Análise: Marvel Cosmic Invasion – Entre na iniciativa “Marvel para Todos”

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Se no segmento cinematográfico, a Marvel tem vivido talvez tempos de “vacas magras”, pelo menos comparado ao auge alcançado por Vingadores: Ultimato em 2019, colhendo um ou outro sucesso de bilheteria aqui e ali ao longo dos últimos anos, no ramo de games, a outrora “Casa das Ideias” parece estar conseguindo fazer valer um pouco mais o antigo apelido pelo qual fora conhecida por décadas e navegando por ventos favoráveis para reacender o interesse do público por suas IPs.

Isso porque ao menos desde 2016, a companhia resolveu reformular drasticamente sua estratégia no segmento. A partir desse ano, a divisão conhecida como Marvel Games, deixaria de produzir jogos eletrônicos baseados nos super-heróis da empresa e de “surfar” também em cima do sucesso dos filmes lançados, produzindo versões que mais pareciam adaptações baratas desses mesmos longas metragens. A ordem agora seria atuar como uma supervisora de estúdios consagrados, para quem delegariam a tarefa de criar jogos capazes de empolgar o público extraindo o melhor que suas IPs teriam a oferecer dentro da mídia videogames.

Entre alguns produtos de tal mudança de direcionamento que o público pode ter acesso e conferir atualmente como foram os resultados, estão os aclamados Marvel’s Spider Man (assim como sua sequência, produzidos pela Insomniac), Marvel Rivals produzido em parceria com a desenvolvedora chinesa, NetEase, e Marvel Snap, concebido pela Second Diner de Ben Brode, o nome por trás de nada mais nada menos que Hearthstone, quando ainda atuava dentro da Blizzard.

E em meio a tudo isso, o que foi alcançado por Marvel: Cosmic Invasion? Projeto da Marvel Games realizado em parceria com a publicadora francesa DotEmu e a desenvolvedora canadense Tribute Games. Teria a casa de heróis como Homem Aranha, X-Men e Guardiões da Galáxia trazido de volta às atuais gerações o melhor dos jogos de fliperama/arcade de um passado que hoje está cada vez mais distante ou as boas intenções se perderam no meio de uma tentativa frustrada e medíocre de fisgar os jogadores pela nostalgia? É o que entenderemos logo a seguir.

AVANTE VINGADORES! E X-MEN… E QUEM MAIS ESTIVER!

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

No enredo (bastante simples, diga-se de passagem), uma ameaça batizada como “Onda de Aniquilação” está prestes a comprometer o destino da Terra e talvez até de toda a galáxia ou mesmo o universo, e para impedir que o mal iminente desencadeado por um inimigo conhecido como Aniquilador avance e se concretize de vez, super-heróis terráqueos e espaciais tanto de equipes como X-Men, Vingadores e Guardiões da Galáxia, precisam unir suas forças para frustrar o projeto de destruição promovido por esse inimigo e o exército liderado por ele, que se espalha rapidamente por todo o planeta e por arredores do cosmo.

É bom destacar que tal história nada mais é do que uma adaptação, com algumas liberdades, do arco “Aniquilação”, que marcou presença nas HQs da própria Marvel no já longínquo ano de 2006, e que era estrelado principalmente pelo elenco de defensores cósmicos da editora, de maneira que personagens como Surfista Prateado, Rocket Racoon e o Nova original, Richard Ryder, não estão entre alguns dos personagens selecionáveis por mero capricho da Marvel ou mesmo das empresas responsáveis pelo jogo. Nesse meio tempo, heróis atuantes na Terra, estavam se degladiando por seus ideais em simultâneo no aclamado arco conhecido como “Guerra Civil”.

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

COMO NOS TEMPOS DE FLIPERAMA…

Seguindo o estilo conhecido como Beat’em up, que consagrou grandes franquias de jogos do gênero como Final Fight e Double Dragon no passado e que desde o início dos anos 2020 tem voltado a arrematar o interesse do público, graças a jogos como os bem sucedidos Streets of Rage 4 e TMNT: Shredder’s Revenge, Marvel Cosmic Invasion deixa óbvio logo de cara algumas de suas principais inspirações, seja no que diz respeito à sua estética quanto em sua jogabilidade, podendo-se mencionar entre as principais delas o game de luta Marvel Vs. Capcom 2 para arcade e o também beat’em up “noventista” Marvel Super Heroes: War of the Gems, de Super Nintendo. 

Logo em seu menu de entrada, o jogador tem direito a alternar sua experiência tanto entre o modo arcade/fliperama tradicional, quanto entre a campanha comum típica de jogos do estilo ao serem “portados” para consoles domésticos. No entanto, é apenas através do modo campanha que componentes importantes que trazem o que há de mais positivo na jogatina podem ser acessados, como o desbloqueio de personagens secretos a serem utilizados pelo jogador posteriormente.

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

Porém, ainda que conte com essas alternativas extras para um late game, a princípio a quantidade de opções de escolha não é pouca, visto que dos até 15 heróis e anti-heróis do universo Marvel estipulados, 11 deles já vem selecionáveis pelo jogador, sendo estes: Homem Aranha, Pantera Negra, Rocket Racoon, Tempestade, Homem de Ferro, Mulher-Hulk, Capitão América, Nova, Motoqueiro Fantasma Cósmico, Bill Raio Beta e Wolverine, com os demais como Venom, Phyla-Vell, Fênix e Surfista Prateado podendo ser liberados posteriormente, à medida que se progride na narrativa fornecida pelo game.

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

Na parte de mecânicas de gameplay, personagens que tem poderes de vôo podem sobrevoar os cenários ao se acionar duas vezes rapidamente o botão de pulo, podendo atacar adversários que também surgem no caminho voando (há um breve nível tutorial que deixa tudo claro para o jogador, antes da pancadaria começar para valer).

Os heróis também podem executar ataques à distância limitados com disparos de projéteis ao se apertar outro botão, acumularem energia em uma barra menor abaixo da barra de vida para realizarem ataques especiais (e até executarem ambos os especiais em dupla, como nos jogos de Marvel Vs Capcom), assim como desviarem-se ou defenderem golpes físicos e disparos desferidos por oponentes, que ocasionalmente também se defendem de suas investidas com itens para isso ou como reação.

Um ponto interessante que também posso destacar em relação aos movimentos feitos por personagens é o quanto a equipe responsável foi atenciosa a ponto de deixá-los bastante únicos, de maneira que aqueles que não contam com armas ou rajadas energéticas que possam ser disparadas, como Mulher-Hulk e Wolverine, tem esses comandos substituídos por “agarrões” aos rivais para arremessá-los para longe ou jogá-los contra o chão, no caso da prima do Hulk, e saltos onde prendem-se ao oponente para desferir uma saraivada de ataques físicos em sequência, ao se falar do mutante marrento e suas garras afiadas e proeminentes de Adamantium.

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

Mesmo Homem-Aranha e Venom, que não são capazes de voar, ao se apertar duas vezes rapidamente o que seria o botão de vôo, tem essa ação substituída por um disparo rápido de suas teias para cima, que permitem com que os personagens se desloquem rapidamente de um canto a outro do cenário. Já personagens que dependem de armas para lutar, como Rocket Racoon, atiram à vontade quando estão em uma certa distância de rivais e ao atacar estando próximo, faz movimentos usando as garras animalescas presentes em suas mãos, de modo que seus projéteis limitados são dessa vez substituídos por bombas que ele atira ao chão e explodem após alguns segundos, paralisando temporariamente oponentes para facilitar ataques.

Para cada fase, é possível escolher até dois heróis que podem ser alternados entre si ao se apertar um botão específico de modo que o jogo permite com que até 4 jogadores joguem juntos tanto nas opções online (com direito a cross-plataform) quanto local. Quando um deles é colocado fora de combate durante o percurso, a energia é recuperada conforme você avança com o personagem controlável que lhe sobrou enquanto o personagem abatido “descansa” no seu menu de opções.

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

Cada nível conta com algumas missões específicas que possibilitam com que você possa desde aumentar atributos de personagens ao final de cada uma delas até coletar os inúmeros colecionáveis disponíveis que permitem com que possa se ter acesso no menu de opções a informações sobre heróis, chefes de fase e inimigos até mesmo a mudar a coloração das skins (trajes ou visuais) dos heróis à sua disposição. O enredo é contado através de pequenas cutscenes exibidas antes do início de cada fase e o entendimento é também ainda mais facilitado graças a uma boa localização em português brasileiro, mas que cobre apenas textos, menus e legendas, sem vozes dubladas, o que nem por isso deixa de ser positivo.

Assim como em TMNT: Shredder’s Revenge, (das mesmas desenvolvedora e publicadora) o game também conta com uma empolgante sequência animada de abertura que dá ainda mais charme ao produto final entregue. A trilha sonora, embora cumpra bem o seu papel, não chega a ser suficientemente marcante na memória após algumas horas ou minutos jogando, mas nada tão medíocre a ponto de fazer você preferir jogar com alguma outra trilha de fundo para substituí-la.

Já no que diz respeito a alguns pontos negativos do jogo (que felizmente não se sobressaem), pode-se apontar a baixa variedade de inimigos, o design de fases simplório e que pode tornar-se repetitivo após algum tempo jogando, o curto período de duração do modo campanha e a limitação de deslocamento na tela de hub para escolha de fases, que é bem mais limitada que a aventura dos quelônios lutadores que amam uma pizza.

VEREDITO

Marvel Games / DotEmu / Tribute Games / Divulgação

Marvel Cosmic Invasion é um jogo que embora possa ser zerado em algumas poucas horas de jogatina, tem potencial para se tornar um dos melhores jogos de Beat’em up da geração SE for e à medida que for expandido com DLCs que tragam ainda mais personagens da ampla galeria do Universo Marvel para a brincadeira, o que pode aumentar ainda mais o fator replay, o tornando um dos melhores Beat’em ups dos últimos anos.

Embora não se destaque por algumas inovações oferecidas, como o recente Absolum, o jogo entrega o básico bem feito e se destaca como mais uma bem sucedida empreitada da Marvel para fazer com que seus produtos alcancem todos os públicos possíveis, seja pelo uso assertivo da nostalgia ou por experimentações até então não imaginadas em outras épocas.

Se você é fã da Marvel, entusiasta de um bom jogo de “briga de rua” e tem saudades dos jogos em estilo arcade que traziam os personagens da editora, o jogo é uma excelente recomendação. Mas se você acha que o valor atual é um tanto quanto alto para as poucas horas de jogo proporcionadas e para um produto que não necessariamente se destaca por trazer uma experiência revolucionária ou inovadora em videogames, esperar por uma promoção pode ser o mais sensato para aproveitar mais esse belo acerto da Marvel nos games. No fim, mesmo o jogador mais exigente pode até assumir que o produto não entrega muito, mas com certeza não pode negar que é um trabalho honesto.

Nota: 9.5/10

MARVEL Cosmic Invasion está disponível para PlayStation 5 e 4, Xbox One, Xbox Series S/X, Nintendo Switch 1 e 2 e PC (via Steam).

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*