Análise | Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo | É cedo demais para um amadurecimento

Por: Marcus Vinícius

O ANMTV foi convidado para conferir com antecedência o mais novo filme da Mauricio de Souza Produções em parceria com a Imagem Filmes – Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo.

Introdução

Antes de tudo, se você é um típico leitor dos clássicos gibis da Turma da Mônica, mas nunca consumiu ou desconhece a proposta do moderno gibi da Turma da Mônica Jovem, certamente irá estranhar seu novo longa em live-action.

Como o próprio nome se refere, Turma da Mônica Jovem (TMJ) explora as versões adolescentes da nossa querida turminha, mostrando a evolução e o amadurecimento de cada personagem, sendo uma ótima oportunidade de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de cada membro.

No entanto, os gibis da TMJ não só abordam as relações comuns dos personagens, mas também passam a trabalhar com uma proposta nunca utilizada em suas histórias infantis, que é a abordagem de elementos remetidos aos mangás de terror, trazendo conteúdos de ficção científica de forma consolidada no cotidiano do bairro do Limoeiro.

Superada essa questão que visa trazer mais familiaridade para as novas aventuras e uma justa amenização de uma possível (ou provável) estranheza, partiremos para o mérito da adaptação em filme!

Primeiras Impressões Positivas

Reflexos do Medo começa com o tão aguardado reencontro da turma após longos dois meses de férias, apresentando novas versões da Mônica, Cebolinha (agora conhecido como Cebola), Cascão, Magali, Milena e Do Contra (intitulado agora como “DC”).

Bem, é fato que o elenco apresentado nos dois filmes e na série da Turma da Mônica é impecável, muito amado pelo público e possuíam bagagem de sobra para explorar mais e mais histórias, entretanto, a apresentação do novo elenco é feita de forma bem confortável através de atuações dinâmicas e naturais, mostrando com louvor que cada ator possui forte potencial para incorporar seu personagem, e em questão de segundos é possível sentir um interesse genuíno por cada um, deixando os fãs inteiramente instigados em querer conhecer mais cada qual lhe é reapresentado.

Como já explorado nos gibis juvenis, a relação da Mônica com o Cebola passa a se tornar mais amorosa ao passo em que velhas implicações são superadas, dando espaço para uma admiração mútua e amorosa entre os dois (beirando ao namoro), enquanto a amizade entre as meninas (Mônica, Magali e Milena) permanece forte como sempre, assim como a fidelidade entre a dupla “Cebolinha” e Cascão.

Reunidos ali no nostálgico “campinho” do Limoeiro, a turma refaz seu juramento de amizade (numa leve pegada de “IT”), renovando seu compromisso de companheirismo, parceria e união, algo bastante gostoso de se ver na medida em que você é um leitor que cresceu acompanhando a Turma da Mônica e agora tem a oportunidade de conferir a mais nova fase de suas vidas.

Entretanto, não é exatamente por aí que o filme segue, deixando um gosto de “quero mais” bem no início que infelizmente não é entregue no decorrer e conclusão do longa.

Uma Aventura Carregada de Diversão e Terror

Apesar do nosso grande apego ao foco no emocionante desenvolvimento das relações dos personagens (que no fim é o que todo mundo realmente quer), o próprio nome do filme (Reflexos do Medo) não mente na entrega do que se propõe: a exploração do gênero Thriller através dos personagens da TMJ.

O grande foco do enredo gira em torno da lenda do Cabeça de Balde, um vilão com capacidade de aprisionar os alunos do Colégio do Limoeiro em um eterno estado de looping, onde cada vítima terá que lidar com suas fraquezas e confronto do próprio “eu”.

Com as intervenções dessa lenda diabólica, a TMJ é obrigada a solucionar o caso enquanto seus amigos e demais alunos são alvejados um a um, onde inevitavelmente, cada personagem da Turma é forçado a conflitar seus medos para tentar se libertar daquela dimensão de prisão criada pelo mais novo vilão.

A partir desta premissa, o público tem a oportunidade de conhecer novas habilidades dos personagens, como a utilização de feitiçaria da Magali (agora membro da Sociedade de Feiticeiros) e o ágil uso do Parkour do Cascão, sem contar as habilidades já conhecidas pelo público, como a super-força da Mônica (porcamente explorada), os planejamentos “infalíveis” do Cebola e a genialidade da Milena, o que acaba se constituindo em um grupo “útil para combate” apto a enfrentar tudo pelo bem da amizade em equipe, por uma certa perspectiva.

Contudo, as misturas desses elementos não conseguem se casar muito bem, primeiro por conta da “grande solução” da ameaça em questão, que se dá de forma extremamente genérica (e até saturada), deixando completamente óbvio como tudo ali irá se resolver, impactando diretamente na emoção e interesse de quem está assistindo ao filme (já sabendo como tudo vai acabar), e segundo por conta da pouca exploração da juventude dos personagens, deixando este assunto indispensável bem raso

Conclusão

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo nos oferece duas propostas: o desenvolvimento de assuntos interpessoais entre os personagens (seja amoroso ou conflituoso) e o enfrentamento de um poderoso vilão, prometendo uma solução combinada dos assuntos que aparentemente não se mostra difícil de ser entregue, mas acaba se perdendo nos seus objetivos, acarretando em um confronto fictício finalizado com soluções superficiais, enquanto deixa de lado a desenvoltura das relações provocadas inicialmente no filme.

O tamanho do público consumidor das revistas da Turma da Mônica Jovem é consideravelmente inferior ao público que se apegou ou se limitou aos gibis infantis da Turma da Mônica, contudo, isto não é razão suficiente para uma má impressão do longa, mas os que conhecem as sagas da TMJ com certeza sentirão falta de elementos básicos que foram corriqueiramente trazidos ao longa.

Observa-se que o erro certamente não está no impecável elenco ou na abordagem do gênero de terror japonês (já conhecido nas revistas), mas sim no roteiro que deixa a desejar na construção dos acontecimentos, apresentando uma equipe formidavelmente interessante com um vasto potencial de exploração, mas que infelizmente é “abandonado” em uma história razoavelmente evoluída, acarretando na entrega de um fraco desfecho no conflito com o antagonista e nas relações pessoais da nossa querida Turma da Mônica.

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo está em cartaz nos cinemas.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*