
Finalizei Ghost of Yotei, a mais nova produção da Sucker Punch. Depois de Ghost of Tsushima, que me marcou tanto que joguei duas vezes lá em 2022 (mesmo tendo sido lançado em 2020), confesso que minhas expectativas estavam altas. E, para minha surpresa, o estúdio conseguiu refinar quase todos os pontos do título anterior. A grande questão era: será que a Sucker Punch conseguiria se distanciar do jogo original, apresentando uma trama diferente, ambientada em outro local do Japão e com uma nova protagonista? A resposta é positiva, e Ghost of Yotei mostra isso com naturalidade, sem precisar reinventar a roda.
HISTÓRIA E AMBIENTAÇÃO
A fronteira norte do Japão testemunha o surgimento de uma nova guerreira. Ambientado cerca de 300 anos após os acontecimentos de Ghost of Tsushima, Ghost of Yotei se passa no Japão rural do século XVII. A trama acompanha Atsu, uma mercenária solitária e atormentada por um passado sangrento. Sedenta por vingança, ela percorre as belas e inóspitas terras de Ezo em busca da gangue de seis fora-da-lei que, muitos anos antes, assassinou toda a sua família.

Dezesseis anos após o massacre, Atsu decide caçar os responsáveis por cada ferimento deixado em sua alma. Porém, sua jornada a leva a descobrir que o caminho da vingança é mais complexo do que imaginava. Ao longo do percurso, ela encontra aliados improváveis e situações que a fazem questionar seus próprios limites. A narrativa é mais direta e pessoal do que a de Tsushima, com alguns momentos emocionantes e reviravoltas pontuais. Ainda não é o ponto mais forte da Sucker Punch, mas se mantém envolvente do início ao fim.
UM MUNDO VIVO, BELO E RECOMPENSADOR
O mundo aberto de Ghost of Yotei é vibrante e repleto de vida. Além da história principal, o jogo oferece uma grande variedade de atividades. Temos novamente as tocas de raposas, os cortes de bambu e outras tarefas que ajudam a aprimorar atributos de Atsu. Cada região visitada é um espetáculo à parte, resultado do impressionante trabalho artístico do estúdio. As paisagens do norte do Japão em 1603 são tão belas que é impossível não parar para tirar fotos ou simplesmente observar o cenário por alguns minutos.

Porém, nem tudo encanta. As missões secundárias ainda apresentam tramas simples e pouco inspiradas, repetindo um problema do jogo anterior. Em compensação, os Mitos e Contos Japoneses são um dos pontos altos da experiência. Essas missões paralelas contam histórias místicas, muitas vezes assustadoras e muito bem escritas. É nelas que encontramos algumas das melhores recompensas do jogo como armaduras, armas especiais e relíquias únicas.

Entre os mitos mais marcantes estão a caçada ao Samurai imortal e o confronto com o General Lírio-Aranha, cuja história trágica e sombria envolve a própria filha. São momentos que capturam a alma folclórica do Japão e reforçam o peso da mitologia dentro da trama.
O mapa de Yotei é menor que o de Tsushima, e isso se mostra uma decisão acertada. A experiência é mais direta, menos repetitiva e melhor equilibrada. Cada região tem um propósito, e a liberdade de caçar os Seis de Yotei na ordem desejada torna a jornada mais pessoal.
Outro destaque é a trilha sonora, que se encaixa perfeitamente em cada momento. As músicas calmas nas horas de exploração contrastam com temas intensos durante os combates e momentos decisivos, reforçando a imersão.
ZENI HAJIKI, O MINI GAME QUE CONQUISTA PELA SIMPLICIDADE
Entre as novidades, Ghost of Yotei apresenta um mini game chamado Zeni Hajiki, uma espécie de jogo de moedas tradicional japonês. Apesar de simples, é surpreendentemente divertido e oferece um ótimo respiro entre as missões.
A dinâmica é a seguinte: você usa o analógico esquerdo para selecionar a moeda que deseja lançar, mira com o analógico direito e segura L2 ou R2 para ajustar a força do arremesso. O objetivo é acertar outra moeda na mesa, se conseguir, você coleta a moeda atingida e ganha um ponto. São necessários seis pontos para vencer a partida.
Mas é preciso atenção: se a moeda cair da mesa, o ponto vai para o adversário. Caso o lançamento não acerte nada, você perde o turno. Vence quem atingir seis pontos primeiro.
Para ter sucesso em Zeni Hajiki, é importante planejar bem cada jogada. Posicione suas moedas de forma estratégica e evite empurrar as do oponente para fora da mesa. Use também os objetos do cenário, como copos e tigelas, para criar ângulos mais vantajosos. Nas últimas rodadas, pense mais em dificultar a jogada do adversário do que em arriscar um ataque precipitado.
É um passatempo leve, mas que ajuda a reforçar a imersão no cotidiano do Japão feudal e mostra o cuidado da Sucker Punch com os detalhes culturais do período.
COMBATE E JOGABILIDADE
O combate de Ghost of Yotei é um dos elementos mais impressionantes do jogo. A Sucker Punch conseguiu aprimorar algo que já era excelente em Ghost of Tsushima, tornando as lutas mais rápidas, intensas e brutais.
A grande diferença aqui é que Atsu não segue o código samurai. Ela não busca honra, apenas vingança. Isso faz com que as batalhas sejam mais sujas e selvagens, com uma fluidez que torna cada confronto empolgante.

As armas desempenham papel essencial nessa dinâmica. A katana é versátil e equilibrada, perfeita para duelos tradicionais. Já as katanas duplas trazem agilidade e ferocidade, ideais para combates rápidos. A odachi, mais pesada, causa estragos devastadores, mas exige precisão. A yari (lança) oferece um alcance maior e diferentes estilos de luta, enquanto a kusarigama, uma foice presa a uma corrente, permite ataques à distância e controle do inimigo.
Além disso, o jogo apresenta armas secundárias, como kunais, bombas de fumaça e até um rifle de pederneira. Cada uma delas se integra naturalmente ao combate, permitindo combinações criativas.
Um dos detalhes mais interessantes é o sistema de aprendizado das armas. Antes de dominar um novo estilo, Atsu precisa passar por um desafio específico que simboliza seu treinamento. Por exemplo, ao aprender a manejar a lança yari, é necessário acertar peixes saltando do mar no momento exato. Esse tipo de mecânica traz uma sensação genuína de evolução e conquista.
CONCLUSÃO
Ghost of Yōtei é uma continuação sólida, refinada e visualmente impressionante. A Sucker Punch mostra que aprendeu com o passado, entregando um jogo mais contido, bem ritmado e tecnicamente impecável. A história de Atsu é mais humana e direta, o combate é o melhor que o estúdio já produziu e o mundo aberto, menor, é mais coeso e prazeroso de explorar.
Ainda há o que melhorar, principalmente nas missões secundárias e em alguns elementos narrativos, mas no geral, Ghost of Yōtei é uma das experiências mais marcantes ambientadas no Japão feudal. Um jogo que emociona, desafia e impressiona na mesma medida.
Prós
- Visual e direção de arte deslumbrantes
- Combate brutal, ágil e extremamente satisfatório
- Mundo aberto menor, mas mais denso e interessante
- Mitos e Contos Japoneses bem escritos e recompensadores
Contras
- Missões secundárias genéricas
- Narrativa principal ainda poderia ser mais profunda
Nota: 9/10
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*
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