Análise | O Menino e a Garça | Mergulhando na Despedida Introspectiva de Hayao Miyazaki

Reprodução.

Por: Marcus Vinícius

Com grande honra e eterna gratidão à Sato Company, o ANMTV foi convidado para assistir o mais novo filme do Studio Ghibli (vencedor do Globo de Ouro e do BAFTA) – O Menino e a Garça – em suas exibições Première e Cabine de Imprensa, tendo a oportunidade de conferir a última obra de Hayao Miyzaki com antecedência.

Primeiras Impressões e Expectativas

Se você é um grande (ou antigo) fã do Studio Ghibli, certamente esperará por um filme que não só irá explorar seus personagens com profundidade, mas também explorará com riqueza e detalhes o cenário japonês e sua bela cultura, abordando com vastidão o ambiente contextualizado, assim como é feito na maioria de suas animações.

Agora, caso você não seja amante deste renomado estúdio, inicialmente pode acabar estranhando a forma desapressada (ou propositalmente lenta) como o longa é desenvolvido, a seriedade das questões apresentadas (apesar de ser um desenho japonês) e o silêncio reflexivo que trazem uma análise existencial para seus personagens e também para aqueles que o assistem.

Portanto, antes de conferir nos cinemas, entenda que O Menino e A Garça certamente não é algo infantil, mas sim um dos trabalhos mais maduros construídos por um gênio introspectivo que lhe entregará o melhor de si e de sua história em sua última e impecável obra carregada de sentimentos, resoluções e origem.

Studio Ghibli / Divulgação

A Aventura de Um Jovem Amadurecido pela Dor do Luto

Baseado no livro de Genzaburo Yoshino (1937) e passado no período da 2ª Guerra Mundial, a trama gira em torno do reservado Mahito Maki, um garoto com 15 anos de idade que carrega o enorme fardo da “responsabilidade” pela morte de sua mãe, vítima de um incêndio após um bombardeio gerado pela guerra.

Após este trágico incidente, Mahito se vê obrigado a reestruturar sua vida com base na decisão de seu pai, que escolhe sair de Tóquio para iniciar uma nova vida no interior, ao lado de sua nova esposa (tia de Mahito) que recorda a existência de sua falecida mãe.

Apesar de já não possuir mais expectativas de futuro ou até mesmo ânimo para viver, o menino se demonstra ser bastante resolvido e maduro, não trazendo o arquétipo do clássico protagonista de autoestima elevada, mas sim o semblante de um garoto excessivamente sério, demonstrando pouquíssimos interesses pessoais, baixa capacidade de expressar sentimentos e uma forte habilidade para tomar decisões racionais, afinal, a vida lhe fizera adulto antes mesmo de se tornar um.

E é exatamente aí que a narrativa utiliza grande parte de seu tempo. Explora com profundidade o funcionamento da mente de uma criança que consequentemente tem que lidar com o luto e mudança de vida. Logo, o Menino e A Garça é um longa necessário que nos traz a oportunidade de enfrentar a crise existencial do personagem e a ressignificação de suas dores em uma oportunidade de seguir em frente, criando assim um novo propósito de vida que é apresentado a partir do momento em que uma misteriosa e bizarra Garça lhe dá a oportunidade de se reencontrar com sua mãe.

Studio Ghibli / Divulgação

Uma Viagem Introspectiva e Espiritual

Certamente, a Garça é o personagem central que nos abre as portas para explorar o mundo espiritual de acordo com a visão e criatividade de Miyazaki, que não economiza em externar sua conexão com essa realidade, demonstrando metaforicamente e descaradamente como funciona as coisas do “lado de lá”.

Assim como A Viagem de Chihiro, mergulhamos em um mundo imperfeito regido por outros seres espirituais (com características animalescas e humanoides) que determinam o progresso de nosso mundo físico.

 E é neste cenário que o rapaz se desenvolve como personagem e conhece a verdade de si mesmo, lidando frente a frente com todas as questões pendentes de sua vida que removeram o sabor da sua infância, sendo uma verdadeira chance de se reconstruir, se resolver, se decidir e se perdoar.

Apesar de ser uma produção extremamente séria, as aventuras de Mahito e da suspeita Garça são carregadas de diversões em um ambiente que ao mesmo tempo é interessante e hostil.

Studio Ghibli / Divulgação

Conclusão

Quando for ao cinema, esteja preparado para se conectar com os mais profundos e silenciosos sentimentos de Hayao Miyzaki, o qual compartilha memórias de sua própria vida através de uma fantasia no tempo e espaço.

Aproveite cada segundo estando ciente de que receberá uma despedida digna de um dos maiores gênios do universo de filmes de anime que, indiscutivelmente, nos fará falta.

O Menino e A Garça estreia no dia 22 de fevereiro nos cinemas brasileiros.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*