Análise: Viva – A Vida é uma Festa

Divulgação. © Disney/Pixar

Este texto contém spoilers moderados.

Viva – A Vida é uma Festa (Coco), nova animação da Pixar sobre o Dia dos Mortos, chega aos cinemas brasileiros aproximadamente dois meses e meio após ser lançada no México, onde foi apresentado inicialmente no Festival de Cinema de Morelia.

Tendo uma chegada conturbada ao Brasil pelo boicote promovido por algumas redes de cinema à Disney, este é mais um trabalho excepcional da Pixar, que merece ser apreciado, e que mesmo em meio a todos os problemas, em minha sessão, todas as poltronas estavam ocupadas.

Divulgação. © Disney/Pixar

A animação acompanha a história de Miguel, um garoto que sonha em ser músico, inspirado pelo seu ídolo Ernesto de la Cruz, porém é impedido por sua família, que odeia música, pois seu tataravô abandonou a esposa e a filha para seguir a carreira de músico, e por isso sua tataravó baniu essa arte; uma proibição que perdurou por gerações. No Dia dos Mortos, por tentar roubar o violão de Ernesto de la Cruz, Miguel e seu cachorro, Dante, vão parar na Terra dos Mortos e para voltar, ele deve receber a benção de alguém da família até o fim do dia, pois caso contrário ficará lá para sempre. Com a ajuda do esqueleto Hector para resolver esse problema, ele parte rumo conseguir esta benção, para poder voltar para casa e se tornar músico, até o pôr do sol.

Divulgação. © Disney/Pixar

Logo em sua introdução, o filme apresenta suas temáticas, as questões de sonhos e família, e a forma que vai aborda-las, valorizando a cultura mexicana. É possível perceber isso através da bela animação que cria vida nos papéis picados pendurados nos varais, enquanto Miguel conta a história.

O roteiro de Adrian Molina é muito bem construído, fazendo a história evoluir em um ritmo ideal e envolvendo o espectador com os personagens, a festividade e a mágica Terra dos Mortos. Esse envolvimento acaba fazendo com que o público já tenha ideia das respostas dos mistérios da história antecipadamente, já prevendo o final, porém não é algo que estrague a experiência ou a torne menos emocionante.

É possível notar também que as pesquisas e viagens realizados no início dos 6 anos de produção deram resultados, pois a história é construída baseada nas crenças do Dia dos Mortos, como a questão de por as fotos para os parentes falecidos virem visitar, e além disso possui outras referências na história, como algumas situações típicas de novela mexicana.

A intenção do diretor Lee Unkrich (Toy Story 3), de a música ser parte fundamental da história que está sendo contada foi concretizada, pois eles conseguiram inserir muito bem as envolventes canções com partes em espanhol, que valorizam a família e a cultura mexicana e falam sobre as dificuldades e reflexões de um garoto latino de uma família sem altas condições financeiras e de uma pequena cidade, mas com talento e a história de seu ídolo que alcançou o sucesso, possuindo as mesmas origens e o mesmos talentos. As músicas passam isso em trechos como “a música é a minha língua e o mundo é a minha família”.

Divulgação. © Disney/Pixar

Mais uma vez a Pixar entrega inovações tecnológicas na animação, onde é possível perceber que houve um estudo sobre a arquitetura mexicana, seja na representação de Santa Cecilia ou na criação da Terra dos Mortos, que possui várias influências dela em suas partes mais baixas até ao topo, visto que a cidade se expande para cima com a chegada de novos habitantes. O variado e criativo uso de cores e iluminação permite a criação de diversos detalhes e texturas no local, nos esqueletos e nos alebrijes (criaturas místicas assombrosas), que os tornam únicos. Foi tanto trabalho para detalhar e representar bem que vale a pena mencionar alguns, como o movimento dos esqueletos e do cão Xolo, o posicionamento dos dedos de Miguel ao tocar o violão, a textura das pétalas na ponte… Enfim, até covinhas colocaram.

No fim, Viva – A Vida é uma Festa consegue representar e homenagear muito bem a cultura mexicana, especialmente em seu visual deslumbrante. Narrativamente, o filme não surpreende e não trás nenhuma grande inovação, mas é bem construído e consegue ser emocionante ainda assim. Além disso, ele traz as melhores características da Pixar, conseguido facilmente ser a melhor produção do estúdio lançada após DivertidaMente.