
Life is Strange – Double Exposure se passa no campus da Universidade de Caledon, uma renomada escola de artes onde Max Caulfield atua como professora de fotografia. Para quem conhece o jogo original, é interessante ver uma Max mais madura, ainda apaixonada por fotografia e sempre fazendo observações espirituosas sobre o que vê. No entanto, seu passado conturbado é o que realmente prende a atenção, com mensagens tristes e um mistério guardado a sete chaves, revelando que os acontecimentos de Arcadia Bay ainda a atormentam.
Com um novo grupo de amigos e um cenário pitoresco de inverno, Double Exposure traz o clima acolhedor esperado da série. O campus da universidade, com arquitetura vitoriana, é coberto de neve, e todos estão agasalhados com casacos quentinhos e sorrisos simpáticos. A paleta de cores chamativa aumenta aínda mais a vontade de mergulhar no jogo. Porém, nem tudo é perfeito quando um corpo é encontrado no campus.
Após o misterioso assassinato de um amigo, Max é forçada a usar novamente seus poderes temporais, algo que havia prometido nunca mais fazer, para solucionar o caso. Diferente dos primeiros jogos, Double Exposure troca a habilidade de “rebobinar” da personagem por duas linhas temporais: uma onde seu amigo está morto, e outra onde ele está vivo. A narrativa cria um intrigante mistério multiversal que exige conectar as peças entre versões alternativas dos mesmos personagens.
A história começa bem, com episódios iniciais envolventes e precisos (num total de 5). No papel de professora, Max interage com colegas e alunos, utilizando sua habilidade de saltar entre linhas temporais para driblar obstáculos, extrair informações de uma versão dos personagens para aplicá-las na outra e desvendar o mistério central.
Nos primeiros episódios, o equilíbrio é perceptível, com a necessidade de acompanhar o tipo de relacionamento que Max possui com cada personagem em cada linha do tempo. É possível que ela seja melhor amiga de alguém em uma versão e inimiga mortal na outra, e o jogo permite que o jogador cometa erros ao confundir o que cada versão do personagem disse, caso não esteja atento.

O destaque é reforçado pelo retorno de Max Caulfield. Embora nunca tenha sido uma personagem que exigisse uma continuação, reencontrar uma versão adulta de Max em Double Exposure é como rever uma amiga de escola. Ela continua carismática, e vê-la frequentando bares ou falando sobre sua vida pessoal é, ao mesmo tempo, estranho e familiar. Para os fãs da série original, há referências e momentos nostálgicos, mas a nova trama se sustenta bem sozinha.
Infelizmente, conforme a história avança, tudo começa a soar mais superficial. O campus de Caledon, por exemplo, não tem condições de comparação com locais como Arcadia Bay e Haven Springs. A ação se limita a poucos cenários, e não se vê o campus universitário em toda a sua vida cotidiana, não há dormitórios estudantis, refeitórios cheios ou mesmo uma sala de aula em funcionamento. Alguns NPCs estão espalhados, mas o cenário parece limitado em comparação com os cenários movimentados dos jogos anteriores.
Essa falta de imersão também se reflete nos personagens. Embora alguns sejam interessantes, como Gwen, ou carismáticos, como Moses, as interações parecem fracas. A relação de Max com seus alunos e colegas é semelhante, e é fácil esquecer que ela é professora, pois envia mensagens para os alunos e quase não interage com outros membros de maneira significativa. Isso enfraquece a autenticidade do cenário universitário, algo que em temporadas anteriores era construído de forma convincente.
O mistério central, embora traga momentos de suspense, acaba se apoiando demais no elemento sobrenatural. A série Life Is Strange sempre equilibrou bem a narrativa sombria com os poderes dos protagonistas. Em True Colours, por exemplo, as habilidades da protagonista, que percebia e sentia as emoções alheias, nunca pareceram exageradas. Já em Double Exposure, os poderes de Max soam mais como elementos de um romance adolescente, o que enfraquece o tom mais profundo das temporadas anteriores, e faz com que grandes revelações percam o impacto.

Além disso, em Life Is Strange: Double Exposure falta a mesma carga emocional dos jogos anteriores. Embora existam momentos emocionantes e cenas agradáveis, raramente há aquela tensão ou situações dramáticas como a decisão final de Max no primeiro jogo. Talvez alguns jogadores encontrem uma conexão emocional, mas, o jogo não chegou ao mesmo nível.
No entanto, se há algo que Double Exposure acerta em cheio são os visuais. True Colours já havia elevado o padrão da série, e essa sequência vai além. A mesma paleta de cores viva está presente, e há toques artísticos no estilo gráfico, com um realismo que torna a experiência bastante cinematográfica. A iluminação surpreende e as animações faciais melhoradas tornam o título digno de frequentes capturas de tela.
Em termos de jogabilidade, embora as opções sejam limitadas, o visual e o desempenho são consistentes. Há um modo de qualidade e um de desempenho, mas o primeiro foi usado sem grandes problemas visuais. Infelizmente, a experiência é prejudicada por problemas técnicos, a edição de áudio apresentou falhas, diálogos que eram abafados pela música de fundo em um momento e extremamente altos em outro, e até mesmo falas ausentes em algumas cenas. Foi prometida uma atualização, mas, por enquanto, este é o maior problema técnico do jogo.
Embora possa parecer que seja uma crítica a este novo capítulo da série, todos nós sabemos o quanto Life Is Strange pode ser único e envolvente. Double Exposure não é um jogo ruim, mas não é o melhor que a série tem a oferecer. Ele perde um pouco do charme com um cenário menos envolvente e uma narrativa excessivamente dependente do sobrenatural. Ainda assim, é ótimo ver Max Caulfield de volta, e para os fãs da série, vale a pena.
Nota: 7.5/10
Life is Strange – Double Exposure está disponível para PlayStation 5 e 4, Xbox One, Xbox Series X/S e PC.
*Review feito a partir de uma cópia do jogo enviada pela Square Enix.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*
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