Análise | Sabikui Bisco | Agarrando antigas e ditando novas tendências

Reprodução.

Das passarelas de Rupaul’s Drag Race a identidade visual do show de Katy Perry, em Las Vegas, o fato é que em 2022, não houve outra figura tão marcante visualmente, quanto… os cogumelos. Seja em coleções de bolsas de couro de Stella MacCartney a chapéus icônicos da residência PLAY, os curiosos fungos emprestaram sua estética e origem para as mais diversas áreas artísticas imagináveis, e no que diz respeito aos animes, isso não poderia ser diferente. Afinal, depois de 2022, você nunca mais irá ouvir as palavras “anime” e “cogumelos” juntas, sem pensar em Sabikui Bisco.

OZ / Divulgação

Adaptado pelo estúdio novato OZ, o anime da light novel Sabikui Bisuko (Rust-Eating Bisco) encarou neste primeiro trimestre de 2022 uma concorrência pesada na briga pelo tão almejado lugar ao sol. Com títulos que se mostraram promissores e queridinhos pelo público, como My Dress-Up Darling e Sasaki to Miyano, Sabkui Bisco precisou entregar um resultado de qualidade para se fazer relevante. Mas será que objetivo foi alcançado mesmo? bem, pra começar, e caso haja alguém perdido, segue abaixo a sinopse da história a ser discutida:

Em um Japão pós-apocalíptico, uma praga no formato de areia corrosiva tem se expandido e dizimado a paisagem do país, após uma grande explosão, enquanto se alimenta de metais e carne. Em contrapartida, cogumelos de todos os tipos e tamanhos têm se proliferado em grande quantidade e velocidade, o que levou à crença popular de que os fungos estão conectados com a areia corrosiva. Por conta disso, o governo proibiu todo o intercâmbio que possa envolvê-los, levando Bisco Akaboshi, um homem que se alimenta e cultiva cogumelos, a ser considerado um criminoso procurado pela justiça. Akaboshi acredita na proteção dos cogumelos e que o fungo é capaz de enriquecer a terra e fazer com que o Japão volte a ser o que foi um dia. O jovem médico Milo Nekoyanagi, afim de curar sua irmã acometida pela ferrugem, acompanha Akaboshi em sua procura pelo lendário “Sabikui” uma espécie de cogumelo que dizem ser capaz de dar fim à ferrugem.

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Contanto com um super time de produtoras em suas costas (Frontier Works , YTV , KlockWorx , Flying DOG , Hakuhodo DY Music & Pictures , BS11 , Kadokawa e Bit grooove promotion), Sabikui Bisuko trata de mergulhar de cabeça na atmosfera pós-apocalíptica da trama e logo em sua abertura, apresenta uma estética – um tanto quanto datada – que não teme em brincar com os elementos 2D e o CGI questionável para introduzir seu público ao Japão desértico e devastado pela poeira de ferrugem. Com cores vibrantes e traços levemente acentuados, a impressão dada ao assistir a abertura, é de que o anime pegou os pontos visuais mais característicos de produções como “Desert Punk” e “Viewtiful Joe”, acrescentou sua essência narrativa e fez um grande megamix, resultando em um produto que, para quem já acompanhava a cena dos animes a um certo tempo, foi praticamente transportado para o ano de 2004. E se por acaso o apelo visual ainda não for suficiente, o tema de abertura “Kaze no Oto sae Kikoenai”, na voz de JUNNA, termina de fazer o serviço e leva o público a uma experiência que se assemelha a de assistir um clip perdido da banda Linkin Park na sua era “Meteora”.

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Quanto a sua narrativa, a obra opta por algumas escolhas de montagem que comprometem a compreensão do público para com a trama em seus primeiros 23 minutos e causa uma certa lentidão ao estabelecer um clímax na sua primeira leva de episódios. Uma falha que com o passar da segunda parte, consegue ser contornada e que, mesmo em seu início, ainda é levemente abafada com os seus momentos de comédia que percorrem a trama. As interações dos protagonistas, Akaboshi e Milo,  com a personagem Tirol é uma boa forma de alívio cômico na trama que, infelizmente, não investe muito nesse trio mas que nas poucas tentativas consegue acertar o tom em cheio. Ademais isso, é possível notar ainda, que pequenos furos de roteiro ocorrem durante alguns de seus episódios finais e que o tema de encerramento pouco impacta somado a animação para esta parte, que apresenta uma falta de apelo visual nas artes de fundo, sendo vistos como o ponto baixo do anime.

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Mas ainda existe glória em Sabikui Bisco. O anime conta com algumas cartas na manga que, apesar de sutis, conseguem acrescentar bastante a obra para aqueles que prestarem bastante atenção. Com uma trilha sonora competente em seus momentos de ação, a produção torna mais eficiente a inserção do público nos momentos mais eletrizantes da narrativa, assim como a proeza de relaxar nas cenas mais calmas e cômicas. A atenção a detalhes como a alteração do tema de encerramento “Houkou”, interpretada pela dupla de dubladores protagonista do anime (Ryota Suzuki & Natsuki Hanae) após determinado acontecimento na história, e a escolha de terminar o arco geral no mesmo ponto aonde a trama se inicia, com todos os personagens em cena, mostra como muita coisa no anime fora cuidadosamente pensada e que cada personagem ou local da história não fora colocado ali atoa.

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Sabikui Bisco até demora para emplacar, mas chega ao seu clímax de forma competente e entregando reviravoltas bem empolgantes, um pequeno ship, confrontos finais emocionantes e a verdade de que cada lugar e personagem são apresentados por uma razão. É, sem dúvidas, um achado no meio da coleção de inverno 2022 dos animes.

Sabikui Bisco possui 12 episódios e está disponível na Funimation, com dublagem e legendas em português.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*