Você pode ler, reler, assistir, reassistir, pesquisar e se divertir com diversas séries e animações de diversos gêneros e estilos, mas sempre há um dentro do seu coração que é impossível esquecer. Não necessariamente o primeiro, não necessariamente o melhor dentro de seus conceitos de qualidade de história, imagem e som, mas aquele que por um acaso te colocou no universo tão rico como é o dos animes.
O que eu considero como meu primeiro anime certamente não foi a primeiro desenho animado de vinte minutos vindo do Japão que eu realmente vi. Quando eu era pequeno, como minha mãe costuma dizer, eu não parava em casa, ela sempre me levava para brincar na terra, me sujar, correr e todas aquelas coisas que criança adora fazer mesmo sem saber exatamente o que está fazendo. Eu provavelmente só devo ter começado a assistir TV com uns três anos de vida, quando nasceu minha irmã.
Lembro que costumava assistir a toda a maratona de seriados japoneses que a Manchete passava e, mesmo não lembrando bulhufas (até eu recentemente assistir de novo) do que acontecia exatamente com Jaspion, Flashman e Jiban, minhas tias sempre me presenteavam com um monte de bonecos deles.
Se eu assistia a esse monte de tokusatsu, é óbvio que eu devo ter tido contato com alguns animes, mesmo sem saber que eram animes. Cruzando algumas de minhas lembranças com as datas dos animes que passavam na época em que eu era criança, ouso dizer que eu devo ter assistido a O Pequeno Príncipe, Speed Racer e A Princesa e o Cavaleiro, sabe-se se lá em qual número de reprise. Outro programa que sempre gostei muito (e ainda gosto) também são Chaves e Chapolin, e é no seriado mexicano que começa o que chamo de marco-zero da experiência com anime.
Assim como hoje (tem coisas que não mudam, não é?) os seriados de Bolaños passavam próximos ao meio-dia e reprisavam durante a tarde. Geralmente depois de Chaves, eu costumava a sair da frente da TV e ir brincar. Mas naquele 1º de setembro de 1994, com meus 6 aninhos, minha irmãzinha dormindo no quarto e meu pai ainda no trabalho, eu não estava com a mínima vontade de sair de frente da TV.
Minha TV (uma National, com orgulho!) não possuía botões, por isso, para trocar de canal, era necessário girar uma espécie de círculo que sintonizava os canais. Como o aparato era meio frágil (e provavelmente para saber o que eu estava assistindo), minha mãe pedia para eu lhe chamar quando eu quisesse trocar de canal.
Mas criança com 6 anos é fogo! Ouvindo o alto barulho de minha mãe esfregando a roupa no tanque, me senti o maduro o suficiente para eu mesmo trocar de canal. Fui girando com o máximo de cautela, canal por canal até que me deparei com uma orelha em traço e tinta esvoaçando cheia de sangue pela tela de TV e um carinha de amarelo e verde com cara de simpático sorrir para seu feito. Mesmo sem saber, eu estava assistindo a estreia de Os Cavaleiros do Zodíaco pela Rede Manchete!
Fiquei estático na hora; aquilo me chocou; não é sempre que eu via tanto sangue num programa de TV, ainda mais num desenho animado! Lembro que, do jeito que minha mão e meu corpo ajoelhado em frente da TV estavam enquanto eu trocava de canal, era como eu fiquei por uns 2 minutos mais ou menos enquanto assistia à luta de Seiya e de Cassius.
Quando voltei a mim, por um momento, pensei: “Minha mãe não vai gostar que eu assista a isso”. Olhei para a porta da lavanderia, vi que estava fechada, deixei meu super-ego pra lá e sentei em frente a TV e terminei de ver Shina tentando evitar a partida do Cavaleiro de Pégaso e a luta dos dois cheia de luzes e efeitos que nunca tinha visto antes.
Fiquei maravilhado quando vi aquilo. Como uma espécie de ficha que caiu no meu ser, eu fiquei pensando como havia algo tão legal que eu nunca havia assistido.
Passou um dia, passaram dois. Eu até cheguei a lembrar do desenho do cara com armadura branca, mas eu mal sabia ver as horas, então acabei não vinculando a hora que o programa passava com as coisas que costumava a fazer. Sem contar que, se minha irmã estivesse acordada, nós estaríamos fazendo outra coisa além de ver TV, e se meu pai já estivesse em casa, a TV era dele.
Chegou o fim de semana e meu tratado com Seiya e os outros finalmente foi assinado. Numa visita à casa de minha avó, meus primos me falaram do desenho e, mesmo sem eu ter certeza se falávamos do mesmo desenho, eu disse que já havia visto Os Cavaleiros do Zodíaco e nossas brincadeiras se focaram em meteoros o dia inteiro.
Na semana seguinte, meus primos foram em casa e “ajustaram” minha rotina para eu saber a hora do programa, me ensinaram a gravar no videocassete (acreditem, meus pais já tinham o vídeo havia quase 8 anos e não sabiam gravar nele!) e eu, com meus 6 aninhos, passei de criança a fã.
Com o passar dos anos, vieram a Herói, meu primeiro filme no cinema, a paixão pela mitologia grega, a curiosidade pelo Japão, a apresentação a outros animes, a leitura de mangás, bonecos, pôsteres, DVDs e tantas coleções que, mesmo com a alta quantidade de itens, cada uma faz parte de um momento da minha vida, uma lembrança, um símbolo, uma história que já dura quase 18 anos.
Com o meu primeiro anime, eu vivi, aprendi, cresci, amadureci, ri, chorei, compartilhei momentos, criei perguntas e encontrei respostas. Impossível de esquecer, impossível não querer reviver a história várias e várias vezes.
Tenho certeza que cada leitor da coluna tem a sua história para contar também. Seus momentos de glória, de emoção, de alegria. Que tal contar um pouco de como foi seu primeiro contato com o seu primeiro anime?
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