Análise: Superman – Um começo promissor ao universo DC

Reprodução.

Antes de começar a falar sobre Superman, é importante lembrarmos pelo menos um pouco dos eventos que nos trouxeram até aqui, ou melhor, que nos proporcionaram que este filme fosse produzido: o fracasso do universo cinematográfico DC (ou DCEU), ironicamente iniciado por outro projeto do azulão, O Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder em meados de 2013.

Na época, a divisão foi imediata, dá forma como o diretor interpretou sua visão do personagem, como sendo uma figura messiânica e extremamente poderosa. Ok, você tem todo o direito de considerá-lo um filme até bom, mas nada além disso. Um símbolo de esperança? Definitivamente não. Ele é poderoso e somente isso.

Tudo bem que inicialmente O Homem de Aço não tinha pretensão de dar início a toda a narrativa que culminaria no nascimento do DCEU, mas aconteceu, com uma série de filmes seguidos que foram responsáveis em afastar cada vez mais o público a medida que um novo lançamento desembarcava nos cinemas — público e receita cada vez menores. Os desdobramentos disso todos nós já sabemos, sendo negativo para todos os lados, mas principalmente no que diz respeito a marca DC.

Superman de James Gunn chega com a difícil tarefa de apagar toda a imagem negativa que perdurou por tantos anos entre filmes de medianos a medíocres (com uma ou outra exceção), mostrando que os problemas em torno das histórias não eram culpa dos personagens, como já chegou a ser apontado, mas sim de quem os conduzia narrativamente. Se este longa será um sucesso, é difícil prever, mas para além de uma bilheteria grandiosa, está a preocupação em torná-lo atrativo o suficiente em manter o interesse para mais.

Sendo um dos projetos mais quadrinescos do cineasta, Superman começa em ritmo frenético, que imediatamente mergulham o espectador na história e nos dão uma perspectiva do que está por vir. Estamos sim diante de um dos personagens mais poderosos da DC (e da concorrência também), mas ele não é invulnerável, ele é capaz de sofrer, sentir dor, medo, angústia. E nós sentimos junto com ele.

Um dos ponto mais altos do filme não está nos efeitos visuais ou trilha sonora (sem pontos negativos, diga-se), mas na condução de todos os personagens na trama, que fazem a roda girar e tornam todo o restante apenas complementos à narrativa (não deveria ser sempre assim?). A participação do Krypto traz um toque ainda mais especial, já que é quase impossível não esboçar um sorriso ou preocupação do que pode acontecer quando ele surge em tela — sendo algo que Gunn sabe trabalhar como ninguém. É quase que uma assinatura de carreira.

Warner Bros. / Divulgação

A escalação de David Corenswet como o Homem de Aço foi certeira. Do começo ao fim você nota que houve uma entrega absurda do ator ao papel, seja nas situações em que esteja salvando civis em meio ao caos, resgatando animais ou simplesmente estando presente, as expressões, comportamento, nos dão conforto, admiração e por um instante, nos transporta para fora da realidade e nos faz acreditar que heróis existem e ele é o Superman.

Algo que se estende para todos os demais. Nicholas Hoult como Lex Luthor está absurdo. As motivações por trás de derrotar o Superman são trabalhadas de modo que você faça odiá-lo a cada ação em que parece estar próximo da “vitória”. Rachel Brosnahan como Lois Lane entrega o que se espera, não rouba a cena, mas a domina toda vez que aparece. Uma química impressionante.

Em termos gerais, Superman bebe muito da era de prata dos quadrinhos, sem deixar de se importar, mesmo que suavemente, às questões atuais do nosso mundo – e que pode ser motivo de discórdia, mas nada que faça você se desligar da trama, uma reflexão posterior, que é saudável, e que quem sabe nos torne até mais humanos quanto aos assuntos do mundo. Certas coisas deveriam mesmo acontecer? Porque acontecem?

Existem alguns pontos que numa eventual sequência podem ser melhores trabalhados, como o Planeta Diário, que aqui se tornou um pano de fundo sem tanto a importância que deveria e merecia, mas dado a necessidade em se apresentar tantos personagens e torná-lo a ponta para um novo universo, é compreensível.

Fico feliz em saber e dizer que o universo DC agora sim, está em boas mãos. Não dá pra não se animar pelo futuro.

Nota: 9/10

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*