Análise: The Stranger by the Shore | O Amor pode acalentar a dor

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The Stranger by the Shore é um título que descobri por acaso na Crunchyroll e simplesmente me vi apaixonado por este filme de 58 minutos. Baseado na obra escrita por Kanna Kill, a adaptação tem foco no primeiro volume do mangá, mas não se engane com a duração — o trabalho é simplesmente majestoso, com uma estética que lembra demais as paisagens bucólicas vistas em Violet Evergarden.

Com direção de Akiyo Ohashi e produção do Studio Hibashi, somos apresentados a uma história muito empática sobre como duas almas solitárias podem acalmar um pouco a dor que ambos possam sentir. Enquanto assistia e me deslumbrava com cada detalhe e fala – eu nem sequer toquei no celular durante este momento solene -, pensei que a duração poderia ser maior e que alguns tópicos seriam interessantes se fossem melhor desenvolvidos, entretanto, o filme adaptou o mangá de forma fiel. Então, paciência.

Ok, mas quem são estas almas solitárias? Seus nomes atendem por Shun e Mio. Shun é um romancista que vive com sua tia em uma pequena ilha do Japão e lhe auxilia na pousada/restaurante que administra. O passado do rapaz é envolto de melancolia. Ele morava com seus pais até o dia em que resolveu contar sobre si para eles e a reação não foi positiva, o que lhe motivou a abandonar sua casa e cortar relações com sua mãe e, principalmente, seu pai.

Studio Hibari / Divulgação

Mio, por outro lado, sempre viveu nesta pequenina ilha com sua mãe. Porém, a mesma faleceu e o garoto passou a viver sozinho. Diante da solidão, ele passa várias horas do dia e da noite sentado em um banco de frente para o mar, o observando. Em português, o longa se chama O Estranho na Praia, justamente por causa do Mio. Isso chama a atenção de Shun, que acaba se preocupando com este comportamento solitário e tenta iniciar uma aproximação.

A princípio, o menino da praia repele a presença do escritor, até perceber que foi indelicado e que o mesmo só desejava ajudar da forma que podia: com sua companhia e simpatia. A rejeição, no entanto, faz Shun reviver antigos traumas, sendo gay, ele possui uma visão ruim de si e dos seus desejos e sentimentos por conta das atitudes errôneas de colegas da escola e de sua família.

Este é um dos tópicos que poderiam ter sido melhor desenvolvidos, mas o longa apenas deixa que os poucos flashbacks nos introduzam neste background do personagem e nos faça simpatizar com ele. De antemão, eu digo que conseguem sim, principalmente se quem estiver assistindo passou por situações semelhantes. A solidão na alma do Shun vem destas rejeições, destas violências que sofreu o que o fez desenvolver este sentimento de não se encaixar e de não pertencimento ao ambiente em que residia.

Studio Hibari / Divulgação

Mio, por outro lado, tem uma solidão mais palpável, eu diria. Ele não possui parentes, ao menos é o que a trama nos mostra. Sua mãe faleceu, assim como seu pai anos antes dela. Seus flashbacks ocorrem com os momentos que passou ao lado de sua mãe, enquanto era pequeno e feliz. Seu olhar do mundo tornou-se pesado e cinza, mas com Shun, a alegria voltou ao seu rosto.

Como uma boa comédia romântica, se é que podemos categorizar este filme neste gênero, Shun e Mio acabam se apaixonando. Mas o diferente está na trajetória. Shun entende seus sentimentos, mas não sabe lidar com eles, chega a ser irritante assistir sua relutância em admitir o que sente e permanecer repelindo Mio com medo de que o esteja privando de viver uma vida ‘normal’. Porém, lembramos de todo o trauma que ele passou e de como seu desejo foi sempre tratado como “errado”, no fundo, ele quer poupar seu novo amor de situações ruins como esta.

Mio não se importa. Isso é o que move o filme e o que nos faz vibrar por eles. Mio não se importa. Ele quer, ele deseja, ele sente e ele não teme. Ele segue em frente e tenta de todas as formas fazer o escritor entender esta paixão de uma vez por todas. O garoto da praia chega como um tsunami na vida de Shun, para lhe mostrar que sim, o amor entre dois homens existe, é possível e ninguém pode mudar isso.

Studio Hibari / Divulgação

A obra ainda possui um segundo volume, que continua exatamente de onde o filme parou. No entanto, ele não foi animado e não há uma previsão que isso ocorra – mas eu espero muito que seja algum dia. De toda forma, esta animação é muito completa e redondinha, não há indícios de que algo não foi concluído e você entenderá quando assisti-lo.

Este anime nos faz lembrar, ainda mais neste Dia do Orgulho, que nossa existência importa demais. Por mais que possamos nos sentir sozinhos, tem sempre alguém ali ao nosso lado nos apoiando e encorajando de certa forma. Pois, como dito acima, Shun pode não viver com os pais – mas ele vive com sua tia carinhosa e ainda possui duas amigas que sempre torcem para que ele seja feliz.

Nota: 9/10 – só porque eu queria mais do que 58 minutos.

The Stranger by the Shore está disponível na Crunchyroll, com opção de áudio original e legendas em português.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*