Análise: Totto-Chan – A Menina na Janela | Compreensão e afeto fazem a diferença

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A Sato Company está trazendo um novo filme em anime para os cinemas brasileiros, o emocionante Totto-Chan: A Menina na Janela. Lançado originalmente em 2023 no Japão, o projeto é baseado no livro autobiográfico de Tetsuko Kuroyanagi – uma atriz famosa da Terra do Sol Nascente. A produção é do estúdio Shin-Ei Animation.

A história acompanha a infância de Tetsuko, chamada por seus pais de Totto-Chan, e se inicia em 1940 – no início da 2ª Guerra Mundial. Mesmo em um período tão horrível, não vemos os horrores do conflito neste começo e a vida ainda segue com certa normalidade, com poucas notícias sendo divulgadas no rádio.

Com esta tranquilidade, a única preocupação dos pais da pequena Totto é encontrar uma nova escola para a menina, que acabou expulsa da antiga por ser muito espontânea e criativa, o que acabava atrapalhando as aulas e desconcentrando o restante da turma.

Por não ser um psicólogo ou psiquiatra, não posso afirmar tal diagnóstico, mas o comportamento de Tetsuko é semelhante ao de alguém com déficit de atenção, além de hiperatividade e, se isso pode acabar sendo mal julgado em 2025 – imagine em 1940. As atitudes da criança são tratadas como inadequadas pela sociedade.

Shin-Ei Animation / Divulgação

Ao escutar sobre uma pequena instituição chamada Tomoe, a mãe de Totto a leva para uma visita e uma conversa com o diretor do local, o educador Sosaku Kobayashi. Tida como uma escola experimental, o método de educação é totalmente diferente e busca compreender e aceitar as diferenças de cada aluno.

Este olhar mais afetuoso torna-se o grande diferencial nestes primeiros anos da menina na escola, sua curiosidade e talentos não são menosprezados. Cada detalhe e gosto pessoal importam, incentivando o interesse de cada um e proporcionando uma estadia melhor em sala de aula. E o melhor é que isso não é algo inventado, afinal, o filme é baseado em um livro autobiográfico. Escolas como esta existem e deveriam se tornar um modelo para as demais, ao invés de serem uma exceção.

A leveza deste projeto até lhe faz esquecer o período em que ele se passa, todavia, o filme não está preso em 1940 e os anos vão passando nos fazendo observar a progressão da situação global. Infelizmente, o Japão participou da guerra ao lado do Eixo, composto pela Alemanha e Itália – mas não se surpreenda ao não enxergar uma antipatia do povo a este fato. Pelo contrário, a sociedade vibra e enaltece seus soldados – com as crianças sonhando em crescerem para tornarem-se combatentes.

Shin-Ei Animation / Divulgação

Com o aumento da tensão, a família de Totto-Chan passa a nutrir uma certa preocupação: seus pais lhe pedem para que os chamem pelos nomes japoneses de papai e mamãe, Oto-san e Oka-san, ao invés de mama e papa. O medo era que pensassem que a família fosse composta por espiões.

Em outro momento, o governo aconselhou que as mulheres se vestissem de modo simples e pouco extravagante, como uma japonesa tradicional. Vemos uma situação onde parece ficar subentendido que os pais de Tetsuko não compactuam com toda esta situação e envolve um oficial intimando sua mãe em via pública.

No último ano da Segunda Guerra, Totto está crescida e o país vem piorando – com falta de alimentos básicos e a necessidade de mudança para locais afastados de grandes cidades. Ainda assim, observamos afeto entre os personagens e um pouco de esperança pela vida, de certo modo. O final deixa este ponto ainda mais nítido, terminando com um gosto agridoce.

Totto-Chan prova que uma educação acolhedora e menos baseada em regras convencionais são um grande diferencial na vida de todos, ainda mais em crianças que estão iniciando a vida estudantil. A seu próprio modo, também mostra como conflitos possuem diferentes visões mas com os mesmos resultados: medo, destruição, lágrimas, fome e saudades de tempos pacíficos.

Nota: 8/10

Agradecimentos a Sato Company pelo envio antecipado do material.

Totto-Chan: A Menina na Janela estreia dia 9 de outubro nos cinemas

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*