecendo um vínculo novo, sensual e inteligível. Suas palavras abrangem todos os sentidos da palavra. As frias divisórias de sua prisão mental mudam de cor, o preto e o cinza dão lugar aos grafites coloridos que abrem tantas janelas para o mundo e acendem sua imaginação. Quando Marc volta a Paris, ele não é mais o mesmo. Dominando o idioma, permitiu a ele se reconectar com o mundo, além de uma certa confiança e perspectiva de futuro.

A preparação para o ENS trouxe a ele três anos de extraordinária despreocupação, sem qualquer consciência do amanhã — e se enche de imagens como exposições, livros de história da arte, histórias em quadrinhos e cinema. Apesar, ou por causa de sua imaginação sempre apagada, ele se esforça por preencher o imenso vazio. Se enche de palavras e imagens. Sobre o amor? De outros. Continua incapaz de produzir e de amar. Ele ainda era um mero espectador. A pretensão a produtor, uma profissão misteriosa, com nuances de poder, inteiramente colocada ao serviço da arte e das imagens, começa então a assombrar Marc.

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Marc não tinha nenhuma conexão neste ambiente e não via como chegar lá. Porém, só uma coisa chamava a atenção em sua pesquisa: a frequência das falências. Na época, a profissão era particularmente arriscada e na maior parte dos casos, os produtores, que não tinham formação econômica e financeira, eram os maus gestores. Ele considera a realizar uma formação que seria um bom argumento para a integração naquele ambiente. Foi assim que, após quatro anos de estudo, passa a estudar na Sciences Po; na seção Eco-Fi. Três anos depois, em 1989, com o diploma em mãos, Marc du Pontavice consegue seu primeiro trabalho na produção; a partir daí, e desde então, ele começa a dedicar a sua vida às imagens.

Era apenas o início de sua sucedida carreira de produtor…

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