Análise | Skip and Loafer | Anime equilibra o humor e o drama com muito carisma

A temporada de animes de primavera no Japão pode já ter chegado ao seu fim mas as análises de suas produções por aqui estão só no começo. Hoje a bola da vez será uma produção que a princípio, aparentou ser apenas mais um anime genérico e com uma animação um tanto quanto duvidosa. Entretanto, ao chegar em seu último episódio, Skip and Loafer já havia lançado seu charme e cativado uma série de espectadores que amam um bom slice of life.

Para quem ainda não ouviu falar, vale aqui um pequeno contexto da adaptação do mangá escrito e ilustrado por Misaki Takamatsu: na história acompanhamos Mitsumi Iwakura, uma garota que acaba de se mudar de um pequeno vilarejo do interior do Japão, para a eletrizante cidade de Tóquio, aonde irá cursar o seu ensino médio. Mas logo no primeiro dia de aula, todo o planejamento de Iwakura escapa de suas mãos e ela acaba por conhecer o simpático Sousuke Shima. A partir daí vemos como a relação da dupla de protagonistas se desenvolve e as descobertas pessoais de Mitsumi em meio a tantas novidades da cidade grande e seus habitantes.

P.A. Works / Reprodução

Particularmente falando, é sempre muito prazeroso encontrar obras que possam te surpreender e cativar quando as fichas apostadas nelas são tão poucas, seja porque a primeira vista não parecem grande coisa ou por haver uma grande demanda de produções semelhantes e de baixa qualidade. Mas Skip and Loafer consegue fazer de cada minuto gasto em seus episódios, um verdadeiro deleite. Apesar de contar com uma animação sem muitos destaques mas ainda bem executada, a obra de Takamatsu encontra na direção de Kotomi Deai e no roteiro de Youko Yonaiyama, um caminho aonde pode exerce todo o seu frescor dramático de uma trama adolescente e ainda assim, de forma muito potente, se mostrar relevante em abordar assuntos ainda pouco explorados de maneira eficaz em animes.

Na verdade, a habilidade de equilibrar a carga dramática e a comédia, é o que faz de Skip um show incrível, pois ao mesmo tempo em que estamos rindo com o falso senso de competência de Mitsumi em lidar com seus assuntos pessoais – e que todos percebem menos ela – é também a mesma temática que levanta na protagonista e em outros personagens, questionamentos que viram dramas e que mais adiante confrontam o próprio espectador.

P.A. Works / Divulgação

Uma ajuda muito bem aplicada diante disso tudo, é também a da trilha sonora que tanto surge em instantes precisos para complementar momentos introdutório, alegres e emocionantes, quanto também “desaparece” para enfatizar os momentos mais contemplativos aonde apenas uma mordida e o som ambiente podem ser apreciados durante cenas e transições.

No que diz respeito a seus temas de abertura e encerramento: ambos consegue ser eficazes em se mesclar com suas respectivas animações. Um destaque para a carismática – e até muito bem animada – abertura e sua respectiva canção “Mellow” do cantor Keina Suda, que incorporam toda a jovialidade e leveza proposta pelo anime.

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Em justa medida, a dublagem brasileira, exerce aqui um primoroso trabalho de interpretação conseguindo captar as nuances que passam do calmo e chegam levemente a um estado de melancolia – como as falas de Shima (Vitor Mello) – ou de uma suave mas dissimulada felicidade à uma reflexão mais triste como as de Egashira (Samira Fernandes). Destaque também para o trabalho de Naiaama Belle como Mitsumi, que consegue entregar aqui uma protagonista com reações genuínas e suaves, capazes fugir das entonações caricaturescas e exageradas, comumente vistas em animes.

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Valorização naturalmente aplicada

Com uma abordagem sútil mas corajosa, a obra de Takamatsu acerta também na maneira cuidadosa em como introduz em sua narrativa personagens fascinantes em representações que, além não os esconderem em uma subjetividade poética, opta também pela humanidade e naturalidade de suas trajetórias, ao invés de pinta-los em uma caricatura com a simples função de ser o alívio cômico. É assim, por exemplo, que vemos o caso da Nao-chan, Tia da protagonista e mulher-trans, que dentro da história possui um papel relevante com sua independência financeira, pois é a única personagem capaz de acolher a adolescente na Metrópole japonesa e que com suas vivências, consegue vislumbrar boa parte da trama principal com o mínimo de informações para intervir com dicas e conselhos.

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Mas apesar de fascinante em introduções e tempos de comédia, skip and loafer não está livre de falhas. Muitos de seus desenvolvimentos, por exemplo não passam da fase introdutória. Em alguns casos, como o da própria tia Nao ou da colega de turma Mika Egashira, é compreensível que a argumentativa de ser uma primeira temporada e o foco estar direcionado na apresentação da dupla principal seja usada, deixando os outros personagens com seus passados pouco explorados. No entanto, o discurso já não tem efeito se aplicado para o próprio casal protagonista, visto que apesar de acompanharmos o que seria o desenvolvimento bem feito de Mitsumi, o mesmo já não pode ser dito do arco de Shima, que mesmo trabalhando sua jornada, ainda deixa um aspectos de sua história inacabados e com isso, uma pouca proximidade com o personagem.

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Sendo para o bem ou para o mal, Skip and Loafer termina sua primeira temporada entregando ótimas ambientações, personagens e conflitos que queremos conhecer mais e uma já atmosfera de paixão adolescente e entusiasmo pelo futuro que misturadas a uma comédia bem dosada, torna impossível não querer saber o que vai acontecer durante seus próximos episódios e possíveis temporadas. Além de ser um belo quadro de uma realidade estudantil vivida por muitos hoje (o jovem interiorano que vai a cidade grande estudar, em busca de um futuro melhor), a história é também uma refrescante brisa primaveril que 2023 sopra em nossa face e nos transfere aos anos nostálgicos de estudantes adolescentes que um dia alguns de nós já vivemos.

Skip and Loafer está disponível no Brasil pelo serviço de streaming Crunchyroll com legendas e áudio em português.