Sato Company: entrevista com Nelson Sato

Divulgação. © Sato Company

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Apesar da crise atual, o modesto mercado de animes no Brasil ainda continua dando sinais de vida, com altos e baixos. Em relação a mídia física (DVD e Blu-Ray) os lançamentos são escassos, mas vez ou outra não deixamos de ser surpreendidos, ainda que não seja algo que os fãs esperam.

Na TV, a animação japonesa praticamente “sumiu” do mapa, salvo as exceções de Yo-Kai Watch, que possui um grande plano de marketing por trás, Pokémon e Digimon Fusion, ambos do Cartoon Network, além do sincero investimento da PlayTV, que apesar das reclamações do público ainda é o único canal disposto a dar uma chance a este tipo de conteúdo.

No streaming os animes parecem ter ganho uma sobrevida, encontrando um lugar reservado, e é cada vez mais comum termos mais e mais títulos disponíveis, e graças a isso, é que algumas empresas perceberam que é possível sim, ainda trabalhar com animação japonesa no Brasil. Uma delas é a Sato Company, que depois de trazer Doraemon, não parou mais e nos brindou com uma infinidade de títulos e tokusatsus inéditos, algo que ninguém esperava que acontecesse. A Sato sabe do apelo e potencial que estes demandam, e segue investindo pesado neles.

Na semana passada, estivemos presentes na palestra da distribuidora realizada durante a 22ª Fest Comix, onde tivemos a oportunidade de saber quais serão os próximos passos da Sato Company.  No fim do evento, conversamos com seu presidente, o senhor Nelson Sato, que esclareceu diversos pontos a respeito dos títulos que sua empresa possui em mãos, e que muitos de vocês sempre nos perguntam. Entre os temas abordados, estão dublagem, algo que sempre gera discussões polêmicas entre os fãs, estreias, planos futuros e muito mais.

Durante a entrevista o Sr. Sato mostrou-se firme com relação a aquisição de novos títulos e dublagem dos mesmos. Destacou o interesse da empresa em sempre fazer a localização dos animes, mas cita a pirataria como o grande inimigo da continuidade dos trabalhos. O executivo apontou que, diante do custo elevado da dublagem e sem o auxilio do home vídeo, caso a pirataria continue avançando, o mercado de animes dublados pode se tornar insustentável.

Nelson Sato destacou as principais empreitadas que a companhia fará no decorrer dos próximos meses aqui no Brasil, entre elas o lançamento de um serviço próprio de streaming que englobará não apenas os produtos licenciados pela empresa como também outras exclusivas à plataforma. A Sato pretende trazer opções com dublagem e legendas, atendendo desta maneira demandas locais e os pedidos recebidos.

A novidade também deverá ganhar versões para aplicativos Android e iOS, e mais adiante, os consoles, dependendo claro de seu pontapé inicial na internet. O lançamento deve acontecer dentro de 1 mês, possivelmente com maiores informações ao longo do Anime Friends, em São Paulo.

Divulgação. © Studio Gonzo

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Ao que se refere a dublagem, Nelson enfatiza que sempre existe uma vistoria dos comentários e pedidos feito por fãs nas redes sociais, mas que nem sempre é possível devido aos altos custos. “O minuto de dublagem custa, em média, R$ 150. Multiplicando por cerca de 30 minutos, cada episódios, terá o custo final de R$ 4.500, e multiplicando este valor por, geralmente, 52 episódios, teremos o custo de mais de 200 mil reais de investimento, por série, só em dublagem.”

O executivo esclarece que no passado, os custos de dublagem eram mais viáveis por que os produtos eram colocados também nas locadoras, o que custeava todo o processo, e que à pirataria acabou por defasar este meio. O lançamento de seu serviço de streaming próprio tende a tornar tudo mais simplificado e tornar os investimentos no setor mais abrangentes; “mesmo com as séries sendo colocadas no catálogo da Netflix, o que ela paga não cobre os custos dos direitos autorais.

Sobre Tokusatsu, Nelson confirma que a companhia readquiriu os direitos de séries como Jaspion, Changeman, Flashman, Jiban, Jiraya, National Kid, mas que infelizmente então sofrendo problemas para entrar em serviços como Netflix e Crunchyroll, sendo este um motivo a mais da criação do próprio streaming, para atender esta faixa do público que foi deixada de lado. Finalizando este trecho destaca que existe interesse em Kamen Rider, no entanto, os americanos também possuem, e por este motivo os japoneses interromperam as negociações com a Sato; “quando os americanos adquirem os direitos, as séries não podem ser mais distribuídas diretamente do Japão.”

Apesar do foco ser no streaming, o mercado de home video também será alvo da Sato no país, e que no momento vem sendo estudado a tiragem de alguns títulos em embalagens especiais, que antes de mais nada deverá ser analisado todo o processo de recepção. Dependendo da receptividade de sua plataforma, a ideia é investir em lançamentos em DVD. “A empresa vive para pelo menos pagar os custos, se não há retorno, ficamos no prejuízo. Algumas vezes se acerta, outras não, o problema mesmo é a pirataria.

Nelson diz saber das dificuldades em se adquirir produtos originais no Brasil, consequência dos altos impostos tributários, porém lembra que se não houver valorização, a indústria virá a se deteriorar. Ele lembra que se não houver investimento, não existirão novas criações, “não haverá criador de obras, produção por estúdios, nada, acaba-se a indústria; todos os envolvidos precisam de remuneração..” e completa “para o DVD torna-se mais difícil, é preciso verificar cada ação cuidadosamente. Tiragens só são realizadas a partir de mil unidades, sendo preciso administrar o estoque de produção das que são e não comercializadas.

Finalizando, o Sr. Sato diz estar sendo estudada a possibilidade da realização de um Festival de Anime e outro de live-actions japoneses em cinemas selecionados pelo país.

Após o fim da palestra, o ANMTV teve a honra de entrevistar o executivo em particular, qual o questionamos em relação a pontos importantes e de curiosidade como negociações com canais de TV, novos animes, dublagem, entre outros. Confira abaixo a entrevista cedida ao nosso colaborador Wellington “Puppi”:

ANMTV: Vocês têm ideia da alta demanda e pedidos do público pela dublagem dos títulos inéditos de anime e Tokusatsu?

Sr. Sato: A gente acompanha as nossas mídias sociais, realmente o pessoal pede muito dublagem, infelizmente não consigo atender a todos os pedidos, devido ao alto custo. Hoje dublar custa R$ 150,00 o minuto. Se for pensar num filme de 90 minutos gasta-se 13 / 14 mil reais. O dinheiro é muito alto e as vezes eu não consigo ter o retorno desse investimento, mas na medida do possível, realmente a gente vai dublar. Com o advento do novo serviço que a gente vai lançar, a ideia é que tudo saia, pelo menos, dublado.

 

ANMTV: Existe a possibilidade de trazer animes para o público mais velho?

Sr. Sato: Bayonetta já é para essa faixa. A ideia é realmente fazer um mix e atender a todos os nichos do mercado de anime. Vamos trazer desenhos assim também. Bayonetta possui dublagem.

 

ANMTV: Haveria a possibilidade de uma futura redublagem do anime Blue Dragon para um possível relançamento?

Sr. Sato: Blue Dragon, nesta primeira etapa, não está no meu radar. Se a gente colocar no nosso serviço (de streaming) ele será redublado.

Questionado sobre os direitos de licenciamento de BD, o Sr. Nelson informou que já perdeu os direitos e que a série já voltou pra VIZ Media. Quanto a dublagem, foi a distribuidora americana que entregou o anime já dublado. Períodos de licenciamento variam entre 2 a 5 anos, depende da negociação.

 

ANMTV: A Netflix colocou recentemente em seu catálogo um OVA de High School of the dead. Os fãs pensavam que seria a série e não o especial. A Sato não possui os direitos do anime em si?

Sr. Sato: High School nós vamos colocar a série e o OVA. A série será legendada.

 

ANMTV: Ainda sobre esse tema, sabemos que Diabolik Lovers foi dublado em um estúdio de São Paulo. Existe mais algum anime licenciado por vocês que também vai ganhar versão brasileira ou apenas esse?

Sr. Sato: Vão ter mais animes sim, nós estamos selecionando outros títulos para serem dublados.

Diabolik Lovers está sendo dublado em português.

Divulgação.

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ANMTV: É perceptível que um dos “xodós” da Sato Company é o gato azul Doraemon. Tivemos os primeiros episódios do anime disponibilizados pela Netflix. Quando teremos uma nova leva de inéditos? O senhor planeja lançar os filmes por aqui?

Sr. Sato: O planejamento é trazer o filme Standy By Me para os cinemas e a ideia é trazer mais episódios dublados no nosso serviço (de streaming).

ANMTV: Sobre os tokusatsus, a Sato adquiriu alguns títulos conhecidos dos fãs como changeman, flashman e etc, que devem chegar em breve ao streaming. Tais títulos estarão com a dublagem clássica?

Sr. Sato: Vão estar com a dublagem clássica. (O Sr. Sato frisa que os direitos de dublagem destas séries foram readquiridos pela companhia).

Divulgação

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ANMTV: E no caso de Garo? Este será apresentado apenas com legendas?

Sr. Sato: Garo terá dublagem e legendas disponíveis.

 

ANMTV: Atualmente a Sato negocia alguma animação japonesa com canais de TV ou esse nicho só tem espaço no streaming, que está dominando cada vez mais o cenário?

Sr. Sato: A maior parte está no streaming, mas estamos negociando com TVs pagas. Mas ainda é muito cedo pra falar.

 

ANMTV: Alguns animes licenciados por vocês também estão disponíveis para o público hispânico, como foi o caso do filme de Bayoneta. Poderia contar um pouco sobre como essa atuação funciona?

Sr. Sato: A Sato agrega América Latina. Nós dublamos tanto em espanhol, quanto em português. Quando há decisão de fazer dublagem, nós dublamos e legendamos nas duas línguas. A maioria dos animes estarão em toda a América Latina.

 

ANMTV: Para a Sato, a animação japonesa tem futuro no Brasil? É válido trabalhar com esse gênero, apesar da pirataria?

Sr. Sato: Tem futuro, mas é um mercado realmente difícil. Não só pelo lado de consumo, mas também pelo lado de aquisição. As empresas japonesas são mais lentas em decisões e aqui no Brasil o grande problema é a pirataria. Estamos apostando na fidelidade do público. Se a pirataria continuar forte e a gente não conseguir pagar nossos custos…. vai acabando, matando esta possibilidade de trazer com qualidade, legalizado um material.

 

ANMTV: O público sempre pede as distribuidoras que tragam novos animes, a Sato também recebe muitos pedidos do tipo?

Sr. Sato: Ahh Sempre! Recebemos e nós temos de filtrar o que a gente percebe que possa ser mais potencial no mercado.

 

ANMTV: Qual a faixa etária de quem faz pedidos de novas séries?

Sr. Sato: Tem um pouco de tudo. Muito pessoal antigo, mas muita gente jovem também pede. Houve uma ótima renovação de público graças à exibição de Naruto na TV aberta.

 

ANMTV: Teremos a chance de ver novos títulos de anime no futuro pela Sato?

Sr. Sato: Sempre. Este é o projeto.