Depois da entrevista com Inori, autora de “I’m in Love with the Vilainess“, o ANMTV teve a incrível oportunidade de entrevistar mais um autor direto do Japão! O nosso convidado da vez foi o mangaká Hidenori Yamaji, autor de mangás shonen como Marry Grave, publicado no Brasil pela Panini. Confira:
ANMTV: Olá, Hidenori-san. Poderia se apresentar para aqueles que ainda não o conhecem?
Hidenori: Olá, eu sou Hidenori Yamaji, um mangaká japonês. Eu serializei mangás shonen chamados Marry Grave e Atlantid. Estou honrado em ter recebido a oportunidade de participar desta entrevista.
ANMTV: Nós que agradecemos essa incrível oportunidade. Quando você decidiu seguir a carreira de mangaká e qual foi o seu primeiro trabalho?
Hidenori: Eu sempre gostei de desenhar e queria ser um ilustrador ou artista de mangá. Na minha orientação universitária (processo onde estudantes visitam várias universidades para escolher aquela onde desejam estudar), me disseram: “Seus desenhos são adequados para mangá,” o que me levou a me matricular em uma universidade, especializada em mangá, quando eu tinha 18 anos. Lá decidi me tornar um mangaká. Quando estava em meu quarto ano da universidade, ganhei um prêmio na competição para para autores novatos da Shogakukan (Shogakukan Newcomer’s Comic Award) pelo trabalho intitulado “Smiling Magician”, que foi meu primeiro passo no caminho de me tornar um mangaká.
ANMTV: Sempre quis saber como funciona a criação de nomes e o design dos personagens. Você decide tudo sozinho ou alguém auxilia e observa esse processo?
Hidenori: Eu tenho as ideias para os nomes e o design dos personagens de meus mangás sozinho, me inspirando em várias obras. Algumas vezes, escolho os nomes baseados em sua sonoridade, mas também escolho nomes que possuem um significado. Por exemplo, o nome “Rise Man Sawyer” de Marry Grave significa “o homem que voltou à vida”.
ANMTV: Eu não sabia do significado, é bem interessante. Você vai pensando na história ao longo da publicação ou, desde o início, já possui um começo, meio e fim definidos?
Hidenori: Nós começamos a serialização com uma ideia bruta de sua história e final, mas constantemente mudamos isso durante o curso da obra baseada na reação dos leitores. Por exemplo, Dante originalmente começou na obra como um espião do demônio inimigo e como um aliado animador, mas pensei que ele se sairia melhor como um aliado, então decidi seguir com ele sendo apenas um aliado durante a obra.
ANMTV: Onde você busca inspirações para suas obras?
Hidenori: Eu sou influenciado por trabalhos de todos os tipos de conteúdo, incluindo filmes, músicas, jogos e mangá. Eu também me inspiro muito em trabalhos estrangeiros, então muitas das minhas obras foram publicadas internacionalmente.
ANMTV: Em sua opinião, o que é necessário para perseverar na carreira de mangaká?
Hidenori: Eu acho que é importante sempre continuar adicionando novas coisas e manter sua antena aberta para diversas situações. Além disso, acho que ser um mangaká é como ser um diretor em um filme, onde você tem que incorporar dentro de seu trabalho tudo que é feito pelos especialistas de cada campo, como o trabalho do roteirista, cinegrafista, artista, estilista, elenco, etc. Essa é uma profissão que requer um abrangente leque de habilidades. Eu ainda tenho muito a aprender, mas espero melhorar minhas habilidades e entregar boas obras.
ANMTV: Suas principais obras, Marry Grave e Atlantid, foram publicadas internacionalmente. Qual é a sensação de saber que existem pessoas fora do Japão que apreciam seu trabalho?
Hidenori: Fico muito feliz que meus trabalhos foram publicados internacionalmente, pois eu mesmo fui influenciado por trabalhos de fora do Japão.
ANMTV: Na Itália, Marry Grave ganhou uma boxset, bem inusitada, em formato de um caixão inspirado na história. O que você achou disso?
Hidenori: Eu estou muito honrado. Acho que é bem raro para um mangá ser publicado nesse formato no Japão, então é algo muito precioso. Eu também tenho uma amostra, que valorizo muito, exposta em meu quarto.
ANMTV: Marry Grave foi serializado na revista Weekly Shōnen Sunday da editora Shogakukan. Qual foi a carga horária e a rotina de publicar uma obra semanalmente por cerca de um ano?
Hidenori: Para mangá, existe um processo chamado “nomeação” (naming), no qual a história, diálogo, layout dos painéis, etc… são postos no papel, o que demora dois dias. Demora dois dias para esse processo, e então cinco dias para o processo de “desenho”, que, na verdade, é o esboço, inserção da caneta e a finalização do manuscrito baseado na “nomeação”. Eu gasto mais dias no processo de desenho pois quero entreter os leitores com os desenhos mais detalhados possíveis, mas acho que a quantidade de tempo gasta nesses processos variam de mangaká para mangaká. Como pode ver, quando estou trabalhando em uma serialização semanal, meus dias são bem ocupados e sem nenhuma pausa (risos).
ANMTV: Atlantid, ao contrário de Marry Grave, foi serializada mensalmente na revista Shōnen Sunday Super da editora Shogakukan. Você acha que a carga horária foi menor se comparada com a de quando trabalhou semanalmente?
Hidenori: Serializações mensais tem mais páginas que as semanais, então a pergunta é o quanto você pode juntar uma história em cada capítulo e quanto você pode entreter e satisfazer os leitores com ela. Todavia, nas serializações semanais, é mais importante fazer o leitor querer ler o resto da história, então os requisitos de cada serialização são diferentes.
ANMTV: De onde surgiu a ideia para a história de Marry Grave?
Hidenori: Eu queria criar um mundo de fantasia negra e eu vi um trabalho que conectava o passado e o futuro, então quis criar algo parecido. A razão pela qual Sawyer carrega um caixão é porque pensei que o visual dele carregando um era muito maneiro, e eu sempre quis desenhar um herói assim (risos).
ANMTV: Todos os autores tem que lidar com a pirataria, versões totalmente ilegais de suas obras. Qual sua opinião sobre a pirataria? Você acha que as traduções ilegais e gratuitas de seus trabalhos podem ter ajudado a ganharem popularidade?
Hidenori: É muito bom ter seu trabalho lido por tantas pessoas, mas se for de forma ilegal, não conta na quantidade de cópias em circulação, então é impossível saber a popularidade do mangá. A popularidade de uma obra é medida pelas cópias vendidas e pelo suporte ao autor, o que acarreta uma serialização longa. Então, eu gostaria que as pessoas lessem meu mangá através de formas oficiais.
ANMTV: Muitos fãs ficaram tristes pelo fato de Marry Grave ter acabado precocemente. Você já tinha uma noção que Marry Grave acabaria com poucos volumes ou foi devido a outros motivos?
Hidenori: Infelizmente, Marry Grave não era muito conhecido no Japão como era internacionalmente, então decidimos encerrar a história após cinco volumes. Contudo, tem muitas coisas que queríamos escrever, e estávamos pensando numa história que seria ainda mais interessante a partir daquele ponto. Estou muito grato pelos vários pedidos que recebi das pessoas fora do Japão que queriam ler o resto da história, e eu espero continuá-la algum dia quando tiver a chance.
ANMTV: Dentre suas obras, qual o personagem que você mais se identifica?
Hidenori: Eu acho que sou parecido ao lado intrometido do Sawyer e o lado maluco do Zell e do Sergei.
ANMTV: Uma coisa que nós, leitores de mangás, vemos bastante são autores que usam pseudônimos e escondem seus rostos para proteger sua privacidade. Você acha necessário essas medidas para manter o espaço entre seus fãs e sua vida pessoal?
Hidenori: Assim como eu, acho que vários mangakás não revelam seus rostos para o público porque querem proteger a imagem de seus trabalhos mais do que proteger sua privacidade. Não quero afetar a impressão que meus leitores possuem de meus trabalhos por revelar meu rosto.
ANMTV: Podemos esperar uma nova obra de sua autoria ou nada a declarar? (risos)
Hidenori: Sim, os preparativos para um novo trabalho estão em andamento e espero poder anunciá-lo logo. Estou me desafiando para adicionar uma nova essência ao mundo de fantasia, que é minha especialidade, e torço para que as pessoas fora do Japão também gostem do meu trabalho.
ANMTV: Gostaria de deixar uma mensagem ou uma curiosidade de suas obras a todos os seus fãs brasileiros?
Hidenori: Muito obrigado por lerem até aqui. Estou muito feliz que minhas obras estão alcançando as pessoas fora do Japão. Continuarei a trabalhar duro todo dia para trazer cada vez mais e mais obras interessantes, então espero que vocês continuarão a me apoiar calorosamente. No futuro, também penso em postar vídeos dos meus trabalhos no YouTube, e desejo atualizar meu Twitter e Instagram mais frequentemente, então ficaria feliz em me comunicar com vocês lá também. Infelizmente, o Brasil é um país que ainda tenho que visitar, mas espero conhecer vocês todos e conversar sobre mangá quando for ao país um dia!
Nós agradecemos, novamente, a participação e atenção do Hidenori Yamaji nesse incrível ANMTV Entrevista. Relembrando a todos, Marry Grave, completo em 5 volumes, foi publicado no Brasil pela editora Panini.
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