Especial: A magia de Iginio Straffi na animação italiana

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Neste ano de 2024, a animação O Clube das Winx completou 20 anos de sua estreia na Itália. Com 8 temporadas, 3 filmes CGI, dois spin-offs e uma série live-action na Netflix, a franquia está com retorno marcado para 2025 com um reboot em CGI na TUDUM. As Winx são a grande criação do animador e ex-artista de quadrinhos italiano Iginio Straffi, uma das figuras importantes da animação italiana, assim como o saudoso Orlando Corradi (fundador da Mondo TV) e Bruno Bozzetto. Neste especial, conheceremos a história dele e de sua famosa criação que trazem encanto na animação italiana.

Iginio nasceu em 30 de maio de 1965 em Gualdo, comuna da província de Macerata, na região italiana das Marcas. Filho de uma mãe costureira e um pai motorista de ônibus, em sua infância ele amava o conto do Pequeno Polegar e ficava horas em casa ouvindo com sua irmã os contos de fadas sonoros consumidos com o disco Fabbri em uma vitrola branca. Na quarta série durante o desfile organizado pela escola, apareceu fantasiado como um personagem, o Comandante Mark da Sergio Bonelli; que não era famoso como o Zorro, Sandokan ou a Princesa Sissi. A fantasia foi feita e bordada pela sua mãe costureira. Ele se interessou por ilustrar histórias em quadrinhos desde criança e, aos sete anos, começou a desenhar suas próprias histórias em quadrinhos, com Pamilo sendo o primeiro quadrinho desenhado por Straffi na idade dos sete.

Quando tinha oito anos, ele se mudou para a cidade vizinha de Macerata. No ensino médio, ele frequentemente desenhava histórias em quadrinhos nos cadernos de seus colegas e participava de competições de arte, como uma competição realizada pela revista em quadrinhos Totem. Enquanto ele continuava a desenvolver suas habilidades artísticas, estudou Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de Macerata. Durante seus anos na universidade, Iginio namorou uma garota estrangeira chamada Antonella que foi criada na Itália por pais adotivos. Antonella contou a Iginio Straffi sobre seu desejo de conhecer seus pais biológicos. Foi uma das inspirações da Bloom de O Clube das Winx.

Iginio entrou na indústria de histórias em quadrinhos com uma história na edição de 1985 da Tilt. Mais tarde, ele colaborou em histórias em quadrinhos para a revista Lanciostory e a versão italiana da Skorpio. Em 1989, Straffi foi descoberto por Claudio Nizzi, criador da série de histórias em quadrinhos Nick Raider. Nizzi o levou para trabalhar na Sergio Bonelli Editore. Straffi se tornou o principal artista criativo da Nick Raider, começando com a edição de outubro de 1990. Seu trabalho também foi ocasionalmente apresentado nas revistas Métal hurlant e Comic Art. Embora ele gostasse de ilustração, o emprego dos sonhos dele era transformar seus desenhos em um desenho animado, mas ele não conseguia encontrar um emprego de animação em seu país natal. Em 1992, ele deixa a Sergio Bonelli Editore e passou a trabalhar nos estúdios de animação da França e de Luxemburgo. Ele ficou perplexo quando lhe ofereceram o cargo, mas foi o ponto de virada que ele estava esperando nas palavras dele. Ele trabalhou em designs para o episódio piloto de Valérian, bem como em uma adaptação cinematográfica planejada de Roman de Renart. Depois de se tornar experiente em cada estágio do processo de produção de animação, ele retorna à Itália.

Com a assistência financeira de Lamberto Pigini e Giuseppe Casali, um padre que era um empreendedor, ele funda a Rainbow em abril de 1995 com €10.000. O dinheiro foi usado principalmente para comprar computadores e software para design digital. Entre os primeiros trabalhos do estúdio estavam três minutos de animação do filme How the Toys Saved Christmas (La freccia azzurra) e o piloto do desenho animado Belphégor, do estúdio Les Armateurs da França. A Rainbow eventualmente garantiu fundos suficientes para produzir seu primeiro projeto original, a série de CD-ROMs e animações Tommy e Oscar. Em 1997, Iginio conhece a sua esposa Joanne Lee em uma feira em Singapura, país onde ela nasceu. Em 1998, ela ingressa na Rainbow. Joanne foi a quem estabeleceu o departamento de marketing e licenciamento e criou o fenômeno de marketing global em torno do conceito das Winx, além também de produzir a série e ser a vice-presidente da Rainbow; a personalidade de Lee foi outra inspiração para a personagem da Bloom, como um conhecido ditado dizia: todo grande homem, sempre tem uma grande mulher. Iginio e Joanne mais tarde se casaram, e em 2013 eles tiveram uma filha, Isotta.

Durante a década de 1990, ele percebeu que a maioria das animações de ação eram focadas em heróis masculinos, desprovido de personagens femininas. Ele esperava introduzir uma série alternativa com uma protagonista feminina de 16 a 18 anos, pois queria explorar o lado psicológico da transição para a vida adulta. Decide desenvolver um piloto centrado no conflito entre duas faculdades rivais: uma para fadas e outra para bruxas. Iginio comparou sua premissa original a “uma espécie de rivalidade Oxford-Cambridge em uma dimensão mágica”. Ao expandir o conceito, ele se inspirou nos mangás japoneses e nos quadrinhos de Sergio Bonelli. O projeto que se chamava Magic Bloom foi produzido durante um período de desenvolvimento de doze meses e atraiu o interesse da Rai Fiction, que pagou 25% do custo de produção em troca dos direitos de transmissão italianos e uma parte da receita da série ao longo de 15 anos. No entanto, após realizar exibições de teste do piloto, ele ficou descontente com a reação pouco entusiasmada do público ao estilo de roupa ultrapassado das personagens, afirmando que o piloto não o satisfez e optou por descartar toda a animação de teste, apesar de um investimento de mais de €100.000 no piloto concluído.

Para retrabalhar o conceito do projeto, a equipe de Straffi contratou designers de moda italianos para remodelar o show e dar aos personagens uma aparência mais brilhante e moderna. A produção da série remodelada começou em 2002, e a Rainbow estimou que os episódios seriam entregues aos distribuidores no final de 2003. O novo nome da série Winx é derivado da palavra inglesa “wings” (asas). O objetivo dele era atrair ambos os gêneros, incluindo sequências de ação projetadas para espectadores masculinos e elementos de moda para espectadoras femininas. No evento da MIPCOM de outubro de 2003, a Rainbow exibiu o primeiro episódio para as empresas internacionais e em 28 de janeiro de 2004, O Clube das Winx fez sua estreia na Rai 2 da Itália com grande sucesso internacional do público do mundo todo. Originalmente escrito para durar 78 episódios, devido à grande popularidade da série, em 2008 ele decide estende-la. Britney Spears, Cameron Diaz, Jennifer Lopez, Pink, Lucy Liu e Beyoncé serviram de inspiração para Bloom, Stella, Flora, Tecna, Musa e Aisha, a abordagem era parte do objetivo de Iginio Straffi para que as fadas representassem as mulheres de hoje.

Mas um processo da grande Disney quase derrubou o sucesso de Winx. Em abril de 2004, a The Walt Disney Company processou a Rainbow, os acusando de copiar os quadrinhos de W.I.T.C.H., que foram publicados um ano depois do começo da produção de Winx. A Disney perdeu o processo, onde a Rainbow ganhou ao mostrar que o piloto da série começou em 2000, enquanto W.I.T.C.H. só foi publicado em maio de 2001. Como resultado do processo, ele e seu estúdio evitam até hoje parcerias com a Disney e se tornou uma das pessoas odiadas pela empresa de Mickey Mouse.

O grande sucesso de Winx acabou atraindo a atenção da Viacom, proprietária da Nickelodeon, que adquiriu 30% do estúdio em 2011, e a parceria da Rainbow com a Nickelodeon rendeu bons privilégios, principalmente na 5ª e 6ª temporadas e a novela Club 57. Porém, os cortes na Rainbow devido ao fracasso de bilheteria do filme Um Gladiador em Apuros acabou afetando sua sétima temporada, com inúmeros cortes no orçamento. A oitava temporada acabou sendo reformulada ao público pré-escolar, onde a maior parte da equipe da série não voltou e Iginio Straffi se afastou.

Teve Fate: A Saga Winx, o live-action da série na Netflix, mas que foi cancelado com duas temporadas, porém que abre novas oportunidades para a franquia. Ano passado, a Paramount Global (antiga Viacom) vendeu sua participação de volta para Iginio Straffi, onde a compra permite ele ter controle total dos novos projetos da Rainbow.

Rainbow Studios / Divulgação

O Iginio é um dos artistas da animação mais sonhadores que já vi, pela questão da alma que é na Rainbow, como também na animação italiana e ter criado um dos meus desenhos favoritos. Nasci no mesmo ano da série em 2004 e me lembro de assistir as Winx no saudoso Bom Dia & Cia do SBT quando criança, e curtia bastante o desenho, principalmente pela dublagem. É incrível até saber que a Rainbow chegou a doar para o Teleton da AACD/SBT de 2010, mostrando um ato de bondade e solidariedade do estúdio ao nosso país.

Esse especial é uma singela homenagem ao aniversário dos 20 anos de O Clube das Winx, uma animação que fez pessoas ficarem encantadas por fadas e magia, sendo uma das melhores produções de magical girl ocidentais dos últimos anos.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*