Análise: SNK vs. Capcom: SVC Chaos

Reprodução.

A Capcom tem uma história complicada com jogos de crossover. Apesar de alguns sucessos, parcerias como a da SNK mostram como esses projetos nem sempre atendem às expectativas dos fãs. Embora tenhamos visto o lançamento de Street Fighter X Tekken, a franquia Tekken nunca retribuiu a parceria com um crossover.

Além disso, Marvel e Tatsunoko não são desenvolvedoras de jogos, então, obviamente, não houve uma troca equivalente. É claro que, isso nos leva a pensar que a SNK e a Capcom estavam na mesma situação, mas esse não é o caso, embora seja compreensível achar isso. A série SNK vs. Capcom é uma curiosa exceção no universo dos jogos de crossover da companhia de games.

Tudo começou no lado da SNK com SNK vs. Capcom: Card Fighters Clash, um jogo de cartas lançado exclusivamente para o NEO GEO Pocket Color (com um relançamento recente para o Nintendo Switch). No entanto, quando se ouve SNK vs. Capcom, a primeira coisa que pensamos é um título de luta, e a empresa atendeu a essa expectativa um mês depois com SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium, um autêntico jogo de luta, também para o NEO GEO Pocket Color. Embora seja um bom título dentro de suas limitações, não é exatamente o que os fãs esperam de um jogo chamado SNK vs. Capcom.

Nos anos 2000 e 2001, a Capcom trouxe uma verdadeira revolução ao universo dos jogos de luta com os lançamentos de Capcom vs. SNK: Millennium Fight 2000 e Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001. Esses jogos, desenvolvidos pela empresa japonesa, colocavam lutadores das duas empresas frente a frente em um combate de estilo arcade. O grande diferencial desses títulos era a forma como integravam os elementos de ambos os lados, utilizando os sistemas Groove e Ratio.

Capcom vs. SNK 2 é considerado até hoje um dos melhores títulos de luta já feitos, ao lado de clássicos como Street Fighter 3: Third Strike e Garou: Mark of the Wolves, no entanto, sempre existiu a curiosidade sobre como seria um jogo Capcom vs. desenvolvido pela SNK. Alguns anos depois, tivemos a resposta com SNK vs. Capcom: SVC Chaos, que nos mostra que nem todos os crossovers são iguais. Não leve a mal, SVC Chaos não é um jogo ruim, mas é uma grande decepção se comparado às produções da Capcom. Um dos pontos altos dos jogos Capcom vs. SNK era a forma como combinavam a personalidade e a jogabilidade dos dois lados, criando um jogo que realmente celebrava os clássicos de luta das duas empresas. Já SVC Chaos parece uma versão simplificada de King of Fighters 2002 com personagens da Capcom.

Falando dos personagens da Capcom, chegamos a um dos maiores problemas de SVC Chaos: a seleção de lutadores. Embora os elencos de Capcom vs. SNK não fossem os mais inovadores, SVC Chaos talvez tenha feito as piores escolhas possíveis para o elenco principal. Com exceção de Hugo do Street Fighter 3 e Tessa do Red Earth, todos os personagens da Capcom vêm de Street Fighter 2. Esses personagens são icônicos mas, considerando que o jogo foi lançado três anos após Marvel vs. Capcom 2, que contou com um elenco diversificado incluindo nomes de Resident Evil e Capitão Commando, é um tanto decepcionante. Além disso, se você gosta de jogar com personagens grapplers, Hugo Andore é sua única opção, mas este jogo não favorece personagens que agarram.

Personagens secretos são o destaque de SVC Chaos, mas desequilíbrio no jogo frustra jogadores.

Apesar de um elenco inicial desinteressante, SVC Chaos se destaca com seus personagens secretos. Nesta nova versão, segurando L1 na seleção de personagens, jogadores podem escolher lutadores inusitados como Zero de Mega Man Zero, Demitri de Darkstalkers e Violent Ken, uma das adições mais estranhas da série Street Fighter. Além disso, há escolhas inusitadas como Red Arremer de Ghosts ‘n Goblins (conhecido como Firebrand em Marvel vs Capcom 3) e Mars People de Metal Slug, um alienígena que se comunica com “beep boop“. Contudo, esses personagens secretos destacam o maior problema de SVC Chaos: o desequilíbrio. Quase todos esses lutadores são extremamente desbalanceados como Zero, Violent Ken e, especialmente, Athena (cujos golpes normais parecem especiais) podendo derrotar o adversário em segundos.

Enfrentar Goenitz no modo arcade como Hugo é uma das experiências mais decepcionantes, devido aos projéteis quase instantâneos e ao dano excessivo. Embora não chegue ao nível de desequilíbrio de Fist of the North Star da Arc System Works, é comparável ao JoJo’s Bizarre Adventure da Capcom. Por outro lado, SVC Chaos se destaca pelo trabalho visual impressionante. Enquanto os jogos da Capcom tendem a reutilizar sprites, a SNK criou novas artes para os lutadores, que estão deslumbrantes. Destaque para personagens maiores como Earthquake de Samurai Shodown, Hugo e Demitri, que está mais bem representado aqui do que em qualquer jogo da Capcom. Sobre a versão para PS4, não há muitas novidades. É uma adaptação do jogo de arcade sem grandes acréscimos, além do modo galeria (com arte de personagens, promoções e cenários, mas sem galerias de visual).

O modo de treinamento é básico, não há opções de salvar estágios ou retroceder como em Capcom Fighting Collection, e não é possível configurar lutas 1 a 1 contra o computador, sendo o modo arcade a única escolha para praticar confrontos específicos. O principal atrativo desta versão é o modo online com rollback online, que funciona razoavelmente bem. Embora não seja tão bom quanto o netcode de Guilty Gear Strive ou Street Fighter 6, é satisfatório na maioria das vezes. Porém, as opções ao buscar ou criar partidas são limitadas. Não há indicador de conexão nos lobbies, nem como buscar por uma conexão mínima ou escolher entre conexões com fio ou sem fio. Além disso, é raro encontrar mais de 30 jogadores online, sem suporte para crossplay.

Conclusão:

SNK vs. Capcom: SVC Chaos é uma curiosidade intrigante na história dos jogos de luta. Apesar de ter a difícil tarefa de suceder um dos melhores jogos de luta já feitos, é inegável que decepciona um pouco. Há pontos positivos, como algumas escolhas únicas de personagens e uma variedade de sprites fantásticos, mas não se equipara aos melhores jogos da Capcom ou da SNK. A versão para PS4 é mediana, sem oferecer conteúdo ou recursos extras impressionantes, é simplesmente uma forma estável de jogar SVC Chaos.

Pontos Positivos:

  • Belos sprites.
  • Personagens secretos interessantes.
  • Conversão sólida para o PS4.
  • Modo online decente.

Pontos Negativos:

  • Extremamente desequilibrado.
  • Opções sem graça de personagens da Capcom.
  • Poucas novidades.
  • Não é o Capcom vs. SNK que os fãs queriam.
  • Opções online básicas.

Nota: 6/10

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