Análise | WIXOSS Diva(A)Live | O sabor de WIXOSS Diva(A)Live

JCStaff / Divulgação

Um dos lançamentos do ano de 2021, WIXOSS Diva(A)Live, surge para a alegria dos fãs da já conhecida franquia WIXOSS, que desta vez, traz novas histórias e protagonistas a serem acompanhadas.

Na sinopse, somos apresentados ao jogo de cartas Wixoss, que tem como cenário principal de suas partidas o espaço virtual online chamado “Wixossland”. Nele, os jogadores podem ser seus próprios avatares e a partir daí, desbravar as opções que o jogo oferece. Um dos formatos mais populares no game é o “Diva Battle”, aonde três jogadores se unem para competir contra outros grupos até chegarem ao topo do ranking e conquistarem o maior número de SP’s (Selector Point) durante as batalhas. Algumas unidades são temáticas como as de Idols, enquanto outras têm temas como as de DJs e bandas.

WIXOSS Diva(A)Live até parte de uma premissa interessante para tentar cativar, além do próprio público da franquia Wixoss, a audiência que se interessa por temas já consolidados no universo dos animes, como as batalhas de cartas, o elementos dos gênero Shoujo e  Isekai. Porém, a aparente receita do sucesso, pareceu passar um pouco longe da obra dirigida por Masato Matsune (Chaos Dragon e Jikan no Shihaisha) e deu ao anime a impressão de algo “morno”, diante de tudo o que apresenta em seus 12 episódios.

O diretor, que já esteve a frente de outras produções com desempenhos medianos, repete em Wixoss Diva(A)Live um resultado considerado medíocre e que, se para um fã da franquia, pode ser visto como a pior das temporadas apresentadas até hoje, para um espectador que caiu de paraquedas, é uma história que está repleta de incoerências em seu roteiro e elementos pouco aproveitados ou mesmo sem nenhuma explicação durante a trama.

Roteiro

De forma resumida e sem muitos spoilers, a primeira temporada de Divas(A)Live pode ser dividida em quatro momentos: a formação do grupo protagonista; o arco de Akino; o arco de Rei e o arco de Hirana. Acrescente ainda, um episódio com todas as equipes do anime, que não necessariamente é importante à narrativa principal, mas que agrega a relação de suas protagonistas com as outras equipes coadjuvantes.

Seguindo esta linha narrativa, além de conhecer as protagonistas no princípio da trama, também somos apresentados ao universo de Wixoss e suas batalhas de divas em grupo — ou pelo menos é o que se espera que ocorra, uma vez que tudo é uma novidade para o espectador — no entanto, a imersão do público não só no jogo, mas na realidade virtual que o envolve, é um dos primeiros pontos a sofrer com a chuva de falhas presentes no roteiro. E a educada espera por explicações a questões do tipo: “quantas cartas são usadas no jogo?”, “qual é a ordem de ataque dos jogadores?”, “como é medido o nível de dano?” “o que tem no resto de Wixossland?” e tantas outras perguntas, acabam se transformando em uma eterna espera que não é respondida.

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Além das dinâmicas de batalha, outros furos como skins que surgem do nada (e que seriam presentes, mas que não se explica muito bem como foram dados), nomes de grupos que surgem antes mesmo de serem criados por seus integrantes e vários termos, ataques e condições de uso no jogo com explicações vagas ou mesmo nenhuma, são exemplos de falhas que acabaram sendo deixadas passar. Falhas estas, que além de comprometerem a qualidade do resultado final do anime, serão uma enorme mancha no currículo de Tsuyoshi Tamai, que assina a supervisão dos roteiros.

Personagens

Mas se os erros em relação a falta de exploração do universo de Wixoss e na continuidade da narrativa, causaram uma primeira impressão negativa a Divas(A)Live, ao menos a construção de personagens pode ser um dos poucos elementos aos quais podemos ter um pouco de empatia.

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Isso porque, durante os arcos de cada protagonista, podemos conhecer um pouco mais de seus medos, inseguranças e traumas, que ajudam a dissipar a ideia de garotas bobas com motivações rasas — ainda que estas motivações sejam especificadas apenas quando próximas do último episódio. Inclusive, algumas das cenas mais dramáticas e que possuem um peso maior no arco narrativo da história, podem ser vistas nos episódios dedicados a Akino e Hirana. Rei também tem seu valor durante a obra, porém seu arco, além de previsível, serve mais como um complemento de sua personalidade que acompanhamos ao longo do anime e apresentação de novos personagens.

Animação

No que diz respeito a animação, o trabalho exercido pela JCStaff em conjunto com a NC Empire para o conceito visual do anime não deixou a desejar. Sendo este, na verdade, uma razão a mais para lamentar o fracasso do roteiro da equipe responsável, uma vez que, ficamos imaginando como seria ver mais de Wixossland, suas outras batalhas temáticas, a construção de avatares, a partir do bom desempenho apresentado na parceria.

Mas falando do que pode ser de fato analisado, é possível apreciar uma animação fluida entre seus quadros, com paletas de cores assertivas em cada momento único, como os tons amarelados de um entardecer durante momentos mais reflexivos, até o uso abusivo de cores vibrantes e paletas neon nos momentos mais enérgicos. Definitivamente o apelo visual da obra foi um dos elementos que passou longe de ser deixado de lado e WIXOSS Diva(A)Live aproveita até o último segundo para impactar seu espectador. Apesar de contar com uma composição visual de personagens um tanto quanto duvidosa para o anime, por parte do ilustrador Ui Shigure, o anime consegue se manter minimamente interessante fazendo uso, inclusive, de elementos em 3D durante alguns episódios e em seu encerramento, que por sinal, conta com o que parece ser uma técnica de rotoscopia, para dar mais vivacidade a movimentações de personagens durante sua performance.

Trilha sonora

A trilha sonora também é responsável, não só por carregar uma boa parte da identidade da animação, como também ajuda na tentativa de imersão do espectador na obra. O trabalho de Yoshinori Saito como o diretor de áudio e Maiko Iuchi, que retorna do anime anterior da franquia para compor as músicas, não decepciona e se adequa muito bem a dinâmica adotada na obra, de inserir um tema de encerramento para cada equipe que surge em um episódio e seguindo o estilo musical de cada grupo – Eu mesmo gostei bastante do som das Card Jockey. Já sua dublagem, consegue ser mediana, apresentando um destaque para Saya Fukuzumi, que entrega um ótimo trabalho nas cenas de comédia de Hirana.

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Conclusão

WIXOSS Diva(A)Live tinha tudo para ser considerado uma ótima aposta para 2021, e em alguns aspectos técnicos consegue realmente ser muito eficiente. Mas toda sua qualidade fica comprometida quando a promissora mistura de Yu-Gi-Oh com Sailor Moon e Sword Art Online acaba não sendo tão bem desenvolvida em sua história e deixando para trás, vários buracos em seu roteiro junto a outros pontos técnicos mal trabalhados. Uma pena para os fãs de anime que esperam encontrar uma doce aventura mas que, após o brilho das luzes coloridas, sentem apenas um sabor agridoce no final da experiência.

WIXOSS Diva(A)Live está atualmente disponível no Brasil pela Crunchyroll.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*