Análise: Tales of Graces F Remastered: coragem para lutar, união para vencer

Apesar de ser uma franquia que tem como seu produto principal os jogos de videogame, sou uma das pessoas que acabou conhecendo a série Tales Of por meio dos animes.
Lembro que ainda durante a minha adolescência nos anos 2000, quando havia descoberto junto a outros amigos da época os primeiros sites de reencode de animes e estávamos descobrindo um “incrível” mundo muito além dos animes da antiga “aliança project”, um desses amigos um dia nos mostrou os OVA’s de um tal Tales Of Phantasia, dizendo tratar-se de um anime baseado em um jogo para o primeiro PlayStation, e comentando algo sobre ele ser bacaninha de assistir. Nessa época, assumo que eu tinha um certo preconceito com animes muito curtos e/ou não tão comentados por sites e revistinhas especializadas, e por isso acabei não dando muita bola.
Passados alguns anos, por volta do final de 2008, acompanhei a estreia do anime Tales of The Abyss, que era baseado em um JRPG lançado para PlayStation 2, e sem saber ou me dar conta que ambas as produções eram de uma mesma franquia, resolvi dar uma olhada por curiosidade, aproveitando o fato de que particularmente eu não havia tido até então contato com muitos animes de fantasia além de Slayers, em sua curta passagem pela Band.
Eis que a aventura vivida pelo jovem Luke Von Fabre e seus companheiros de jornada me surpreendeu, tornando-se um dos animes mais marcantes da minha adolescência otaku. Por não possuir um PlayStation 2, acabei privado de ter acesso ao material original que deu origem à adaptação e prometi a mim mesmo que em uma futura oportunidade jogaria o game. Foi em meio a isso que redescobri os OVAs de Tales Of Phantasia, e me arrependi de não ter dado uma chance desse anime ter me cativado em outra época e aos poucos fui percebendo o potencial incrível das histórias de Tales Of, chegando a ter começado até mesmo uma campanha na versão de Tales Of Phantasia para Super Nintendo via emulador (mas nunca concluído).
E onde Tales Of Graces F Remastered entra em meio a tudo isso? Bom…talvez no fato de que há anos atrás baixei e guardei a versão desse jogo lançada para Wii apenas com uma tradução feita por fãs desse jogo em minha conta na nuvem e acabei o esquecendo em meu acervo (a falta de um anime baseado nele pode inclusive ter “ajudado”), e cá estou eu aproveitando esse relançamento para permitir que mais uma vez Tales Of me surpreenda, ou até a você, que pode estar pensando em dar uma oportunidade à franquia, e a pergunta agora é: será que esse jogo consegue isso? Venha descobrir junto comigo.
UMA HISTÓRIA DE CRESCIMENTO

No enredo, somos apresentados ao jovem Asbel, um dos filhos de um nobre que governa as terras de Lhant, situadas entre os reinos de Windor e Fendel. De personalidade impulsiva e aventureira, o garoto de 11 anos de idade frequentemente se envolve em uma série de situações que flertavam com o perigo, muitas vezes arrastando junto seu irmão mais novo, Hubert, ou até Cheria, uma menina amiga de longa data dos 2 irmãos.
Em uma de suas peripécias, Asbel e Hubert acabam conhecendo uma estranha garota sem nome e desmemoriada a qual Asbel resolve batizá-la posteriormente de “Sophie”, além também do príncipe Richard, um garoto da mesma idade que é herdeiro do reino de Windor e com quem Asbel estabelece um vínculo significativo de amizade após um evento onde ambos correram risco de vida, mas que posteriormente se deteriora após uma série de acontecimentos.
Passados alguns anos, Asbel torna-se cavaleiro e cada membro do antigo grupo de crianças, agora jovens adultos, seguem carreiras distintas, com exceção de Sophie que foi a única a não envelhecer. Em meio a uma série de dilemas e situações típicas da juventude e da vida adulta circundada por uma subtrama política, Asbel e seus outrora companheiros acabam sendo colocados em uma conspiração que coloca em jogo o destino do mundo como o conhecem, e agora precisam deixar antigas diferenças de lado para impedir que uma terrível ameaça se concretize.
PARTINDO PARA A BRIGA

Quem já conhece a série Tales Of não será exatamente surpreendido aqui em relação ao modo de combate do jogo, que continua se caracterizando por um estilo de confrontos mais dinâmico e em tempo real contra os adversários, relativamente inspirado nos games de luta em contraposição ao uso de turnos.
No entanto, controlar os personagens em tela ainda é consideravelmente mais simples que em jogos de luta, uma vez que enquanto o protagonista, Asbel, está a seu serviço, os demais são guiados pela Inteligência Artificial (IA) à sua disposição, com comportamentos táticos que podem ser previamente configurados em um dos menus. Em meio às disputas é também possível esquivar-se da linha de ataque inimiga, defender golpes e “carregar magias” para executá-las em seguida.
Através de um dos comandos do controle pode-se inclusive “pausar” a batalha para selecionar o alvo que o personagem principal da equipe irá dirigir os ataques, trocar equipamentos de personagens secundários ou mesmo usar itens para restaurar pontos de vida (HP) ou recobrar qualquer um que tenha caído inconsciente após ser alvejado por rivais.
Para substituir o uso de pontos de magia (MP), o sistema de batalhas faz uso dos chamados Chain Capacities (ou CC), que foram inicialmente introduzidos em Tales of Destiny do PlayStation 2. Essa mecânica faz com que após usarem suas técnicas especiais (aqui chamadas de “artes”), e de forma autônoma, os membros da equipe, após certo intervalo de tempo possam entoá-las novamente, não quebrando o ritmo dos embates para que o jogador precise escolher qual golpe irá aplicar nos inimigos com que está lidando.

No entanto, à medida que os duelos contra oponentes se tornarem mais complexos, o jogador precisará observar os momentos ideais no meio das disputas para fazer um uso eficiente das artes que lhe são possíveis. Entre os tipos de artes estão à escolha do jogador, existem aqui as do tipo A, que não são customizáveis e as do tipo B, que podem ser alteradas conforme o interesse do jogador ao serem acessadas em um dos menus de configurações.
A elevação de níveis dos personagens aparece aqui através da aquisição de “títulos”, que permitem ao jogador o acesso à habilidades passivas, bônus em atributos, novas artes e até mesmo a obtenção de trajes alternativos.
Vale destacar aqui que a interface do jogo é também bastante amigável nesse aspecto ao dar dicas de como batalhar de modo mais eficaz após cada término de lutas, o que pode ser bastante útil para aqueles que desejem esmiuçar as artimanhas possíveis de serem realizadas ao longo da jogatina, como ter noção das vantagens e desvantagens que cada tipo de inimigo tem contra certos tipos de arte ou ataques, aumentando a efetividade do seu time nos confrontos.
Outro detalhe positivo a ser frisado é que ítens como armas, equipamentos e usados para recuperar HP nem sempre são “dropados” após batalhas ou possíveis de serem adquiridos apenas comprando em lojinhas de NPCs dentro do jogo. Você tem a opção de combinar ítens de matéria prima encontrados em baús pelo mapa ou obtidos ao se derrotar oponentes com aqueles que já tem para produzir novos recursos. Alguns desses novos armamentos e utensílios em combinação com o título que cada personagem tem, podem inclusive intensificar mais ainda seus atributos principais e ampliar seu arsenal de artes e passivas.
UMA MELHOR VERSÃO DO QUE JÁ ERA BOM?

Embora não apresente o visual esperado de um Tales Of moderno, o remaster de Tales of Graces ainda consegue fazer bom uso da tecnologia dos consoles da geração atual para entregar ao público resoluções gráficas agradáveis e opções que fazem com que o jogo não fique devendo tanto em comparação a seus “irmãos” mais novos, pegando por base a versão que chegou ao ocidente em anos passados pelo PlayStation 3, incluindo em um pacote só até mesmo a maioria das DLCs que foram lançadas na época e que aumentaram as possibilidades de customização.
Apesar de atrelada a clichês, a narrativa se sustenta bem, mesmo sem grandes reviravoltas ao longo de sua média de 100 horas, sendo o maior mérito disso o carisma que Asbel e sua turma demonstram em tela durante os momentos de diálogos ou de exposição dos acontecimentos. A direção de trilha sonora feita por Motoi Sakuraba e Hibiki Aoyama, que também marcaram presença em outros jogos da série, consegue harmonizar de forma competente com os diferentes momentos apresentados ao longo da experiência.
Uma das diferenças mais consideráveis dessa versão em comparação com a lançada para Wii anos atrás, é o acréscimo de um epílogo da história principal que amarra uma série de pontas soltas do que é mostrado ao longo da campanha principal e que também tem alguma influência no aumento de horas dedicados ao jogo.
Entre alguns dos acréscimos mais positivos a essa remasterização, estão a ativação de um botão no controle que permite com que seu personagem possa correr pelo mapa, e indicadores de destino que não permitirão com que o jogador se perca nas localidades a serem alcançadas para fazer a história do jogo seguir.
Uma outra novidade que pode não ser uma unanimidade, mas que pode interessar a alguns é a introdução de side quests, tarefas opcionais que permitem que jogadores interessados possam desfrutar da experiência de explorar o mundo trazido pelo jogo de forma pouco apressada, algo pouco comum em outros jogos da linha Tales Of.
Porém, entre algumas das falhas da Bandai Namco, ao menos em relação a esse capítulo de Tales Of, é a ausência de localização em português brasileiro, especialmente para um jogo que assim como outros inúmeros de seu gênero faz uso frequente de textos para transmitir inúmeras das principais qualidades comentadas aqui.
Entusiastas de Tales Of de longa data também notarão a ausência de DLCs que remetem à possibilidade de vestir Asbel e seus companheiros com trajes dos personagens do anime Code Geass, ou até relacionados a outras franquias da Bandai Namco, como Idolm@ster e .//hack GU, o que causa certo estranhamento, visto que os dois últimos ainda estão sob custódia da produtora e o primeiro provavelmente foi integrado após o estúdio Sunrise ser incorporado à companhia já há alguns anos atrás.
VEREDITO

A escolha de Tales of Graces como o primeiro de uma leva de antigos jogos da série Tales Of a receberem versões remasterizadas para plataformas atuais mostrou-se um grande acerto em termos de escolha por parte da Bandai Namco. Não só pela qualidade já consolidada do jogo escolhido, como também por uma maior quantidade de acertos do que erros no processo de apresentar o game para toda uma nova geração de jogadores.
Como alguém que pouco havia tido contato com jogos de Tales Of, posso dizer que Tales of Graces F Remastered é talvez uma das melhores portas de entrada para este universo de fantasia repleto de histórias cativantes, não por “reinventar a roda” com algo nunca antes visto e mirabolante, mas especialmente por fazer o básico bem feito e alcançar aquela que é a principal missão de um jogo no momento em que ele é desenvolvido: a de divertir e entreter.
Ainda que existam melhores opções para se aventurar no universo de Tales Of que poderiam ser até mesmo citadas aqui, é garantido que aqueles que escolherem Tales of Graces F Remastered para dar seu primeiros passos na franquia, definitivamente não se arrependerão e com certeza poderão ser ainda mais surpreendidos com outros jogos em futuras oportunidades.
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