Marche #01: A volta de Lodoss War – A Dama de Pharis

Olá, leitores do ANMTV, comecemos pelos nossos cumprimentos: meu nome é Davi Junior e, há um bom tempo, sou um inveterado fã de animes, mangás, games, literatura, cinema e qualquer outra coisa que o limiar da criatividade humana é capaz de alcançar. Começo falando sobre Lodoss War – A Dama de Pharis, mangá publicado pela Panini Comics que recentemente voltou às bancas. Boa leitura!

Lodoss War – A Dama de Pharis: três anos de espera valeram a pena?

Que colecionador de mangá imaginaria que, após três anos sem novidades, teria a oportunidade de continuar a ler uma de suas coleções mais queridas? Não. Não estou falando de Hunter x Hunter, que a pouco tempo o autor voltou a escrever, mas de Lodoss War – A Dama de Pharis, mangá que a Panini Comics finalmente trouxe de volta após não dar mais sinal de vida desde 2008.

Um dia na ilha de Lodoss

Não é necessário ler muitas páginas para entender do que se trata Lodoss War. Uma terra inóspita, com um pé na Idade Média, cheia de monstros e seres fantásticos, que se degladiam e rendem bons espirros de nanquim durante toda a história. Mas engana-se quem pensa que a história se trata apenas de uma nova disputa entre o bem e o mal; o universo de Lodoss War é muito mais rico que uma simples guerra e, a cada nova obra que a franquia desenvolve, novas experiências são apresentadas ao leitor.

A série originalmente foi concebida por Ryo Mizuno (que escreve, ainda hoje, todas as histórias da franquia) para ser uma série de RPG seguindo as mesmas premissas do  famoso Dungeons & Dragons, no qual um grupo de aventureiros segue uma viagem rumo a um objetivo específico. O sucesso do jogo gerou diversas outras mídias para a franquia, como animes, jogos eletrônicos, livros e mangás, sempre rendendo bons resultados.

A ilha de Lodoss, onde se passa a história é um local amaldiçoado por sua história. Há muito tempo atrás, Lodoss era uma terra do continente de Alecrast, porém, após uma terrível batalha entre Pharis (Deus da Luz) e Falaris (Deus da Escuridão), a deus Kardis (Deusa da Destruição) amaldiçoou a terra. Para evitar que a maldição se alastrasse por todo o continente,  Marfa (Deusa da Criação) transformou Lodoss em uma ilha.

A história de A Dama de Pharis começa no ponto em que a maldição de Kardis começa a surtir efeito na ilha.

A Guerra dos Seis Heróis

Apesar de A Dama de Pharis ser a primeira história da franquia em ordem cronológica, esta não foi o primeiro contato do público com a ilha. O arco principal da história acontece no mangá A Bruxa Cinzenta, que conta a história do guerreiro Parn e da elfa Deedlit que, em viagem por Lodoss, combatem as maldições da ilha. Em diversos pontos da história (assim como em todos os outros arcos) há referências sobre a antiga Guerra dos Seis Heróis, evento que ocorreu há muito tempo na terra amaldiçoada que resultou na sobrevivência apenas de seis combatentes.

Por influenciar todos os arcos, todo o público sempre aguardou com muita curiosidade uma história que contasse com detalhes os acontecimentos dessa guerra. A resposta por esse clamor dos fãs veio justamente com o arco A Dama de Pharis, que foi transformada em mangá em 2001 pelo mangaká Akihiro Yamada e publicada pela editora Kadokawa Shoten.

O formato do mangá, originalmente, já foi diferenciado se comparado ao dos outros mangás outrora adaptados. Logo em seu primeiro tankobon já ganhou uma versão de luxo e, diferente do que acontece com os mangás, foi publicado com o sentido de leitura ocidental (da esquerda para a direita).

A história começa quando o barão de um pequeno vilarejo na região de Moss (sudoeste de Lodoss) sedento de ganância e poder realiza um feitiço para libertar um demônio responsável por trazer a ilha todos os monstros e demônios que previu o deus Kardis quando lançou a maldição em Lodoss.

Uma vez liberto, desgraças começam a acontecer todas as sete regiões de Lodoss, dando origem a combatentes destes seres. Flaus, uma monja-gerreira do templo do deus Pharis, está lutando contra seres nefastos quando é salva por Beld e Wort, um guerreiro e mago mercenários que salvam vilarejos em troca de dinheiro.

Após os três se envolverem com o roubo das armas sagradas de Pharis junto com o cavaleiro paladino Fahn, o rei de Pharis vê a oportunidade ideal de, junto com os reis das outras regiões, armar um exército capaz de vencer o demônio que causa todas as desgraças da ilha.

Aos poucos, os grandes nomes vão aparecendo e juntam-se a Flaus, Bel, Wort e Fahn na sua luta contra o demônio, a sacerdotisa Neece, o anão Fleve e uma misteriosa feiticeira mascarada.

Uma história para ficar na história

Não só porque o leitor acaba se surpreendendo com personagens que já conhecia dos outros arcos, não só pelo concept art dos personagens encher os olhos, mas A Dama de Pharis, mesmo se lida por um leitor casual, acaba conquistando-o logo nas primeiras páginas.

Quando se dá conta, o leitor se depara com diversos dramas que instigam o leitor a querer chegar ao final da história para entender como tudo se desenrolará. Ryo Mizuno é um autor que se especializou em captar vários desejos de diversos públicos e ainda condensá-los em uma única história na mais perfeita sintonia.

Se a existência de sete grandes personagens pressupõe a morte de um deles para um leitor de primeira viagem, o leitor veterano dos outros mangás se pergunta todo o tempo “por que raios esse personagem morrerá?” ou “será que ele morrerá mesmo? Não estariam todas os meus conceitos do Lodoss prestes a serem derrubados no fim da história?“. Independente de quem leia, o mangá gera expectativas à medida em que o leitor se cativa com a história e o passado de cada um dos personagens.

Flaus ganha uma papel especial dentro da história. A iniciativa e a força que ela dispõe durante toda a história são frutos de uma superação de obstáculos herdadas do estilo shonen somado com os sonhos e inspirações do estilo shojo, tranformando-a na protagonista ideal para a história.

Mesmo o traço mais agressivo de Akihiro Yamada, basicamente focado em atrair leitores mais adultos, que num primeiro momento parece não combinar com o estilo fantástico do enredo, só tem a acrescentar à história. Quanto mais similar às feições humanas, o leitor acaba captando a dramaticidade e o perigo enfrentado pelos personagens que, ainda como humanos, são muito menos resistentes que os dragões, arquidemônios e outras criaturas mágicas por eles enfrentados.

Enquanto isso, no Brasil…

A chegada de Lodoss War – A Dama de Pharis ao Brasil em 2008 não poderia ter sido mais comemorada: além de ser a história mais aguardada pelos fãs, foi a primeira investida da editora Panini no formato de luxo para as  revistas da linha Planet Manga.

E a editora fez bonito: o primeiro volume do mangá trouxe o miolo em páginas offset, dando maior nitidez para a impressão (também excelente, sem nenhuma variação de tonalidade) e maior durabilidade à obra. A capa foi cartonada, sem verniz, com abas que traziam o editorial e informações das outras obras lançadas pela Panini.

A tradução ficou muito boa. Durante toda a obra, versos de bardos (pessoa encarregada de transmitir as histórias, as lendas e poemas de forma oral, cantando a história de seus povos em poemas) são constatemente recitados para dar o tom de uma história de grande valor medieval. O problema desses versos quando a obra é traduzida é que eles continuem fiéis ao original e confortáveis à quem lê. A Panini conseguiu realizar a tradução maneirando as rimas e a história sem que uma não sobrepujasse a outra. Há alguns problemas de escansão e ritmo, mas, visto que a história não é afetada por estas, essa falta é totalmente irrelevante para a qualidade da obra.

Pois bem, o volume 1 fez bonito; até o preço foi muito atrativo: R$15,90 por 300 páginas m preto e branco. O preço fica ainda melhor ao considerarmos que o primeiro Harry Potter em seu lançamento custava R$22,00 com uma qualidade praticamente igual (mas sem figuras) ao de Lodoss War, que tem uma estimativa de venda bem mais baixa que a do bruxinho inglês. Agora bastava a editora publicar o volume 2 e a Panini seria agraciada pelas bençãos dos consumidores por toda a eternidade, certo? Errado!

Por problemas não divulgados, a editora não lançou o volume 2 de A Dama de Pharis dois meses após o volume 1, como havia prometido. Junto com o possível cancelamento do título, outra obra, Seton, publicada nos mesmos moldes de A Dama de Pharis, também não tivera seu último volume publicado. O mais estranho é que, para ambas as obras, apenas restava um volume para completar a coleção, o que não justificaria, por exemplo, um cancelamento por baixas vendas.

A falta de informações a respeito do título e sua retirada do site da editora provocou grande desagrado aos leitores e uma possível descrença quanto a novos títulos em formatos de luxo na linha de mangás da editora.

Quando todos os leitores já haviam se revoltado, xingado no Twitter e lançados mais maldições à editora do que o próprio deus Kadis, surgiu uma luz no fim do túnel. Após três anos do lançamento do volume 1 de A Dama de Pharis, a Panini Comics anunciou o volume 2 para o fim de julho de 2011. Após um novo atraso (e mais desconfianças dos consumidores), o título finalmente chegou às bancas em setembro e os leitores puderam conferir o fim da história de Flaus e A Lenda dos Seis Heróis.

O novo formato do mangá, mesmo que muito parecido com o volume 1, é nítido. Aliás, o volume 2 é tão parecido com os títulos da NewPop Editora que até o cheiro do papel é o mesmo.

O preço, R$15,90, continuou o mesmo e a qualidade do papel, da tinta de impressão e da tradução seguiram o excelente formato do volume 1, porém o volume 2 apresentou algumas diferenças em relação ao seu antecessor. As abas da capa foram retiradas, deixando o editorial e as informações dos outros títulos na segunda capa da publicação. A capa continuou cartonada, mas agora toda envernizada, o que dá mais durabilidade e facilidade para a conservação.

Provavelmente essas mudanças se deram devido à troca de gráfica do título – enquanto o volume 1 foi produzido na Gráfica Ediouro, o volume 2 foi produzido na Gráfica Ideal–  e, é claro, pelas condições de mercado atuais, em que o papel está cada vez mais caro e as vendas, cada vez mais baixas.

Enfim, vale a pena?

Apesar da leve mudança na capa do volume 1 para o volume 2 da Panini, não há motivos para que o título, não ocupe uma um lugar de destaque na sua coleção de mangás. A Panini Comics caprichou na edição e mostrou que, assim como a NewPop Editora vem fazendo, há uma boa fatia de mercado que consome e deseja mangás com um acabamento aperfeiçoado.

Fora a qualidade editorial, que merece ainda mais elogios, a história se dá ao mérito de ter muita influência dentro de todos os arcos da franquia, se tornando leitura obrigatória para quem se tornar fã da franquia. Com personagens cativantes, um universo fantástico e um enredo que se conquista vários nichos de leitores, Lodoss War – A Dama de Pharis é a opção ideal para aqueles que querem imergir num universo que prima pela criatividade de Ryo Mizuno e o bom gosto artístico de Akihiro Yamada.