Digimon é uma franquia rentável, prova disso é sua sobrevivência no mercado a mais de 16 anos. A Bandai ano a ano vem bebendo dessa fonte, lançando incansavelmente novos personagens, jogos e produtos. A série já provou que, apesar de não estar semanalmente na TV, pode sobreviver tanto na memória do público quanto no mercado segmentado de games. O anime baseado no universo da franquia sempre é bem aceito e consegue facilmente atravessar o oceano, provando também que a falta de periodicidade não é um problema para uma marca forte e consolidada.
Recentemente tivemos a estreia do novo anime aqui no Brasil. A sexta temporada batizada de Digimon Fusion (Digimon Xros Wars no Japão), está em exibição semanal no Cartoon Network. A mudança de título é totalmente aceitável e significativa, foram os próprios produtores que criaram para exportação, tendo em vista que o termo “Xros” não tem nenhum significado fora do Japão, e o medo de que a palavra “Wars” não fosse bem aceita em um desenho para crianças nesse nosso continente tão politicamente correto.
Lançada em 2010, a série ganhou uma roupagem totalmente reformulada. Abandonou quase que totalmente o conceito clássico de evolução para destacar a fusão, abrindo assim um leque maior de personagens e, consequentemente, de linha de brinquedos. No total, a temporada contou com 79 episódios, sendo 54 com as aventuras de Mikey (Taiki) contra o exército Bagura e 25 de uma sequência direta, cujo protagonista se chamava Tagiru.
Assim como as temporadas anteriores, no ocidente Digimon Fusion foi adquirido pela Saban. Algo curioso que aconteceu no passado é o fato de recebermos vídeo e áudio direto da própria Toei Animation, apenas os nomes dos personagens principais e alguns termos acabavam sendo herdados da versão americana. Possivelmente graças a mudança de diretoria, dessa vez recebemos algo 100% americanizado. O resultado foi um anime totalmente barulhento, com diálogos forçados ao humor e algumas adaptações desnecessárias de enredo, além da exclusão da excelente trilha sonora japonesa.
Para começar o anime assusta pela descaracterização dos personagens centrais, forçando uma american lifestyle. Temos um Mikey jogador de basquete, uma Angie (Akari) patricinha apaixonada e um Jeremy (Zenjirou) que só sabe fazer referências a games e tecnologia. Isso pode não afetar o desenrolar da trama, mas atrapalha no esclarecimento de motivações dos personagens, algo que sempre é trabalhado com primor nos animes de Digimon. Mas pra que se preocupar com isso não é? Desde quando crianças são tão detalhistas? O conceito de fusão foi muito criticado pelos fãs, porém é algo normal no universo de Digimon, e tem um sentido lógico nas explicações de como os Digimons evoluem, tanto que esteve presente (de um modo menor) desde a primeira temporada da série, ou esqueceram-se da fusão entre War Greymon e Metal Garurumon no primeiro longa da franquia?
Digimons são seres binários, formados por vários zeros e um, falando em termos mais simples posso dizer que são compostos de dados de computador. Conforme o tempo passa, eles vão absorvendo mais dados até chegar o momento em que evoluem, esse é o conceito básico de evolução. Porém, existem algumas outras formas que fogem a esse método normal, classificadas como especiais. Uma forma especial de evolução é através dos sentimentos humanos que são transferidos aos Digimons através de artefatos, como o digivice da primeira temporada. Isso também explica o fato de crianças serem escolhidas para isso, pois elas são conhecidas pela pureza dos sentimentos como amor e amizade. Outra forma de evolução é através da fusão, existem Digimons que fundem seus dados para chegar a um nível superior, isso é mostrado constantemente nas temporadas dos animes e teve maior destaque nas aqui batizadas “evoluções de DNA” da segunda temporada da franquia.
Portanto a fusão cabe dentro do universo e tem todo o sentido de existir. Os Digimons também evoluem através de algumas formas excêntricas, como quando seus dados são interferidos por algum tipo de anticorpo, mostrado no filme Digimon X Evolution, ou quando eles evoluem para um outro Digimon de mesmo nível sem nenhuma razão aparente. A evolução negra mostrada na primeira temporada também é classificada como um tipo de evolução, e ocorre quando existe um acumulo de sentimentos negativos no Digimon.
A dublagem de Digimon ficou com a paulista Dubbing & Mix e traz no elenco uma turma de jovens dubladores. Jovens na idade, pois a maioria trabalha no ramo desde muito novos, apesar não serem tão conhecidos. Existiram sim alguns exageros, como o Shoutmon, dublado pela Fernanda Bock, que além de estar um tom acima dos demais personagens, tem uma voz muito aguda, o que acaba incomodando um pouco quem assiste. Além de uma ou outra voz inexpressiva, mas que com certeza só tende a melhorar no decorrer dos episódios.
Recentemente tive a oportunidade de conversar com os dubladores dos principais personagens da série: Daniel Garcia (Mikey), Kandy Ricci (Angie) e André Sauer (Jeremy), a maior preocupação por parte deles era com a opinião dos fãs. O Daniel inclusive ficou muito aliviado quando disse que a maioria estava aprovando sua atuação como Mikey. Trabalhar com adaptação já é algo complicado, ainda mais quando é uma série que já possui um grande número de fãs.
A primeira leva de episódios já está em fase final de dublagem, e eis um detalhe interessante: o estúdio recebeu somente 30 episódios até o momento. Dos 79 episódios da temporada, a Saban adquiriu 54 (provavelmente excluindo a fase do Tagiru), e conforme ficamos sabendo, apenas uma parte deles chegou ao Brasil, possivelmente os 30 episódios iniciais (a partir do 31 o anime entra em outro arco). Presume-se então uma quebra na sequência de exibição da Cartoon Network, que deverá exibir os 24 episódios restantes em uma outra oportunidade.
Digimon Fusion não é uma das melhores temporadas da franquia, mas com certeza tem seus pontos positivos. O destaque fica para os generais do exército Bagura, os vilões (que parecem ter sido inspirados nos de Super Sentai). Conforme os generais vão ganhando destaque, a série vai começando a melhorar. Vale a pena passar pelo canal quando o anime estiver sendo exibido, mas se você não tiver paciência para as piadas e gírias descoladas, sim os Digimons usam gírias como “cara”, basta indicar para o irmãozinho.
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