
Recentemente foi anunciado o fim do sinal brasileiro da Nickelodeon após 29 anos em terras tupiniquins, como justificativa quanto à baixa audiência e outros problemas. Alguns indícios de que as coisas não estavam bem vinham da passagem do controle do canal no Brasil para a Europa — trazendo eminentes falhas de localização.
Mas, antes do canal ter tido esse fatídico fim, a Nickelodeon no Brasil teve o seu auge, onde muitas séries eram exibidas ao agrado de seu público, com o complemento de uma programação nacional que destacavam a alaranjada no segmento de TV por assinatura.
Antes do canal chegar por aqui, a Nickelodeon não era conhecida no Brasil, pois nenhuma de suas séries eram exibidas na TV brasileira, até tudo mudar em 1º de outubro de 1994, quando a Globosat (atual Canais Globo) passou a exibir títulos selecionados como fruto de uma parceria com a Nick, pelo canal Multishow, que na época contava com animações infantis em sua programação. Entre as novidades, os quatro primeiros Nicktoons, Doug, Rugrats, Ren e Stimpy e A Vida Moderna de Rocko, além de séries como Clarissa, apenas com legendas em português.

Em 20 de dezembro de 1996 o sinal brasileiro da Nickelodeon chegava ao país, assim como em toda a América Latina. Chegando em um momento de expansão do segmento, colocava-se como opção direta para as crianças, num cenário que até então era dominado por Cartoon Network, da Turner, e o Discovery Kids, da Discovery. Contudo, a Nick não detinha de todo o seu acervo a disposição, uma vez que outros negócios foram firmados na região, o que necessitava pela busca de atrações internacionais, como os da canadense Nelvana.
A princípio pela operadora NET, o canal operava com 80% de sua programação dublada em português e os 20% restantes em inglês. O motivo da decisão ocorreu após uma das conclusões do grupo focal, que optou por conteúdo em inglês em contrapartida ao espanhol.
Em quesito de produções originais brasileiras, o canal o fazia desde os anos 2000, além de versões próprias de eventos como o Kids’ Choice Awards (Meus Prêmios Nick), o Patrulha Nick, Nickers e blocos temáticos que dominavam a programação, como Abrilíssimo. Entre as animações brasileiras, produções como Zica e os Camaleões, Os Under-Undergrounds e sitcoms como Julie e os Fantasmas.

O site do canal na América Latina e Brasil, MundoNick, foi lançado em 1999, com vídeos, jogos e área de votação usada em programas como o Nick Clássicos. Em 2020, todo o conteúdo foi removido pelo fim do Adobe Flash, mantendo apenas os horários de sua programação regular.
A Nick contava com uma boa audiência e era um dos mais assistidos na TV paga brasileira até a primeira parte da década de 2010. Se em 2011, o canal estava em sétimo lugar, com uma audiência média de 71 mil espectadores, em 2013, um aumento de posição e expressivo crescimento para 95 mil espectadores. A chegada de canais pré-escolares, junto de novos investimentos da Paramount em seus serviços de streaming, como Paramount+ e Pluto TV, parecem ter sido o começo do desfoco com o canal.
Atrações como Bob Esponja, a franquia Avatar (A Lenda de Aang e A Lenda de Korra), séries juvenis como iCarly, Victorious e O Clube das Winx, figuravam sempre entre os mais assistidos do público. Em dado momento, até mesmo animes chegaram por lá, como Yu-Gi-Oh!, mas que nunca tiveram o devido tratamento que mereciam. Em outro, a desfiguração da marca, com reprises incessantes começava a chatear parte do público.
Mas não só de glórias vive um império. Polêmicas envolvendo seus principais produtores como Dan Schneider e Chris Savino, criador de The Loud House por condutas impróprias eram responsáveis por fragmentar a imagem de um lugar visto antes como de “proteção” para as crianças, reverberando até mesmo em produções controvérsias, como O Lado Sombrio da TV Infantil, do ID.

Apesar de sua eminente decadência na programação, é realmente uma pena que a Nickelodeon no Brasil esteja encerrando suas operações de maneira tão abrupta. Com exceção à esponja amarela mais querida das animações, atualmente nada mais parece de fato despertar o interesse por lá. Descaso dos executivos? Desinteresse gradual do público?
Eu assistia muito a Nick em meados de 2017, e nos últimos tempos, não conseguia me sintonizar no canal por não enxergar nada de atrativo ali.
Sabemos que o futuro é o streaming, mas definhar totalmente uma marca consolidada é de fato o caminho?
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*
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