
No ar desde 1974 nas tardes na TV Globo, a Sessão da Tarde é um dos programas de maior longevidade da TV brasileira, sendo responsável por incluir novos clássicos no imaginário do público com o passar dos anos, trazendo produções de diferentes classes e interesses. Uma das marcas registradas do espaço é sem dúvidas a frase “altas confusões”, que se tornou meme, inclusive.
Em anos mais recentes, a sessão mudou seu foco contemplando uma programação de filmes em maior ênfase dedicado às mulheres, como de superação, romances e em raras exceções de super-heróis ou animações; em muitas outras, prestando homenagens a produções da própria Globo. Contudo o que talvez poucos devem saber, ou entender, é o motivo desta reformulação, que já caracterizou uma nova identidade na sessão.
Primeiro, o público não é mais o mesmo dos anos 1980, 1990 e 2000, que já cresceram e praticamente não consomem mais a TV aberta, optando por assistir aos filmes nos serviços de streaming. De acordo com Amauri Soares, Diretor Geral da TV Globo, a seleção que agora é feita através de um algoritmo prioriza o perfil sintonizado naquele momento, atrelado aos filmes disponíveis no acervo e seu desempenho de audiência, sendo um catalizador de interesse – mesmo que se mantenha uma curadoria humana. Atualmente a sessão está “ensanduichada” entre duas novelas, cujo público é majoritariamente feminino, impedindo assim que outros tipos de filmes que fujam do estilo “água com açúcar” sejam levados ao ar.

Buscando ainda ser relevante em apresentar diferentes gêneros, a cada início do ano, é feito uma seleção de longo prazo sobre o que será exibido. Nos primeiros meses, filmes mais femininos, enquanto produções familiares/infanto-juvenis e animações são priorizadas entre julho à dezembro, em decorrência das férias escolares. A possibilidade de algum arrasa-quarteirão também existe, quando necessário “alavancar” o horário, como perante a reestreia de alguma novela ou evento.
Mas e quando um filme escalado é trocado de última hora? Bom, isso acontece por uma série de fatores, como eventos externos de grande repercussão (como a indicação de Fernanda Torres ao Oscar) ou situações adversas, como alguma tragédia jornalística.
Em relação ao catálogo, o fim da exclusividade de exibição de filmes com distribuidoras como Paramount Pictures, Warner Bros., Disney, Universal Pictures e Sony, que se voltaram aos serviços de streaming, limitou a disponibilidade de títulos, atrelado ao alto custo do dólar e baixo retorno comercial.

E por último, a adição de filmes para maiores de 12 e 14 anos, que foram responsáveis por renovar (em partes) a biblioteca de filmes da sessão, mas que também elevou o número de críticas quanto aos cortes praticados para adequação ao horário, muito embora a veiculação horária que foi derrubada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) não tenha mudado essa prática. O fato é que a Sessão da Tarde sempre foi uma sessão para a família, que sempre priorizou filmes em explosão no home video e sem saturação para um único estilo, coisa que infelizmente não acontece mais — se não é algum drama sobre câncer ou produção de qualidade duvidosa, é uma comédia desconhecida da França lançada em 2018.
Mesmo sem contar mais com a presença de clássicos que marcaram época, por licenças expiradas e alto custo de aquisição, ou até pela “inviabilidade” de transmissão por questões técnicas na faixa vespertina, a sessão deve se manter por mais alguns anos, contrariando aqueles que todos os anos decretam o seu “fim imediato”. O seu custo ainda é baixo e está longe de ter a liderança ameaçada, mesmo que com alguns avanços da concorrência, que embora tragam sustos momentâneos, não são suficientes para aplicar qualquer mudança radical.
A Sessão da Tarde ainda é uma saída para aqueles que recusam a assistir programas de fofoca e jornalismo sensacionalistas na mesma faixa em emissoras rivais (ou que não possuem outros meios para se entreter). Mesmo com a reformulação da programação de longas, é louvável que ela se mantenha firme e em destaque até hoje, mesmo que seja apenas uma sombra do que foi um dia, levando em plena tarde o público para o mundo do cinema.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*
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