Review – The Umbrella Academy (1ª Temporada)

Netflix / Divulgação

Ao anunciar a adaptação da HQ ganhadora do Eisner, The Umbrella Academy, a Netflix deu a primeira prévia de como será o futuro das adaptações de quadrinhos pelo serviço de streaming que comprou a Millarworld. Afinal, a série baseada na história escrita pelo vocalista do My Chemical Romance, Gerard Way, e ilustrada pelo brasileiro, Gabriel Bá, é a primeira série de herói original da plataforma fora de sua parceria com a Marvel, agora encerrada.

Na história, em outubro de 1989, quarenta e três mulheres tiveram filhos sendo que nenhuma delas estava grávida no começo do dia. Sete dessas crianças foram adotadas pelo excêntrico e misterioso bilionário, Reginald Hargreeves. Todos, exceto Vanya, a número 7 (Ellen Page), tinham habilidades especiais, então ele as treinou e formou uma equipe, a Umbrella Academy. A equipe acabou com o desaparecimento do Número Cinco e a morte de Ben, o Número 6, e com os outros irmãos seguindo caminhos diferentes na vida adulta, lidando com suas peculiaridades e traumas. Até que com a morte do pai, eles se reúnem novamente e o Cinco, que na verdade estava preso no futuro, volta com seu corpo de 13 anos, anunciando que o Apocalipse acontecerá em uma semana, e este será pano de fundo da história.

A série dispensa introduções clichês sobre um mundo de super-heróis, e é muito mais focada nos traumas da infância e nas complicações de relações familiares. Os protagonistas apresentam personalidades e habilidades bem excêntricas e absurdas, mas isso não impede a produção trazer momentos emocionantes e tratar de temas sérios, como abuso de substâncias, divórcio, solidão etc. Todas essas excentricidades, traumas e relações foram bem representadas pelo elenco, onde todos tem um bom desempenho. Mas os destaques são Robert Sheehan como Klaus, o Número 4 e Aidan Gallagher como Cinco, onde apresenta uma atuação promissora ao incorporar muito bem um homem de 58 anos no corpo de uma criança de 13.

Um mérito dos roteiristas foi saber aproveitar a peculiaridade de cada um e integrá-las em recursos narrativos, um exemplo forte disso foi o excelente episódio 6. Os efeitos especiais estão muito bons, principalmente se comparado a outras série de heróis, e a fotofrafia ao estilo Wes Anderson se destaca em alguns momentos. Mas o marco das cenas de ação em The Umbrella Academy é a trilha sonora que as acompanham. Além do tema original composto por Jeff Russo ser bom, as cenas de luta são acompanhadas por músicas de sucesso de bandas como Queen e The Doors, e outras músicas de sucesso embalam cenas memoráveis, como “Happy Together”, “Istambul (Not Constatinople)”, “Dancing In The Moonlight”, “I Think We’re Alone Now”, “Exit Music (For a Film)”, “Sinnerman” etc. Um destaque para a versão que “Hazy Shade of Winter” ganhou por Gerard Way e Ray Toro, que foi usada na série. Por algumas das canções apresentadas já serem excessivamente usadas no cinema e na TV, certas escolhas musicais não causaram tanto impacto, mas as que se encaixaram, renderam ótimas cenas.

Há algumas mudanças em relação a obra original. Exemplos delas são mudanças na etnia, que é justificada visto que as crianças especiais nasceram em diferentes lugares do mundo, e em certas características e níveis dos poderes de alguns personagens. Mas as habilidades seguem parecidas com as originais e são muito bem desenvolvidas abordando a má exploração delas no passado, traumas relacionados a elas e suas consequências atuais e evolução. Isso foi muito forte nos arcos Allison, a Número 3 (Emmy Raver-Lampman) e Klaus, e assim como a primeira alteração citada, se encaixou muito bem na trama. São alterações que, de certa forma, completam os quadrinhos.

Na adaptação, coadjuvantes possuem mais ligações especiais com os protagonistas (como a Mãe, por exemplo) e ganham destaque, que é o caso de Hazel (Cameron Britton) e Cha-Cha (Mary J. Blige), cujo a ótima dinâmica gera um divertido arco, que foi muito bem concluído. Inclusive, a corporação do tempo para qual Cinco trabalhou, que também ganhou mais destaque, rendeu momentos excêntricos memoráveis. Além disso, a adaptação mistura as tramas dos dois primeiros volumes da HQ, Suíte do Apocalipse e Dallas, restando apenas o recente Hotel Oblivion para adaptar. Porém, pelos acontecimentos do final da temporada, a série deve tomar alguns rumos diferentes.

Apesar dessas qualidades, a série possui alguns problemas, como um vilão fraco e com motivações que foram desnecessariamente explícitas, alguns acontecimentos serem inseridos ou resolvidos de maneira muito fácil e algumas explicações excessivas (principalmente em cenas envolvendo Pogo). Todos esses problemas que por vezes diminuía o envolvimento com o tom excêntrico e surreal da série, levaram a um ponto que foi forte na história, a previsibilidade na trama principal. Não chega a incomodar, mas definitivamente era algo com potencial para não ocorrer.

Assim, com The Umbrella Academy, a Netflix entrega uma série de herói com identidade e originalidade, e prova seu potencial em adaptações de quadrinhos, agora sem a Marvel como parceira. Apesar de concluir alguns aspectos que estavam sendo desenvolvidos ao longo de seus 10 episódios, a série termina apresentando novas possibilidades e mistérios e com um grande cliffhanger. Mesmo com alguns problemas, a adaptação consegue capturar a essência da HQ e apresenta elementos bons o suficiente para ter um futuro promissor.