Análise: Hysteria! | O medo e o caos andam juntos

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Hysteria!, sem dúvidas, é uma das séries mais interessantes que surgiu em 2024. A produção mergulha na vibe década de 1980, pegando detalhes da época e trazendo para a atualidade de um jeito muito inteligente e divertido. Ela é uma original da plataforma Peacock, também sendo exibida no canal estadunidense USA Network, enquanto que aqui no Brasil a produção chegou pela Max.

A trama se passa no último ano deste período: 1989, e nos apresenta uma banda de heavy metal formada por adolescentes excluídos do ensino médio. O que eles querem? Obviamente, que seu grupo fique famoso e conquiste uma legião de fãs. Porém, como jovens jogados ao relento social conseguirão esta tamanha façanha?

Esta premissa nos faz acreditar que veremos uma comédia teen de verão, igual a várias outras e, para ser sincero, o primeiro episódio passa justamente essa impressão de ser algo cômico, porém, as aparências enganam. Não que Hysteria! seja algo pesado, mas também não é essa sitcom toda, haverão momentos de tensão – com algum sustinho aqui e ali.

Peacock / Divulgação

E de onde virá esta tensão? Bem, nos anos 1980 o que mais ocorria eram medos fora da caixinha e julgamentos alheios, desde a causa de alguma doença até o comportamento dos adolescentes mais fora do padrão da época. Não que isso não permaneça ocorrendo atualmente, mas era pior.

Assim, como vimos no sucesso Stranger Things, com a população de Hawkins simplesmente enlouquecendo com suas pobres crianças jogando Dungeons & Dragons e as acusando de terem pacto com o tinhoso, aqui nesta série veremos o mesmo ocorrer. Todavia, não será com um jogo e sim envolvendo o gênero musical preferido do diabo, segundo sua tia evangélica: o rock.

Sendo esta uma cidade pequena, não poderia faltar ela: a religiosa da comunidade, chamada Tracy Whitehead (Anna Camp), que busca alertar a população do mal que se esconde nas músicas e até em desenhos animados como Thundercats e Os Smurfs – duas animações citadas pela dita cuja. No entanto, como é de esperar, ninguém a leva muito a sério.

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Mas deixe-me voltar pro topo para falarmos da banda formada por Dylan (Emjay Anthony); Jordy (Chiara Aurelia) e Spud (Kezii Curtis). Como dito acima, o sonho destes jovens é que sua banda adquira sucesso mas isso parece algo distante, tendo em vista que são ignorados por todos os alunos. No entanto, a situação muda após um crime ocorrer na cidade e um dos alunos ser encontrado sem vida, com tudo indicando que ele foi alvo de uma seita. Pronto! De alguma forma, os adolescentes são conectados a isso e – mesmo sendo inocentes – resolvem se aproveitar da fama conquistada.

Porém, a confusão seguirá e atingirá principalmente a família de Dylan, com foco em sua mãe Linda Campbell (Julie Bowen). Algo que não deveria existir passa a se fazer presente no cotidiano desta pequena cidade no interior dos EUA, causando histeria e medo. O medo causa o caos, conduzindo pessoas a escolhas equivocadas além de atitudes perigosas e, para piorar, acaba espalhando este sentimento para outras pessoas, tal qual um vírus.

Quando eu disse que, mesmo se passando nos anos 80 esta série é atual; era disso que estava falando: medo de algo que não existe. É algo bastante contemporâneo, quantas pessoas reclamam ou temem algo que – de fato – não existem? Em nosso meio nerd, por exemplo, quantos não enxergam um fantasma de ‘lacração’ que não se faz presente na realidade? No atual cenário político mundial isso é ainda mais gritante.

O medo faz com que tomemos decisões erradas e todo um caos acaba sendo disseminado, com pessoas cegando-se para a verdade e para fontes confiáveis e indo em direção ao falso e questionável e é isso que vemos na série. Tracy não era levada a sério, porém, ela vai galgando um certo prestígio que torna-se preocupante.

Peacock / Divulgação

Alguém como ela e com os ideias que propaga, assumindo posição de destaque, NUNCA é algo bom. E, assim como vemos ocorrendo no mundo, toda a boa vontade e amor cristão desta senhora esconde coisas terríveis e a série escancara sua hipocrisia de diversas formas. Sua perseguição aos jovens membros da banda e a busca incessante pelo causador de um mal que, talvez, nem exista realmente chega a incomodar.

Porém, devo contar algo desagradável: em fevereiro a Peacock cancelou a série, após uma única temporada, o que causou espanto, diante da boa recepção da mesma entre o público e a crítica. Mas talvez as entrelinhas de sua narrativa tenham incomodado alguém. De toda forma, seu final não deixa pontas soltas gritantes e o problema da temporada foi resolvido, com isso, é seguro sim assisti-la. Enxergue-a como uma minissérie.

Peacock / Divulgação

Há muito mais para descobrir em Hysteria! que não foi relatado aqui. Recomendo fortemente que assistam.

Nota: 10/10.

Hysteria! está disponível na Max, com as opções de dublagem e áudio original com legendas em português.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*