Velma é uma dessas séries que, paradoxalmente, pode ser tão ruim que começa a se tornar boa. A comparação entre a tentativa de reinventar o universo de Scooby-Doo em um contexto mais adulto e cínico e o icônico The Room não é nenhum absurdo.
Como o filme de Tommy Wiseau, Velma pode ser vista como uma série que, embora cheia de falhas, inconsistências de narrativa e um humor que muitas vezes não atinge o alvo pretendido, captura a atenção de seu público de maneiras que os produtores talvez não tenham inteiramente previsto. Ambos tornam-se assuntos de discussão não apenas por suas qualidades, mas por seus erros notáveis e escolhas estilísticas peculiares.
Os novos episódios continuam a explorar os elementos mais adultos e sombrios que foram introduzidos na primeira temporada, mantendo o tom de sátira e humor ácido. A série faz um esforço consciente para subverter a fórmula clássica de Scooby-Doo, tentando afastar-se dos clichês tradicionais do gênero de mistério. No entanto, essa tentativa muitas vezes resulta em piadas que podem parecer de mau gosto ou previsíveis. Curiosamente, é essa mesma qualidade de “tentar demais” que pode ser atraente para alguns espectadores. A abordagem exagerada e a tentativa de ser diferente em todos os aspectos se tornam um dos principais chamarizes da série, convidando os fãs a se deleitarem tanto com seus acertos quanto com seus erros.
[SPOILERS A SEGUIR]
Na trama, Velma ganha popularidade na escola após resolver o mistério envolvendo a mãe de Fred, mas logo se depara com novos desafios quando o corpo do chefe de polícia é encontrado, indicando a presença de um novo assassino em Crystal Cove. Enquanto lida com seu relacionamento com Daphne, Velma continua suas investigações em meio a uma série de assassinatos macabros, descobrindo que os crimes possuem uma conexão com experimentos antigos de troca de cérebros, que envolvem a avó de Norville “Salsicha” Rogers, uma cientista que realizou experiências nos anos 70.
A grande reviravolta ocorre quando é revelado que o vilão por trás dos acontecimentos recentes é Scooby-Loo, um super soldado criado por um projeto secreto do governo conhecido como Projeto Scoob. Originalmente destinado a ser um companheiro para adolescentes, Scooby-Loo se torna uma criatura bizarra e perigosa devido a experimentos falhos. Ele é manipulado para cometer os assassinatos, enquanto tenta ocultar sua verdadeira natureza e objetivos.
A revelação de que Scooby-Loo é o responsável pelos crimes traz um clímax tenso, onde Velma e seus amigos precisam enfrentar não apenas o vilão, mas também as ramificações de seus atos e as verdades escondidas por aqueles em posições de poder. A temporada termina com um confronto dramático, que envolve a morte da protagonista e o seu retorno como uma fantasma que para derrotar o vilão.
Sim, neste universo, o paranormal é real e até feitiços têm lugar. Salsicha luta com a assombração da mãe de Fred ao longo da temporada, inicialmente acreditando serem alucinações. E Velma, que pensava ter sido traída por Daphne, descobre que tudo não passou de um feitiço de maldição feito escondido.
Como toque final e um pouco de sadismo, a série presta algumas homenagem aos designs originais dos personagens ao longo da temporada, brincando com as expectativas dos fãs das animações clássicas.
Em conclusão, a segunda temporada de Velma exemplifica como uma série pode ser tão errática e falha que se torna um prazer culpado. Para aqueles que conseguem encontrar humor na imperfeição e apreciar o caos narrativo, Velma oferece uma dose generosa de ambos, tornando-se um espetáculo estranhamente cativante que desafia as convenções de uma maneira verdadeiramente única.
Quem sabe, o futuro possa nos reservar uma versão de Artista do Desastre para Velma, focando na trajetória de Mindy Kaling (The office, The Mindy Project), a produtora e voz original da protagonista, que reimaginou a história de Scooby-Doo de maneira radical apenas para fazer self insert (inserindo sua aparência e elementos autobiográficos na narrativa).
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*
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