Análise: The Last of Us – uma bruta adaptação

Reprodução.

A HBO liberou no último domingo (12) o último episódio da primeira temporada de The Last of Us. Farei uma análise sobre essa produção levando em consideração a sensibilidade dos criadores Craig Mazin (Chernobyl) e Neil Druckmann (Uncharted: Fora do Mapa), bem como a atuação dos protagonistas Pedro Pascal e Bella Ramsey, interpretando respectivamente os personagens Joel, um profissional da construção civil e Ellie, a estudante que fala palavrões.

Uma adaptação do jogo de mesmo nome, disponível para o PlayStation 3/4 e 5, além do PC desde 14 de junho de 2013, a série que estreou dia 15 de janeiro de 2023 também é fiel ao aspecto humano e sua maneira de se adaptar à um surto apocalíptico. Uma liberdade poética adequada para suas respectivas mídias, inicialmente pensada para o público jogador e posteriormente o público espectador, passando a interagir apenas com o play, pause e demais ferramentas de exibição de vídeo.

Afetando apenas os seres humanos vivos, a epidemia causada por uma variante do Cordyceps tem seu desenvolvimento fúngico enraizado no cérebro humano e se espalha para o corpo. Após a contaminação inicialmente dada pelo contato com plantas, mofo e eventualmente pelo próprio cadáver humano já consumido, que quando infectado passa a liberar esporos infecciosos por meio de mordidas. Ao contrair o fungo gradativamente, o hospedeiro se transforma em um forma híbrida, agressiva e mortífera em 4 estágios: corredores, perseguidores, estaladores e baiacús.

HBO / Divulgação

É nesse ambiente inóspito em que os caminhos de Joel e Ellie se cruzam, tendo cada um sua porção de perdas pessoais bastante elevadas, mas não somente eles. A filha de Joel, Sarah (Nico Parker), já tinha uma delicada relação com seu pai após a morte da mãe. No entanto, a jovem tem também sua vida interrompida ao ser fatalmente baleada por um soldado do exército, durante uma fuga desesperada.

Para a Ellie a perda chegou a ser pior, porque ela nem pôde ver seus progenitores vivos em razão de sua primeira infecção a partir de um ferimento materno antes de seu nascimento e posteriormente com a mordida durante uma aventura ao lado de Riley Abel (Storm Reid) sua amada e amiga, até o fim da vida dela. Destino que, após também ser mordida, se apresentou diferente para a nossa jovem, geniosa e inteligente protagonista, fazendo dela a esperança para a cura dessa doença, mas igualmente a submetendo à situações nada hospitaleiras enquanto se distraia com piadas bobas, brinquedos, brincadeiras com um olhar ainda de criança e para descobertas complementares ao que aprendeu na escola, com uma didática de sobrevivência de seu tutor e sua postura ríspida, dura e cínica.

HBO / Divulgação

O total abandono ao longo do crescimento da Ellie era algo que marca também os locais por onde ela passava ao lado de Joel, tendo uma característica predominantemente esquecida, ou seja, escombros tomados por vegetação, animais silvestres – com direito a um bando de macacos e até uma manada de girafas. Enquanto fugiam e resistiam, se apresentavam mais espertos e sortudos do que a Tess (Anna Torv), pois antes de ser morta, foi literalmente abusada ao ser beijada na boca por um infectado como jamais aconteceu em séries ou jogos, nada humanamente romântico e esperado que acontecesse com Joel. E beijo foi o que não faltou para o casal Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), com direito a cenas que justificavam a classificação indicativa para +16 até o fim de suas longevas vidas em lockdown.

HBO / Divulgação

Uma vida totalmente aleatória se apresentava obrigando os últimos seres humanos vivos restantes a verem mais um nascer do sol e se comunicando até por meio das libras, como no caso de Sam (Keivonn Woodard) o irmão mais novo e surdo de Henry (Lamar Johnson), evidenciando assim a importância do silêncio como um recurso indispensável na fuga contra infectados até onde era possível, pois em tempos de epidemia apocalíptica, até um tiro na cabeça de um ente querido, pode ser visto como um método infalível nessa batalha em prol da vida e para evitar a ameaça de proliferação, tragicamente extinguindo assim a existência de mais uma família.

Diferentemente da relação entre irmãos que precisou ser reavivada quando Joel reencontra Tommy (Gabriel Luna), bem sucedido em uma comunidade e intensificada por saber que seria tio, mas dispersada em seus surtos de ódio que eram nada além da expressão de grande temor. Enquanto isso, Ellie descobria o uso do dio ao se deparar diante desse preservativo enquanto se vestia ao se preparar para dar continuidade à jornada a caminho da faculdade ocupada por rebeldes vagalumes, abalando mais uma vez a relação “padrasto/enteada” após o ferimento de Joel. Isso forçou Ellie a passar por uma prova de vida ao precisar cuidar da sua única razão de viver que é o Joel, enfrentar sozinha outra comunidade fundamentada pela fé mas com costumes canibais no meio de uma troca entre o cervo que ela caçou pelo medicamentos para um ferimentos de bala causado por seus integrantes, em razões que vão desde a proteção contra invasões, vingança por terem sido eles quem mataram anteriormente outros integrantes do grupo que faziam expedições por outras cidades. Ela, que quase vira comida para a comunidade, morde o Pastor David (Scott Shepherd), fala que está infectada e posteriormente o esfaqueia inúmeras vezes até a morte.

HBO / Divulgação

Por fim, mas com cara de que vem mais por aí, a dupla segue a vida rumo à salvação, se deparando diante de todo tipo de situação pelo caminho, trocando confidências, juramentos, desejando até encontrar um bom violão para tocar — o que faz pensar em toda trilha sonora da série — , se deparam com um acampamento hospitalar típico das forças armadas e um prédio hospitalar — este último, palco de uma verdadeira chacina orquestrada pelo Joel ao ser capturado e saber da operação que ameaçam a vida da Ellie envolvendo até Marlene (Merle Dandridge), amiga de Anna (Ashley Johnson), mãe da Ellie, por estar totalmente tomada pelos ideais Vagalumes em meio às hipóteses científicas apresentadas desde o início da série e que os dois protagonistas já sabiam e por isso estavam ali. Assim, essa série que é um derivado impecável da 7ª e da 10ª Arte e oferece ao público a histórias de um “zumbiverso” no ponto de vista mais humano e tudo aquilo que descaracteriza seu ser pensante e sentimental, ameaçado pelo variante cordyceps.

The Last of Us está disponível com dublagem e legendas em português no HBO e HBO Max. São 9 episódios no total da temporada.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*