Análise: Thunderbolts* | salve o mundo e não desista de si mesmo

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Quem imaginaria que a Marvel Studios abordaria temas tão profundos por meio de personagens tão moralmente questionáveis?

Após a recepção morna de Capitão América: Admirável Mundo Novo, Thunderbolts* assumiu a difícil missão de reconquistar o interesse de um público cada vez mais cético, apostando justamente em figuras que não possuem mais nada a perder — inclusive a esperança de redenção. Mas será que essa combinação improvável funcionou?

De início, é justo reconhecer que o discurso promocional de “filme diferente” não foi apenas uma jogada de marketing. Thunderbolts* realmente se apresenta como uma das propostas mais sombrias e maduras do MCU, a ponto de dispensar comparações diretas com outras produções do estúdio — ainda que seja, em essência, o resultado inevitável de todas elas.

O que, afinal, destaca o diferencial de Thunderbolts* dentro do Universo Cinematográfico Marvel? Um dos principais acertos está na química entre os personagens, sustentada por uma narrativa objetiva e bem amarrada. A equipe — formada por puro acaso e caos — reúne mercenários, hipócritas e fracassados. E o que poderia dar errado com um grupo tão disfuncional? Absolutamente tudo.

Marvel Studios / Divulgação

Mas é justamente nesse colapso catastrófico que reside a chance de contar uma grande história. Ao trabalhar com personagens marginalizados e emocionalmente quebrados, o filme ganha liberdade para explorar conflitos internos e crises de identidade sem a pressão da expectativas de grandes legados. E esse é um diferencial poderoso.

Yelena Belova, já conhecida do público por suas participações anteriores, finalmente ganha aqui o espaço necessário para um mergulho mais profundo em sua psique. A personagem carrega um vazio existencial angustiante, que dia após dia a empurra para a beira do abismo — um retrato doloroso, mas necessário, da luta contra o vazio existencial.

Sua jornada, de certa maneira, se identifica com a do Sentinela, novo personagem que é um experimento governamental falho que vive atormentado pelos próprios fantasmas. Juntos, Yelena e Sentinela basicamente se tornam os pilares emocionais do filme, conectando-se por suas dores idênticas e distintas e pela busca desesperada por algum sentido na vida.

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Os demais personagens não ficam atrás: o Guardião Vermelho, preso em um ciclo nostálgico por não superar sua era de ouro; o Agente Americano que, em poucos minutos como Capitão América, manchou sua reputação; Bucky Barnes, que tenta se adaptar a um mundo político sem muito norte; Fantasma e Treinadora, ainda vagando nas sombras de si mesmas; e até Valentina Allegra de Fontaine, envolta em um passado tão obscuro quanto sua atuação atual.

Essa reunião de figuras quebradas resulta em cenas de ação divertidas e memoráveis, mas também permite abordar com sensibilidade temas delicados como depressão, desânimo e a perda da autoestima. Cada personagem se torna um espelho de dores silenciosas que muitos evitam encarar — e é exatamente isso que os torna tão humanos e, paradoxalmente, tão heroicos.

Não estamos falando aqui só sobre um filme de redenção e ressignificação dos personagens, pois, apesar de possuir tais pontos, o longa mergulha sem medo em questões mais profundas de cada indivíduo, ultrapassando os limites da razoabilidade de forma que inevitavelmente provoca uma justa reflexão na vida de quem o assiste.

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A Marvel, dessa vez, acertou ao transformar os defeitos mais profundos de seus personagens em metáforas poderosas para uma mensagem simples (ou até mesmo clichê), mas essencial: não desista de si mesmo!

Thunderbolts* é, sem dúvida, uma exceção dentro da fórmula Marvel — e é justamente por isso que funciona tão bem. Dinâmico, envolvente e, acima de tudo, surpreendente, é o clássico “filme que ninguém pediu”, mas que, no fim, se revela como o “filme que todos precisavam”.

Para Thunderbolts*, minha nota é 8,5/10. O filme estreia dia 1º de maio nos cinemas.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV