Conhecido por seu trabalho em Dragon Ball Kai, cantando a versão brasileira das músicas de abertura e encerramento do anime, hoje conversamos com Rodrigo Rossi, vocalista da banda R² e que, gentilmente, nos cedeu uma entrevista.
Em nossa conversa, Rodrigo conta como foi a experiência de trabalhar com DBKai e também em Cavaleiros do Zodíaco: The Lost Canvas, na qual também cantou algumas músicas, além de nos contar um pouco sobre sua carreira e seus planos para o futuro, que também pode incluir trabalhos em outros animes. Confiram, abaixo, a entrevista na íntegra:
ANMTV: Olá, Rodrigo! Antes de tudo, é um prazer conversar com você.
Rodrigo: E ai galera! O prazer e todo meu! Obrigado mesmo pelo espaço.
ANMTV: Conte para nós um pouco do seu trabalho no meio musical.
Rodrigo: Eu comecei a estudar música aos 12 anos. Me dediquei quase que exclusivamente à técnica vocal. Tive a sorte de estudar com professores ótimos e graças a eles hoje eu colho o resultado de todo aquele treinamento. Me envolvi em alguns projetos ao longo dos anos, alguns bons outros nem tanto. Acho que todo músico passa por isso. Até que pintou a oportunidade de trabalhar com as trilhas de animes e cá estou eu! Graças a Atena!
ANMTV: Quais os principais desafios de um músico no Brasil, sabendo que a venda de CDs já não é tão lucrativo como antes?
Rodrigo: Antigamente o músico já via muito pouco da renda arrecadada com venda de CDs. As gravadoras e selos mordiam a maior parte. O que aconteceu com o advento da internet e o mp3 foi a concentração nas apresentações ao vivo. O mercado ainda esta mudando, se adaptando a isso tudo, lutando contra, até.
Pra ser músico no Brasil você precisa primeiro estudar, especialmente se o instrumento de escolha for a voz (os danos causados pelo mau uso refletem diretamente no seu corpo e, às vezes, são irreversíveis). Depois uma certa quantidade de coragem para realmente escolher esse caminho e saber que, salvo raras exceções, seus pais serão contra devido aos riscos e instabilidade da profissão. E em terceiro, muita determinação e trabalho, sempre correndo atrás do sonho. Tudo vale a pena no final (e você tranqüiliza seus pais quando começa a pagar suas contas com a música).
ANMTV: Particularmente, sua experiência em trabalhar com as canções de Dragon Ball Kai foi marcante em sua carreira?
Rodrigo: Foi sim, e como! Na verdade antes de tudo eu sou fã da série há muitos anos. Quando a internet começou a se popularizar por aqui, alguns amigos meus começaram a baixar os episódios de um site. Então quando Dragon Ball Z estreou no Brasil já não era grande novidade pra mim (mas valeu a pena ver de novo pela dublagem!), mas nós éramos totalmente viciados. Alguns desses caras sabiam tabelas de poder de luta decor! Sei que hoje em dia deve ter uma galera muito mais “especializada”, mas até hoje eu me impressiono com isso. Mais de dez anos depois eu ganhei esse presente e sou muito grato e honrado por fazer parte desse universo.
ANMTV: Como você foi escolhido para esse trabalho?
Rodrigo: Eu me reuni com o representante da Toei Company no Brasil, o Sr. Luiz Angelotti, que ouviu o meu material e me apresentou à empresa japonesa como sendo a sua aposta pessoal – o que é um privilégio sem tamanho! O feedback do Japão foi positivo, e eu recebi o sinal verde para gravar as versões finais quando a dublagem começasse. Devo minha oportunidade em Dragon Ball à Angelotti Licensing.
ANMTV: Você conhecia o anime antes de ser selecionado? Qual outro você curte?
Rodrigo: Sim, sim, já era fã de longa data. Eu curto muito Cavaleiros do Zodíaco (claro), Yu Yu Hakusho e, basicamente, o que foi exibido pela Rede Manchete nos anos 90. Gosto muito do Death Note também, que eu reassisti recentemente com uma dublagem fantástica e um elenco de primeira. Atualmente tento acompanhar os animes que a Marvel Comics vem desenvolvendo com a Madhouse do Japão – tento carregar os episódios comigo no celular, mas nem sempre tenho tempo de assistir.
ANMTV: Na sua opinião, de que forma você classificaria as adaptações de canções japonesas dos animes para o Brasil?
Rodrigo: Nós produzimos grandes hinos, não há dúvida. Algumas versões não receberam o cuidado que deveriam, então não tiveram um resultado tão legal. Acho que esse é o fator principal para se definir as versões brasileiras. Acho que Cavaleiros, principalmente, tem grandes nomes e grandes vozes em sua trilha sonora nacional.
ANMTV: Você também participou dos outros processos de produção, como a tradução da letra, por exemplo?
Rodrigo: Sim, mas não fiz tudo isso sozinho. Eu recebi ajuda de alguns amigos próximos, como o próprio Walter Tormin Neto do site CavZodiaco.com.br nas versões de Cavaleiros. Dois caras que foram muito importantes nesse processo de composição foram os “Pedros”: Pedro Almeida e Pedro Henrique Nunes, que são dois dos meus amigos mais antigos e são aqueles caras que sabiam os poderes de luta de cabeça… Acho que em todas as versões em que trabalhamos até hoje eles participaram, sempre com um feedback precioso em relação às letras e versões que eu produzia. Acho que o mérito é muito deles também.
ANMTV: Você trata diferenciadamente abertura e encerramento?
Rodrigo: Não. Eu trato diferenciadamente cada música, cada faixa em particular. Não acho que exista distinção entre abertura e encerramento, ao menos não é claro pra mim. Me guio mais pelo que aquela música pede e/ou me permite fazer e, principalmente, pelo material que eu recebo pra trabalhar, sejam versões originais em japonês ou não.
ANMTV: De que forma você recebeu a opinião dos fãs em relação às músicas de Dragon Ball Kai?
Rodrigo: Com grande alegria. Eu realmente me assustei quando a agência colocou as demos no ar. Mas a resposta dos fãs da série foi tão legal e realmente me deixou muito feliz. E, na verdade, eu só me arrependo de não ter conseguido tempo para entrar em contato com alguns deles, em particular os que fizeram ótimas sugestões para as versões finais. Espero que em uma oportunidade futura eu consiga fazer isso. Acho que a aprovação dos fãs é a prova de fogo pra quem trabalha na produção brasileira dos animes, seja na dublagem, seja nas músicas ou na publicidade. Os fãs muitas vezes têm um conhecimento sobre a série que o próprio autor não tem. Eu os respeito muito e sou muito grato por todo o carinho.
ANMTV: Em relação às músicas de Dragon Ball Kai, você teve liberdade de mudar melodia/instrumento ou só podia adaptar com base na original?
Rodrigo: Em relação a Dragon Ball, eu recebi sim algumas diretrizes devido a uma tradição das trilhas brasileiras que eu preciso respeitar, mas nada relacionado às melodias. Eu não me sentiria à vontade mudando tanto assim as trilhas originais. Acho que a versão em japonês serve como uma guia perfeita para que eu possa trabalhar a letra em português – me dá as notas fortes, as sílabas tônicas e, logicamente, o conteúdo. Claro, por vezes a tradução não faz sentido nenhum ou até acaba repetindo uma idéia que já apareceu antes na música e em japonês é diferente, mas em português não. Não é muito simples de explicar, mas às vezes as músicas me permitem ou até me obrigam a trazer algo externo que não estava no original. Mas acho que só me sinto confortável mudando o original nesses casos. Acho que a melodia em si não oferece nenhuma situação que force uma modificação.
ANMTV: Além de Dragon Ball Kai, você também gravou a abertura brasileira de Saint Seiya: The Lost Canvas. Conte-nos sobre essa experiência.
Rodrigo: Trabalhar com Cavaleiros sempre foi um sonho pra mim. Acho que desde cedo eu consegui enxergar uma mensagem profunda e marcante nessa série, disfarçada em uma linguagem às vezes infantil. Acho que essa série me trouxe as primeiras lições sobre determinação, força de vontade e obstinação. Tanto que eu fechei o meu braço com uma tatuagem temática. E “Reino de Atena” foi a primeira música que os fãs ouviram na minha voz, então sempre será muito especial pra mim. Muitas portas se abriram e eu tive a oportunidade de conhecer e até dividir o palco com alguns dos meus heróis da dublagem e até a Larissa Tassi!
ANMTV: Já existem propostas para gravação de músicas em outros animes? Se sim, pode adiantar algo pra gente?
Rodrigo: Existem boatos (risos). Na verdade conversamos sobre o último lançamento de Cavaleiros aqui e uma possível versão full para “Soldier Dream”, porque parece que o material original no Japão trazia um clipe com essa faixa, mas acabou não acontecendo (apesar de que agora muita gente me cobra isso) por questões referentes ao direito autoral. No entanto o pessoal não fechou a porta para essa possibilidade, apenas precisamos encontrar a maneira e o momento certo pra mexer em algo que já foi feito.
E aquela historia sobre Digimon era definitivamente boato, apesar de que depois de conhecer a música, e uma versão dela em particular, eu passei a gostar muito!
ANMTV: Quais suas inspirações no meio musical?
Rodrigo: Eu gosto de muita coisa, sinceramente. Costumo dizer que eu sou influenciado por música boa independente do estilo. E difícil não falar de Iron Maiden, certo? Acho que mesmo se eu tentasse esconder não conseguiria. Hoje em dia o que eu procuro e me aprimorar focado no meu próprio estilo, na minha própria personalidade. Apesar de ter alguma coisa na bagagem eu me considero um aprendiz sempre e ainda tenho muito a aprender com muita gente boa que temos por aí.
ANMTV: Como era sua vida antes da fama e como está depois dela?
Rodrigo: Quando a fama acontecer te envio essa resposta (risos). Sinceramente não enxergo “fama” ou “sucesso” ainda. Ainda tenho muito chão pela frente e minha cabeça esta 100% no lugar. Claro que sou muito grato por ter algum reconhecimento, por tudo o que os fãs de anime demonstram, pelos seguidores do Twitter (@rodrigor2rossi), mas a partir do momento em que um artista acredita ser mais do que ele realmente é, pode ter certeza que será o começo do fim. E eu tenho consciência de quem eu sou, do que eu sou capaz e do que eu quero atingir, mas principalmente dos meus defeitos e do que eu ainda tenho para aprimorar. Eu hoje me vejo como um cara de 24 anos parte de uma geração totalmente devota aos animes dos anos 90, que por acaso se tornou músico e hoje tem sorte o bastante para trabalhar com o que gosta.
ANMTV: Quais os seus projetos para o futuro?
Rodrigo: No momento estamos terminando o lançamento do “Come Full Circle” com a R² e preparando as tours por ai. Essa é uma fase um pouco chata, envolve muita burocracia e negociação, mas logo logo ela chega ao fim. Com o AtRock também, o ritmo está cada vez maior e cada vez mais legal de trabalhar com algo diferente do que eu estou acostumado. Como sempre, estou aprendendo muito. Agora, para o futuro, pretendo conquistar a Europa, a América do Norte e mais um continente a minha escolha (ou eliminar todos os exércitos azuis). Só Dio sabe o que o futuro traz! Nós aqui vamos continuar trabalhando e seguindo em frente.
ANMTV: Vamos ao Jogo rápido:
Um ídolo: Stan Lee
Uma música favorita: No momento “Lazy Song” do Bruno Mars… já já isso muda.
Uma lembrança de infância: Minha coleção de bonecos dos Cavaleiros.
Um desenho clássico: X-Men. Aquele da Fox. O quê? Pensou que eu ia mandar um “Cavaleiros” ou “Dragon Ball”? Meio óbvio, né? (risos)
O que gosta de fazer, além de cantar: Dormir. Faço isso muito bem, modéstia a parte.
Um sonho: Garantir estabilidade financeira para a minha família através do que eu amo fazer.
Rodrigo por Rodrigo: Às vezes adulto demais, às vezes uma criança. Buscando o equilíbrio sempre.
ANMTV: Gostaríamos de agradecer sua participação nesse bate-papo. Desejamos sorte e sucesso em sua carreira.
Rodrigo: Valeu galera!!! Muito obrigado mesmo pelo espaço! Um grande abraço pra vocês e fiquem de olho no twitter (@rodrigor2rossi), Facebook, YouTube, etc. Porque já já teremos grandes novidades! Por favor, acessem meu site www.rodrigorossi.com e ouçam nosso material! E finalmente, muito obrigado de coração pelo carinho e pela receptividade. Espero corresponder a tudo isso! Nos vemos no reino de Atena!
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