Digimon Survive: um retorno à franquia em grande estilo

Bandai Namco Entertainment / Reprodução

Digimon Survive já está entre nós há algum tempo, mas será que ele acaba sendo só mais um jogo da série Digmon ou é um ponto fora da curva? Vem ver o que nós achamos desta nova aventura!

História e Personagens

De longe o que chamará a atenção de jogadores será a narrativa que carregará o maior sustento do jogo, pois aqui há inclusive fatores um tanto quanto “sombrios” por assim dizer para uma franquia que começou dirigida exclusivamente ao público infantil. No enredo, é mencionado que há entre os eventos elementos de terror e suspense, como a menção a sacrifícios de crianças a um culto religioso, algo que com certeza pode chamar a atenção até mesmo de quem sabe que nem só de temas leves vivem e se sustentam outras produções anteriores de Digimon.

Nos tempos modernos, somos apresentados à Takuma e seus amigos, típicos estudantes japoneses que, em meio a um passeio da escola, devido a uma bizarra curiosidade e acaso do destino acabam encontrando o santuário onde tais fatos tenebrosos mencionados aconteciam e ali, conhecem a lenda dos Kemonogami, um outro nome atribuído aos próprios digimons. Uma vez dentro da região, todos do seu grupo são presos em uma tipo de névoa que os impede de sair do local, de forma que agora é preciso solucionar o que está por trás do misterioso fenômeno para que Takuma e seus companheiros possam sair da estranha situação e sobretudo… sobreviverem.

Falemos agora um pouco sobre os três protagonistas. Takuma Momozuka, é um garoto motivado, sensível, de bom coração e que por isso sempre faz de tudo para ajudar seus amigos, com Agumon atuando aqui como seu companheiro digimon. Aoi Shibuya é uma amiga de Takuma, que é apresentada como uma garota racional e ao mesmo tempo meiga, possuindo uma grande senso de altruísmo e obtendo como seu monstro parceiro digital, Labramon. Minoru Hinata é o bem humorado melhor amigo de Takuma que acaba assumindo o papel de alívio cômico ao lado de um Falcomon. Além desse trio de personagens principais, os demais que compõem o grupo são Ryou Tominaga e Kunemon, Saki Kimishima com Floramon, Shuuji Kayama ao lado Lopmon, Kaito Shinonome junto a Dracumon e, por fim, Miu Shinonome e o imponente Shakomon.

Jogabilidade

Aqui gostaria de repassar uma informação que definirá o quanto você pode ou não gostar do game e jogá-lo até o final que é: a quantidade massiva de diálogos, uma vez que se trata de uma visual novel. Então, prepare-se para bastante leitura com muitas imagens estáticas acompanhadas de caixas de texto. Esse ponto não seria negativo se a história não demorasse um pouco a se desenvolver, embora comece muito bem por sinal, esfrie após um tempo e se encontre novamente e surpreenda em seu clímax.

Junto ao esquema típico de visual novels, há junto o sistema de confrontos típicos de RPGs táticos onde em um mapa que funciona como um tabuleiro, os personagens que você controla irão combater os inimigos no campo, alternando turnos onde ao fim de cada turno o jogador escolhe e determina a posição no qual os personagens que controla ficarão. Há também no cenário caixas onde itens estarão contidos e poderão ser acessados pelo jogador quando os objetos são quebrados através de ataques.

Cada monstrinho possui, basicamente, dois ataques: um normal e um mais forte que usa SP (a “mana” do jogo). No tutorial, é explicado que ataques nas costas ou laterais de seu inimigo podem causar danos extras, sendo esse um ponto que o jogador poderia explorar ao próprio favor e se atentar durante os combates, se o jogo exigisse de fato uma grande estratégia ao menos nas dificuldades básica (normal) ou fácil, pois, ao se acostumar com a mecânica, não chega a ser preciso muita habilidade ou planejamento nesses níveis, na maioria das vezes é suficiente focar em apenas um digimon e fortalecer o mesmo.

Uma coisa que sempre me empolgava nas batalhas são as digievoluções, que sempre deixam qualquer fã de longa data dos animes da franquia maravilhado. No geral, as batalhas não costumam demorar muito, então o fator evolução acaba ajudando muito a dar aquele “tempero” na hora de enfrentar inimigos.

É interessante mencionar aqui sobre o sistema de boost, onde ao conversar com o seu digimon, é possível propiciar a ele um status positivo, encorajando-o através da função “talk” que pode ser usava em cada turno e é feito entre os personagens para seus digimons ou mesmo de digimon para digimon.

Através dessa mesma mecânica, há uma outra ainda mais legal acrescentada que é a de convocar seus próprios inimigos. Funciona da seguinte forma: caso você se depare com uma legião de inimigos e estiver com pouco HP (pontos de vida) ou ache que um certo digimon daria uma boa adição em sua equipe, é possível bater um papo com o adversário escolhido de modo que serão feitas por ele três perguntas. Se todas forem acertadas, ele poderá entrar para o seu grupo, sendo válido lembrar que quanto mais alto for o nível do oponente, mais difícil será convencê-lo. É possível encontrar e ter acesso a até 113 digimons durante o jogo, então caso queira obter todos eles, o jogador pode se deparar com uma tarefa árdua, mas recompensadora.

Fora das lutas, você terá mapas no quais você poderá explorar e coletar pistas que irão propiciar o avanço da história, mas nada de muito complexo, consistindo apenas em painéis estáticos onde com o uso do cursor, o jogador poderá achar dicas no cenário, digimons escondidos ou rotas para seguir. É possível também tomar decisões em meios aos diálogos do jogo, onde há a chance de melhorar as afinidades com os NPCs, nada muito espantoso para veteranos no gênero visual novel, mas que vale destacar para novatos no estilo, uma vez que são tais escolhas que comumente influenciam no desenvolvimento do enredo de jogos do tipo e por vezes alteram tanto o percurso quanto o final que os mesmos terão acesso.

Aspectos Gráficos e Trilha Sonora

Anunciado em 2018 e lançado apenas neste ano de 2022, pôde-se constatar que os adiamentos conseguiram possibilitar que o jogo trouxesse razoáveis gráficos feitos no típico estilo anime 2D comum de inúmeros jogos japoneses que até conseguiram fazer com que a espera valesse a pena. Destaque aqui para o belíssimo trabalho de arte feito por Uichi Ukumo, que foi o responsável pelos designs de personagens. Na trilha sonora, a direção competente de Tomoki Miyoshi consegue proporcionar ao público momentos de tensão e angústia de maneira equilibrada ao longo de toda a aventura.

O vídeo de abertura é sem dúvida um dos melhores que pude assistir em jogos baseados em animes, com uma música cantada original para o game que fez com que eu até me perguntasse se essa produção deveria ser de fato um jogo ou se poderia também se dar ainda melhor como um anime, pois chegava a ser uma pena ver uma abertura tão sensacional ao ser apresentado ao jogo e durante o in game ter que se contentar apenas com figuras sem fluidez ou movimento mesmo com o bonito traço de Ukumo.

Ainda que localizações em vários idiomas através de legendas sejam mais do que obrigação para que pessoas de vários lugares do mundo possam aproveitar de forma digna um jogo que tem sua narrativa como seu maior trunfo, o acréscimo de “dublagem” em vários idiomas poderia proporcionar uma imersão na experiência ainda melhor e mais marcante.

Veredito

Apesar da duração curta e da pouca complexidade estratégica dos combates somada a uma história que começa bem mas que fica arrastada em seu decorrer, recuperando o ritmo apenas próxima do desfecho, acredito que as qualidades que também foram apontadas conseguem se sobressair a todos os defeitos que Digimon Survive apresenta, e sem dúvida a nova aventura dos monstros digitais da Bandai pode ser não só mais um bom jogo da franquia para fãs mais antigos como uma interessante maneira de apresentar Digimon a jogadores pouco familiarizados com a série no mundo dos jogos eletrônicos que talvez tenham uma ou outra lembrança dos animes que assistiram na infância ou hoje sequer a conheçam.

Digimon Survive está disponível para as plataformas Nintendo Switch, PlayStation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X/S e PC (via Windows).

Autoria: Henrique Zanardi