Análise: Sonic Origins Plus – Aventuras revividas e um leve tom de rosa

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Apesar de Sonic ter sido um personagem que fez parte da minha infância, graças especialmente a animações como o clássico Sonic SatAM e o não tão bem sucedido Sonic Underground em suas exibições pelo SBT, por muitos anos nunca me considerei um dos maiores fãs do mascote da SEGA embora para alguns que me conhecem pessoalmente isso não pareça. E não digo isso por no geral desgostar ou subestimar o personagem, os jogos que estrelou e todas as mídias que exploram seu universo, e sim por não ter crescido com acesso a um Mega Drive que me permitisse usufruir daquilo que Sonic tinha de melhor a oferecer direto de sua fonte que era sua tetralogia inicial de jogos eletrônicos compostos pelos 3 primeiros jogos do ouriço e um quarto onde dividia o protagonismo com a equidna vermelha Knuckles.

É curioso olhando sob essa perspectiva avaliar se Sonic Origins e sua DLC Sonic Origins Plus parecem ter sido feito em parte pensados para consumidores assim como eu, que ao longo dos anos deixou passar inúmeras oportunidades de desfrutar de jogos clássicos do ouriço velocista em outras plataformas e agora tem a chance de ter acesso não só àquilo que tornou Sonic um nome tão icônico dos videogames quanto a outros mimos que embora agradem jogadores de primeira viagem parecem ter sido destinados a um público de longa data que cresceu com o ouriço azul em mais de 30 anos de existência. Contudo, será que tais expectativas são de fato satisfeitas e será dessa vez que você fãs das antigas ou gamer pouco familiarizado poderá investir seu escasso tempo e suado dinheiro na mais recente coletânea trazida pela SEGA e sua pitada de conteúdo extra recém adicionada? É o que iremos descobrir adiante.

Novo pacote, velhas aventuras!

Após uma bela abertura animada no melhor estilo anime com os personagens seguindo o design clássico consolidado nos anos 90, os jogadores tem acesso ao menu de introdução onde podem escolher os jogos da coletânea que estão disponíveis em meio a um menu animado que mostra os personagens em CG junto a objetos que compõem o cenário ao fundo, havendo um acréscimo de objetos ou personagens a tais mapas a medida que o jogador progride em cada um dos jogos e desbloqueia as “recompensas” contidas na coletânea.

Importante aqui destacar o diferencial de Origins em relação à versão do jogo com a DLC com o acréscimo do “Plus” em seu título: Enquanto o Origins a princípio traz 4 jogos clássicos do ouriço (Sonic The Hedgehog, Sonic 2, Sonic 3, Sonic & Knuckles e Sonic CD) a DLC traz um acréscimo de 12 novos jogos oriundos do console portátil Game Gear sendo eles respectivamente: Sonic Blast, Sonic Chaos, Sonic Drift 1 & 2, Sonic Labyrinth, Sonic Spinball, Sonic The Hedgehog 1 e 2, Sonic Triple Trouble além dos spin-offs Dr. Robotnik’s Mean Bean Machine, Tails Adventures e Tails Skypatrol.

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Junto com a nova leva de jogos o outro destaque vai para o acréscimo de Knuckles ao game Sonic CD e Amy aos demais jogos clássicos anteriores contidos na coletânea como personagem jogável. Chega a ser curioso notar como de algum tempo para cá a Sega aparentemente não tem medido esforços para tornar Amy uma personagem mais “gostável” aos fãs nas mais diversas mídias onde Sonic e sua turma marcaram presença e talvez até com participações com um pouco mais de relevância.

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Se a personagem inicialmente não passava de uma mera donzela em apuros em Sonic CD e posteriormente parecia apenas uma típica garota mimada e apaixonada que vivia em função de tentar chamar a atenção do ouriço azul em animações como Sonic X, atualmente pode-se dizer que a mesma tem se destacado nos quadrinhos da IDW como uma destemida líder de resistência, incorporando traços de personalidade que remetem vagamente a Sally Acorn, personagem que só é mais lembrada por fãs mais antigos da franquia. Isso sem falar nas variações de multiverso que a ouriço fêmea rosa tem recebido, que por vezes parecem destacar mais características de independência e até mesmo maturidade que meio que contrastam com o estilo mais descontraído e impulsivo de Sonic conforme visto na série animada Sonic Prime.

No entanto, apesar da representatividade feminina e da simpatia, em termos de jogabilidade, Amy pouco acrescenta aos jogos que passa a participar, sendo no geral um pouco mais lenta que Sonic nos momentos onde o jogador resolve utilizá-la para correr pelas fases, saltando um pouco mais alto ao se apertar o botão de pulo e demonstrando ter uma hitbox levemente maior ao acertar inimigos com o seu Piko Piko Hammer, diferenças provavelmente pouco perceptíveis a jogadores não tão habituados aos jogos clássicos.

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Ainda em termos de jogabilidade, os jogadores podem escolher se jogam os jogos no estilo “aniversário” com salvamento automático de progresso e vidas infinitas ou no estilo clássico onde jogam o jogo conforme ele originalmente foi feito e poderão testar suas habilidades dando de cara (ou não) com alguns game overs durante a experiência. Ademais, explorando o menu da coletânea os usuários podem ir desbloqueando ilustrações, trilhas sonoras clássicas e até mesmo animações que aparecem entre o começo e o final de cada um dos jogos acrescentando um elemento extra de história à sinopse de cada um deles, que nem de longe traz as nuances e complexidades que passam a ganhar terreno a partir de Sonic Adventure na era Dreamcast.

É possível também encontrar fuçando os menus os 6 curtas da divertida animação Sonic Mania Adventures lançada junto com o já consolidado Sonic Mania, todavia, um detalhe que infelizmente segue mantido mesmo com a DLC (especialmente para fãs mais antigos…) é a alteração de trilha sonora no jogo Sonic 3, por conta da ausência de acordo entre a Sega e os detentores dos direitos de inúmeras músicas presentes na primeira versão do game, que há alguns anos atrás chegou a ganhar alguns holofotes na mídia especializada graças ao descobrimento da participação de ninguém mais ninguém menos que o astro do pop Michael Jackson nas composições.

Será preciso correr mais rápido?

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É importante levar em conta que ao se avaliar uma coletânea de jogos, muitas vezes pode não haver exatamente o que dizer com detalhes sobre todos os jogos contidos nela, especialmente de uma franquia consolidada como Sonic, cujos produtos da linha principal já estão cristalizados na história da mídia videogames como um todo. Logo, as atenções dos consumidores e daqueles que muitas vezes analisam criticamente o material reempacotado por vezes pode se voltar a como foi o tratamento para uma publicadora ou desenvolvedora revender e lucrar com suas antigas produções.

Embora no geral não haja talvez uma melhor porta de entrada para jogar os jogos de Sonic do que começar por aqueles que o tornaram conhecido na indústria de jogos eletrônicos, a escolha dos demais jogos acrescentados à DLC Sonic Origins Plus nem de longe se mostrou um acerto. A ausência do spin-off Knuckles’s Chaotix e das versões de Master System dos dois primeiros jogos do borrão azul foram sentidas por fãs mais antigos sendo essas últimas deixadas de lado em detrimento das versões para o portátil Game Gear por o que alguns apontaram como aparente “preguiça” da Sega em portá-las, uma vez que tais versões chegaram a poder ser acessadas pelo serviço Virtual Console de portáteis como o 3DS da Nintendo. Só que curiosamente os dois primeiros jogos de Master System já teriam passado pelo mesmo serviço através do Wii anos atrás o que nos leva a questionar o porquê da Sega ter simplesmente esquecido de tais ports para a coletânea e do jogo spin-off que apresentou ao público o trio Chaotix composto por Vector, Charmy e Espio, que ainda é querido por uma parcela da fanbase até hoje.

Outros erros grotescos de estratégia por parte da SEGA foram também os de não só retirar o acesso aos jogos clássicos de Sonic por outras plataformas digitais próximos do lançamento da coletânea em 2022 como também de encarecer e dificultar o acesso aos demais jogos do personagem em pleno momento que o filme nos cinemas estava levando o público ao interesse por consumir mais produtos da franquia. Esse último mencionado não chega a ter uma relação direta com o lançamento de Sonic Origins mas com certeza reforçou ainda mais uma opinião negativa do público sobre a desenvolvedora, o levando a esperar ser bastante surpreendido com a qualidade da coleção de jogos para quem sabe retirar suas críticas (ou até xingamentos) sobre as condutas que a Sega vinha tomando. Porém, não dá pra dizer que a surpresa foi lá das mais positivas, visto que a empresa nipônica realmente poderia ter lançado tudo que lançou de uma vez e não separar conteúdos que não chegaram a fazer tanta diferença no produto final que hoje o público tem em mãos ou ainda pode estar em vias de ter acesso.

Coletâneas de jogos não são exatamente uma novidade, mas já faz alguns anos que as desenvolvedoras de jogos tem tentado explorar financeiramente com mais frequência o interesse dos fãs por jogos retrô cujo acesso tem se dado principalmente pela emulação, e particularmente eu diria que até demorou para os empresários olharem um pouco mais para esse filão e começarem a perceber possibilidades de lucro com produtos que eles mal teriam o que mexer para revendê-los seja em lojas físicas ou digitais. No entanto, não é só limitar outras vias de acesso (principalmente lícitas) e acrescentar um ou outro mero detalhe e achar que o consumidor vai simplesmente aceitar de mão beijada coisa velha como se fosse um produto novo. Falta um pouco mais de observação e talvez até de agilidade em tal atenção por parte das empresas sobre o mínimo que o público espera para “tirar o escorpião do bolso” e adquirir de cara uma coleção de jogos clássicos de uma IP consolidada, seja esse público um entusiasta fiel da IP ou mesmo “marinheiros de primeira viagem”.

Veredito

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Poder jogar com a Amy em jogos onde originalmente a personagem não participou pode ser uma experiência bacaninha, revisitar ou mesmo descobrir jogos como o spin-off estrelado exclusivamente pelo Tails é interessante, as animações contidas na coletânea podem ser maravilhosas no geral, mas o investimento financeiro total para tais experiências não está lá entre os fatores mais convidativos.

Se você é (ou se tornou) bastante fã de Sonic e sua turma, alternativas para consumir bons materiais com o personagem que vão além dos jogos não tem faltado, mas se você deseja em algum momento ir direto às origens do personagem, pode ser interessante adquirir a coletânea a valores promocionais.

Os erros da Sega podem ter sido no geral crassos para uma empresa que deseja revender produtos antigos como se fosse algo novo e espera-se que não sejam repetidos por ela ou por outras desenvolvedoras no futuro, mas o brilhantismo dos principais jogos clássicos do ouriço ainda tem sim seu valor, e merecem sim uma conferida ou mesmo uma revisitada em qualquer oportunidade propícia a toda pessoa que aprecia bons jogos de plataforma ou a história dos jogos eletrônicos.

Sonic Origins Plus está disponível para as plataformas Playstation 4 e 5, Xbox Series S/X, Nintendo Switch e PC (via Steam).

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*