ANMTV Entrevista: Alec, o autor de Pela Última Vez

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Pra encerrar a semana especial de comemoração do Dia do Quadrinho Nacional, não poderíamos ficar mais felizes em trazer um dos nomes mais queridinhos da atualidade, para fechar com chave de ouro esse período de comemoração. Alec é o responsável por obras como “Lebre e Coelho”, lançado pela editora NewPOP em 2021, “Tchutchuco”, disponivel on-line pela plataforma Tapas e, seu mais recente lançamento físico, a hq “Pela Última Vez”. Confira agora uma pequena entrevista que o autor concedeu ao ANMTV falando da carreira, suas inspirações, reflexões da vida e as novidades que 2024 traz.

Primeiramente obrigado por aceitar falar conosco e feliz dia do quadrinho nacional! Conta um pouco pra gente e pra quem não conhece você, sobre o seu começo. De onde veio esse interesse em seguir na carreira de quadrinista e ilustrador?

Alec: Feliz dia do quadrinho nacional! E de novo, eu que agradeço a oportunidade. Agora sobre o meu começo, acho que foi quando eu descobri o mangá nos meus 12 anos. Ver no papel uma versão daquilo que eu via na TV abriu portas na minha cabeça. Algo como “nossa, desenho animado é praticamente magia negra, mas algo assim eu consigo fazer!” Desde então eu nunca mais parei. 

Como está sendo viver o dia do quadrinho nacional depois do lançamento de “Pela Última Vez” por uma editora grande e com mais gente querendo conhecer o seu trabalho e você?

Alec: É sempre uma surpresa quando me dou conta de quanta gente lê (e gosta) do que eu faço. Eu sempre escrevi coisas das quais eu gostaria de ler, então construir um público nunca foi um “objetivo”, digamos assim. Ver quantos corações meu trabalho conseguiu alcançar é uma coisa emocionante. Fico pensando em como o Alec do passado, que não mostrava nada pra ninguém, reagiria ao saber isso…

Sabemos que há mais histórias além das que a NewPOP já publicou. O que podemos esperar nesse ano de 2024?

Alec: Esse ano promete! Decidi filtrar um pouco os eventos para expor para me comprometer mais com a produção dos quadrinhos. Quero lançar pelo menos mais dois! Um está praticamente pronto inclusive. 

Falando em histórias, como essas narrativas surgem pra você? Seu processo criativo é muito demorado na concepção delas?

Alec: Difícil estabelecer um padrão. As vezes crio um personagem e a história vai nascendo a partir dele. As vezes penso numa situação e imagino no que poderia se desenrolar a partir dela. Acontece também muita “reciclagem” de ideias que eu tive quando criança que vou adaptando até começar a gostar dela de novo. Tem ideias que ficam anos de molho, fermentando, outras que nascem praticamente prontas. É uma grande brincadeira, no final.

Quanto das suas experiências pessoais você transfere pras suas histórias? É mais fácil encontrar nelas algo que você viveu ou que alguém muito próximo tenha vivenciado e você achou uma boa ideia transformar em história?

Alec: Acho que querendo ou não, tudo sai da minha vivência. Seja situações que vivi, casos que eu escutei, pontos de vista que adquiri ou até mesmo coisas que vi/li e não gostei kkkk. Acaba sendo tudo uma grande reflexão de tudo que passei até hoje. A diversão está em misturar e exagerar essas coisas, fazendo a vitamina que acaba sendo uma história nova.

Como você enxerga a importância dos quadrinhos brasileiros em nosso atual contexto social e cultural? Qual mensagem você espera transmitir com o seu trabalho?

Alec: Diferente de outros lugares onde o quadrinho nacional acabou desenvolvendo uma identidade própria, o Brasil foi mais algo que acabou absorvendo todo o tipo de influência, a ponto de a gente não conseguir definir direito uma identidade própria, e pessoalmente eu acho isso o mais interessante. A gente nunca sabe o que vai sair aqui, pode ser qualquer coisa! Não estar condicionado a alguma “escola” ou tradição acaba criando umas “quimeras” muito interessantes, algo que combina perfeitamente com a identidade nacional, no geral. No meu caso, acho que por já ter consumido tanta coisa e ter pegado mais ou menos a “linha” de certos gêneros, eu gosto de brincar com a expectativa do leitor nas minhas histórias. Pegar os clichês e dar um toquezinho de Brasil, por assim dizer kkkk

Perguntinha clássica: Qual das suas obras ou personagens é a sua queridinha e por que?

Alec: Que pergunta cruel… Gosto de todos como se fossem meus próprios filhos. Tem alguns que estão mais crescidos, resolvidos e não precisam tanto mais da minha atenção quanto outros, mas não quer dizer que não tenham seu espaço no meu coração. 

Ok, ok…E o que você tem acompanhado recentemente no meio das hqs, mangás ou outras mídias?

Alec: Eu gosto daqueles que quebram um pouco as paredes do seu próprio gênero ou de novas interpretações de algo “manjado”. “Golden Kamuy” acabou recentemente, mas se tornou meu mangá preferido da atualidade. “Dandadan” que não parece saber do limite do seu próprio no-sense, “Frieren” que é uma interpretação interessante sobre passagem do tempo, “No Home”, uma webtoon slice of life que me trouxe danos emocionais permanentes… ando lendo vários álbuns de quadrinhos ‘não mangás’ além de me aventurar pela produção independente nacional, mas creio não ter tempo nem espaço pra comentar todos kk… 

Se você fosse eleger três obras que te influenciaram artisticamente, quais seriam?

Alec: Inuyasha – Minha primeira HQ pós “Turma da Mônica”. Foi com ela que descobri o potencial de profundidade de um quadrinho. Também me mostrou que dava pra misturar ação, aventura, comédia, romance (e horror, talvez) numa mesma história, sem ter que se limitar a um “perfil de público” como muitos dos que encontrei mais pra frente. 

Fruits Basket – Tanto este quanto as outras obras da Rumiko Takahashi (Inuyasha, Ranma ½, etc) ajudaram a moldar meu tipo de humor, e como conciliar imbecilidades com uma trama dramática e até mesmo pesada sem que os temas precisem se excluir

Shaman King – Acho que mais plasticamente falando. O início pelo menos, era bem diferente da estética de mangá que eu estava acostumado a ver. Formas dinâmicas, simples, mas interessantes. Absorvi vários macetes para simplificar coisas que até então achava um saco para desenhar (dobra de roupa, por exemplo.)

Outra perguntinha clássica: O que mudou do Alec iniciante para o Alec que conhecemos agora?

Alec: Acho que as únicas coisas que NÃO mudaram foram a alegria de fazer quadrinho e a vontade de aprender, e por causa dessa última que sou essa pessoa que sou hoje. Está sendo um caminho gratificante.

Por fim, o que você diria pra galera que pensa em começar nessa área de ilustração?

Alec: Vou ser bem sincero, o desenho é uma carreira ingrata. É muito tempo se dedicando a melhorar técnicas para no final odiar tudo o que produziu. Daí quando você finalmente acha que chegou num resultado razoável, você abre o Instagram e vê que fulaninho fez algo estupendamente lindo em menos tempo com apenas 14 anos.  

Não tem muitas carreiras dispostas a pagar muito e talvez você tenha que se aventurar em águas profundas para conseguir fazer uma renda extra. 

Mas claro que para quem está realmente determinado, não é isso que vai te assustar. O importante é que é divertido, e nada nem ninguém vai fazer exatamente aquilo que você, com sua vivência experiência vai fazer (sim, nem a IA!). É uma forma de deixar um legado pro mundo, e mais que isso, uma forma de prolongar a vida, vivendo quantas vidas quiser. No fim, é por isso que a gente faz o que gosta, porque é divertido.

Alec, muito obrigado mesmo pela disponibilidade e atenciosidade. Sei que tem muita gente que vai querer te conhecer ainda mais agora, assim como as suas histórias. Muito sucesso! E fala onde essa galera pode te encontrar na internet ou na vida real.

Alec: Eu virei quase um tipo de eremita nesses últimos tempos, mas as vezes apareço para dar o ar da graça no instagram (@castelodoalec) ou X/twitter (@alelecleclec). Na vida real eu costumo aparecer em alguns eventos com espaço para artistas, como POCCON, FIQ, Anime Friends e até então CCXP, embora eu e essa última estejamos um pouco brigados então fique um tempo sem aparecer. 

Estou estudando a possibilidade de eventos em outros estados além de São Paulo e Minas Gerais (de onde sou), mas para alguém que é refém de ônibus as opções até agora são um pouco limitadas.

E assim chegamos ao final dessa semana especialmente dedicada ao quadrinho nacional. Não deixe de prestigiar nossos artistas e suas obras. Com certeza tem alguma história 100% brasileira esperando você encontrá-la para se apaixonar. Até a próxima!