Análise: Pac-Man World 2 Re-Pac: Um quarentão que está em plena “flor da idade”

Bandai Namco / Divulgação

Há um ditado quando se fala em envelhecimento (ou amadurecimento) humano que diz que: “a vida começa pra valer aos 40“, e se partirmos dessa premissa ao falarmos de Pac-Man, o personagem é talvez uma criança que acabou de dar os primeiros passinhos como filho de uma indústria que, embora não seja tão mais velha que a própria bolota amarela da Bandai Namco, amadureceu numa proporção nunca antes imaginada e de forma muito maior do que talvez o próprio mascote poderia alcançar, ao menos da forma como inicialmente foi concebido.

Criado no início da década de 80 pelo programador japonês Toru Iwatani, pouco após este olhar para uma pizza com uma fatia faltando e achar que a imagem à sua frente lembrava vagamente a de um rosto de perfil abrindo e fechando a boca para comer algo, enquanto pensava em um game que pudesse ser atraente para meninas, mulheres e até casais, a criaturinha logo passou a protagonizar um jogo de mesmo nome que em pouco tempo se transformaria não só em uma franquia, como também em um clássico absoluto dos videogames, e que mais adiante tornou-se também uma referência universalmente conhecida sobre a mídia em quase qualquer lugar do mundo.

Uma dimensão razoável que se pode ter do impacto cultural proporcionado por Pac-Man pode ser percebida nas homenagens e referências que a marca “colecionou” ao longo de suas 4 décadas de existência, seja por gigantes da tecnologia como a Google ou até mesmo em pegadinhas de programas de televisão.

Contudo, com o avanço da indústria de jogos eletrônicos, e com a chegada da quinta geração de consoles, que presenteou o público com aparelhos como o primeiro PlayStation e o Nintendo 64 e suas capacidades de gerarem gráficos tridimensionais e (até então) futuristas, a boa, mas já velha, fórmula de colocar o “Come-Come” amarelinho para devorar bolinhas em um labirinto de interface simples enquanto foge de fantasmas coloridos já não parecia mais estar tão em acordo com o futuro que vinha se desenhando adiante, e empresas do segmento como Sega, Nintendo e Ubisoft já vinham percebendo isso, articulando formas eficientes de trazer seus respectivos personagens mais icônicos para aventuras em universos 3D.

Eis que beirando a virada do milênio, em 1999, o público é surpreendido com a chegada do jogo Pac-Man World, que revoluciona a marca ao não só trazer Pac-Man para cenários tridimensionais, como também ao dar um pouco mais de profundidade e personalidade ao personagem, que agora percorria mapas que iam além de um simples labirinto e executava ações que mostravam algo mais do que ingerir bolinhas especiais que tornavam seus rivais fantasmagóricos “comestíveis”.

Não por um acaso, o game engatou duas sequências ao longo dos anos 2000 e foi alguns anos depois revivido com o remake Pac-Man World Re-Pac, em 2022. Mas e Pac-Man World 2 Re-Pac? Será que consegue “não deixar a peteca cair” expandindo ainda mais o brilho de seu antecessor? O que ainda esperar de Pac-Man para o futuro dos videogames? Siga lendo adiante para descobrir.

NOVAS AMEAÇAS E UMA AVENTURA AINDA MAIOR

Bandai Namco / Divulgação

Algum tempo após resgatar a família que formou da Ilha Fantasma, frustrando os planos do perverso Toc-Man e dos fantasmas Galaxians, que atuavam como seus aliados, Pac-Man segue aproveitando seus dias de paz na Pac-Vila, onde vive não só com sua esposa, filhos e animal de estimação como entre outros de sua espécie.

Até que durante uma noite, Blinky (vermelho) Pinky (rosa), Inky (ciano/azul) e Clyde (laranja) aparecem novamente, mas tendo dessa vez a intenção de furtar as frutas sagradas que ficavam em uma árvore central dentro do local.

No entanto, o que nem os próprios ladrõezinhos fantasmáticos esperavam é que ao tomar para si os objetos, romperiam o selo que mantinha adormecido um antigo inimigo de seu arquirrival comilão de longa data e sua turma, conhecido como Spooky (traduzido na localização como “Nefausto”), que agora resolve se aproveitar da situação para se vingar, renovando as esperanças da pequena trupe de vilões de subjugar Pac-Man de uma vez por todas.

SEGUNDO JOGO COM O DOBRO DE DIVERSÃO

Bandai Namco / Divulgação

É impossível não comentar sobre Pac-Man World 2: Re-Pac sem ressaltar as significativas mudanças que ocorreram do primeiro remake para sua sequência, sobretudo as positivas.

Agora, os novos e vistosos gráficos tornaram possível perceber até mesmo o rosto de Pac-Man comendo as bolas que aparecem dispostas no cenário enquanto ele anda, além de trazer muito mais vida e personalidade para mapas, personagens secundários e chefes de fases (bosses), de forma ainda mais evidente se comparado à versão original lançada para PlayStation 2 e demais consoles da sexta geração no início da década de 2000.

Bandai Namco / Divulgação

Entre as novidades relativas à jogabilidade, é permitido agora ao jogador um novo comando para destruir objetos ou adversários nas fases, que faz com que o personagem solte um pontapé ao se apertar um dos botões de controle.

Ao se deslocar em trechos subaquáticos nas fases, o jogador pode também acionar um comando que faz com que Pac-Man possa usar um impulso em seu nado que faz com que não só objetos quebráveis como unidades inimigas debaixo d’água possam ser atacados como também que o personagem possa se desviar rapidamente de projéteis que venham em sua direção, tornando os momentos de “natação” não só mais dinâmicos como menos punitivos, uma queixa frequente entre praticamente todos que se aventurem ou já tenham costume com títulos do gênero “plataforma”.

Bandai Namco / Divulgação

À medida que as fases são exploradas e colecionáveis são adquiridos, o jogador é recompensado com novas opções de roupas que possibilitam personalizar as indumentárias de Pac-Man à sua escolha, essas recompensas podem também ser ampliadas se ao final de cada fase percorrida as missões propostas forem completadas.

A mecânica de correr no ar por alguns segundos logo após se executarem saltos ainda segue presente, embora seja acionada por um botão diferente em relação ao primeiro jogo, o que pode gerar alguma confusão em jogadores que resolvam partir para um após concluir o outro ou joguem ambos em simultâneo, mas que logo após um pequeno tempo de habituação não chega a representar nenhum grande problema de gameplay.

Na parte de trilha sonora, assim como seu antecessor, o novo jogo é repleto de efeitos sonoros que remetem ao que sempre foi facilmente associado ao Pac-Man em décadas. Por vezes, as músicas podem se repetir com alguma frequência, mas por combinarem com o clima do que é apresentado em tela, nem de longe chega a indicar um defeito significativo para a experiência.

Bandai Namco / Divulgação

A vila Pac funciona aqui como um pequeno centro de atividades (hub), que permite com que você possa ter interações com personagens secundários, comprar itens em lojas, personalizar altares com estatuetas adquiridas como itens colecionáveis em espaços indicados e até rejogar os clássicos da franquia Pac-Man como mini-games dentro de um fliperama que também encontra-se no local, levando o espaço a oferecer coisas novas sempre que é revisitado pelo jogador após algum progresso.

POR QUE MASCOTES DE VIDEOGAMES SÃO TÃO NECESSÁRIOS E ESPECIAIS?

SEGA / Bandai Namco / Divulgação

É perceptível ao jogar Pac-Man 2 World: Re-Pac que a Bandai Namco tem concedido a Pac-Man o carinho e a atenção proporcionais ao legado que a IP consolidou junto ao nome da companhia em 45 anos de existência, com direito inclusive a produtos comemorativos físicos, e isso quando ela era chamada apenas de “Namco”, muito antes de ter a “injeção financeira” que o sobrenome Bandai poderia proporcionar dentro e fora de terras orientais.

E é particularmente bom notar que após um período de baixa, em especial durante a sétima geração de consoles, inúmeros mascotes tem sido redescobertos por pequenas e grandes publishers do mercado de jogos eletrônicos, embora nem todos tenham a mesma sorte especificamente de Mario, que graças à própria filosofia da Nintendo, se manteve praticamente inabalável desde sua primeira aparição e independente dos modismos e tendências da indústria.

A presença de tais personagens dão à cultura dos videogames uma faceta mais familiar e amigável de sua ampla identidade e espectro, sendo capaz de unir jogadores de diferentes grupos geracionais pela premissa universal de que jogos precisam trazer sobretudo universos criativos e experiências divertidas para realmente valerem à pena.

Parte disso, está também na simplicidade e carisma que figuras como Pac-Man, Sonic, Mega Man entre tantos outros famosos ou talvez nem tão famosos transmitem, tendo sido de algum modo significativos para nós ao embalar longas horas de nossas manhãs e tardes jogando algo divertido e despretensioso em nossos consoles ou computadores.

Que pessoa com alguns bons anos com experiência consumindo jogos não teve inclusive algum contato com aqueles familiares ou amigos que, mesmo sem nunca terem sido lá muito afeiçoados a videogames em geral, de alguma maneira foram “fisgados” pelo charme e simpatia de algumas dessas figurinhas excêntricas e atrativas que já se manifestam hoje também como parte da cultura pop contemporânea, sendo apresentados a uma parcela do público inclusive através de outras mídias como cinema, animação e quadrinhos ou até mesmo sendo consumidos na forma de objetos como brinquedos e peças de vestuário?

Torço para que um dia outros personagens marcantes possam receber um tratamento tal qual Pac-Man vem recebendo por sua empresa proprietária, e que a mesma Bandai Namco também possa olhar com ao menos parte desse mesmo carinho para outras IPs incríveis que lhe pertencem e de proposta semelhante (tipo um tal de “Klonoa“…), mas que parecem estar congeladas e esquecidas no freezer da companhia.

VEREDITO

Bandai Namco / Divulgação

Contando com o que já foi apontado e outros destaques não menos importantes como um modo multiplayer local para se jogar acompanhado, um “Modo Fada” que torna a jogatina mais leve e fácil para iniciantes no universo de Pac-Man, além de uma gratificante localização em português por meio de textos e legendas, é impossível não recomendar Pac-Man World 2 Re-Pac para todos aqueles que estejam interessados em um bom jogo de plataforma de mascote 3D.

Alguns problemas de câmera puderam ser observados em momentos onde o personagem encontra-se em lugares que não são tão espaçosos ou próximos a paredes, mas nada que impeça de se observar todo o brilhantismo com que a Bandai Namco conduziu a reformulação da segunda aventura tridimensional de seu mascote mais icônico.

Quanto ao futuro… possivelmente em algum momento nos próximos anos veremos um remake do 3º jogo que talvez conserte problemas que ele apresentou em sua versão original trazendo consigo também ainda mais novidades.

Ademais, desde que siga sendo bem cuidado, Pac-Man tem tudo para chegar a um “meio século” (50 anos) de vida garantindo ainda muita diversão e mostrando a força que tem para conquistar gerações de pessoas com sua simplicidade e carisma, pois seu nome já está garantido em um lugar especial no panteão de ícones da cultura dos videogames.

Pac-Man World 2 Re-Pac já está disponível para PlayStation 5 e 4, Xbox Series X|S, Xbox One, Nintendo Switch e Switch 2 e PC (via Steam).

Nota: 9.5/10

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*