Especial ANMTV: representação LGBTQIA+ nas animações ocidentais e orientais

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Nesta quarta-feira (28) é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIAP+, um dia instituído para uma comunidade se orgulhar por estarem vivos, resistindo e celebrando sua existência. Em 2023, conquistamos muito, mas o respeito ainda é algo que precisamos exigir. Sendo que isso é algo básico.

Entretanto, para celebrar a data, irei comentar um pouco sobre a questão LGBT+ nas séries animadas que gostamos de consumir e que nos trouxeram, trazem e continuarão trazendo acalento em dias difíceis. Nos fazem rir, chorar e pensar sobre diversas questões, pois a arte também é isso.

As animações, ou desenhos animados, já existem desde o século XIX e eram – essencialmente – curtas sem sons e sem cores. Com a chegada do século XX, no entanto, esta arte começou a tomar diferentes formas e tratamentos, ainda mais com o surgimento dos estúdios Disney e o seu famoso Mickey Mouse, além de outras empresas como a Warner Bros. e o seu Pernalonga e a Universal Studios com o icônico Pica-Pau.

Warner/Divulgação

Com isso, as animações foram passando por diversas transformações ao longo dos anos, entraram a cor; o som; roteiros mais elaborados e, eles, os fãs começaram a surgir. Os desenhos animados conseguiram conquistar diferentes pessoas, de idades, nacionalidades e gêneros distintos que acabavam se identificando com algum personagem.

No entanto, algumas destas identificações – sobretudo o público LGBT – não eram bem aceitas pelas companhias. Essa parte existente de nossa sociedade dificilmente se via nas telas, ainda mais nas animações, porém alguns personagens eram adotados por esta parcela da população, tais como o Pernalonga e o Pica-Pau, visto que ambos costumavam se vestir como mulheres.

É curioso notar que enquanto no ocidente havia essa tentativa em desvincular personagens da imagem da comunidade gay, os japoneses – mesmo sendo considerados um povo conservador – não se importavam muito, mesmo com uma representação caricata em alguns títulos, que existissem personagens LGBT+ em alguns animes e mangás.

Toei Animation/Divulgação

Um bom exemplo disso são os chamados mangás shoujo, que costumam incluir personagens LGBTQIAP+ em suas histórias. Este gênero de mangá tem como foco o público feminino que, pelo menos no oriente, se atraem por tramas deste tipo e, como um bom exemplo, temos Naoko Takeuchi que nos trouxe Sailor Moon, um anime de garotas adolescentes lutando contra monstros espaciais e, além disso, nos trouxe um casal de sailors (Sailor Urano e Sailor Netuno) além de vilões que não se identificavam com o seu gênero de nascimento.

Em outro clássico, Sakura Card Captors, a trama também nos envolveu com diferentes tipos de representações afetivas, como a de Yukito e Touya ou a atração inicial que Shaoran Li sentia pelo jovem Yukito. É interessante notar que todos eles são importantes para o avanço da trama e seus sentimentos não os tornavam inferiores ou esquecidos, como ocorre em produções ocidentais.

Em se tratando de animações ocidentais, o primeiro grande passo dado foi no longa Paranorman de 2012, produzido pelo Laika Studios (Coraline) e que introduziu o primeiro personagem assumidamente LGBT em uma animação infanto-juvenil para os cinemas. Quebrando barreiras, o rapaz era um atleta considerado “gostosão”, sua revelação ocorre apenas ao final da produção em uma fala curta, mas impactante. Era algo inédito.

Laika Studios/Divulgação

Desde então, a perspectiva dos estúdios em relação à comunidade vem melhorando aos poucos. Canais como Cartoon Network; Nickelodeon e Disney Channel já veicularam animações infantis que apresentavam personagens gays. Steven Universo é um grande exemplo disso, A Casa Coruja é outra ótima produção recente que mostra uma protagonista bissexual.

Na animação brasileira Oswaldo, exibida pelo Cartoon Network, a melhor amiga do personagem título possui duas mães. E se tratando de streaming, a Netflix é pioneira e apresentou séries como Guardiões da Mansão do Terror que é voltada à crianças e possui bastante representatividade. Mostrar às crianças que o diferente existe e deve ser respeitado é fundamental, pois ela irá encontrar o diverso em sua caminhada na vida, na escola, em seu bairro, em seus locais de lazer… respeito ensina-se desde cedo.

Voltando aos animes, desta vez os shounens, produções do gênero que são voltados ao público infanto-juvenil masculino, os personagens existem mas não eram bem trabalhados como nas obras shoujo. Produções como Inuyasha e Dragon Ball já apresentaram sujeitos de diferentes sexualidades, mas de uma forma não muito agradável e até ofensiva. Podemos citar o Jakotsu, membro de um grupo chamado Shichinintai e que era constantemente menosprezado pelos demais membros de sua equipe de mercenários, além de nutrir um paixão pelo protagonista Inuyasha.

Sunrise/Divulgação

Contudo, há mudanças no horizonte também, pois grandes títulos como Hunter x Hunter e One Piece apresentaram algumas amostras positivas. No primeiro, podemos citar a irmã do Killua que é uma jovem trans e é respeitada por seu irmão que sempre a defende do ódio e preconceito do resto da família de assassinos.

Mesmo à passos lentos, é importante notar que a representatividade do público LGBTQIAP+ vem aumentando, mesmo com a onda crescente de conservadorismo que vem assolando algumas partes do mundo e, infelizmente, a própria comunidade geek. Comentários como “tudo lacração” não fazem sentido e só mostram que há determinadas pessoas que precisam mudar o seu pensamento, estudar e crescer como ser humano.

É importante que todos nós possamos nos ver nas telas, se sentir parte de algo maior e que respeite nossa natureza. Afinal, ninguém gosta de ser jogado num canto e ser deixado por ali como se não existisse.