Análise | Ganhei Um Poder Apelão Em Outro Mundo E Agora Sou Imbatível No Mundo Real | Qual é o preço do belo?

Millepensee / Reprodução

Algumas pessoas dizem que a beleza interior é o que realmente importa. Que, na verdade, o que conta mesmo não é o exterior de alguém, mas sim o que essa pessoa carrega dentro de si. Besteira. Se você acredita nisso, é porque provavelmente já é lind@, todos caem a seus pés e sua vida nem é tão difícil assim. Pelo menos é nisso em que o anime Ganhei Um Poder Apelão Em Outro Mundo E Agora Sou Imbatível No Mundo Real (I Got a Cheat Skill in Another World and Became Unrivaled in The Real World Too) se fundamenta.

Não sabe do que estou falando? Então vamos a uma breve sinopse do anime, caso antes você queira uma breve situada: Yuuya Tenjou, que antes era rejeitado por todos, inclusive sua própria família (com exceção de seu avô), depara-se com uma nova oportunidade quando uma porta secreta é revelada em seu banheiro. Essa porta leva-o a uma casa abandonada em um mundo desconhecido, onde ele é agraciado com habilidades e estatísticas surpreendentes, semelhantes às de um jogo. Além disso, a casa pertencera a um sábio e agora oferece a Yuuya acesso a armas, equipamentos e cultivos excepcionais, com efeitos extraordinários. Agora, Com essas novas bênçãos, Yuuya, que antes era indesejado, tem a chance de alcançar todo o seu potencial e se tornar invencível.

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A adaptação da light novel homônima, do autor Miku, até possui uma direção de fotografia interessante. Mas deixa muito a desejar quando o assunto recai sobre a área de roteiro. A todo momento o trabalho de Shin Itagaki como responsável pela roteirização do anime, desafia a boa-fé do espectador em se deixar levar pela licença poética da história e seu meio. O roteiro acaba forçando o público a engolir as incoerências notórias em sua construção narrativa. Isso fica muito mais evidente em relação ao protagonista da história que, após uma drástica mudança física, parece precisar unicamente de um espelho para notar isso e ainda assim consegue por alguma razão viver sem ele ou mesmo olhar o seu próximo reflexo em outras superfícies reflexivas por dias, mesmo saindo de casa em pelo menos um destes. Isso sem mencionar o fato de deixar o seu maior segredo exposto a visitas em sua casa ou contar para alguém que conhece em menos de um mês sobre ele.

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O roteiro de Ganhei Um Poder — me recuso a escrever esse título enorme toda vez que eu for citá-lo – força uma inocência de seu protagonista para questões românticas e sensuais que, mesmo para a pessoa mais tímida ou alheia, simplesmente não passaria. E apesar de se mostrar como um Isekai com harém cujas mulheres são o suco da superficialidade (a princesa mimada, a riquinha modesta, a modelo simpática e a assassina sofrida) e do nada jogar até um assédio na sua cara, o anime consegue apresentar ao menos um núcleo mais interessante que os outros.

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Já no que diz respeito a questão visual, Ganhei Um Poder apresenta uma bela finalização de frames muito eficiente, sobretudo em destacar o seu êxito nos olhos dos personagens. É um trabalho tão bonito que mais de uma vez o espectador poderia se sentir instigado em dar pause em determinadas cenas só para apreciar o resultado – ainda que o anime tenha uma tosca fixação em enquadramentos aonde os personagens tem parte da cabeça cortada. E ainda falando em visuais, o mesmo nível de beleza pode-se dizer do trabalho de composição de ambientação, colorização e background, todos sob a batuta de Masakazu Miyake como diretor de arte. Ademais isso, a qualidade de sua animação é satisfatória, tendo em vista que – com exceção de algumas poucas batalhas, como a do episódio 9 – o anime mais faz uso de uma câmera em movimento de cenas estáticas do que movimentar o próprio personagens em si. O mesmo pode-se dizer de sua abertura que apenas um pouco eleva sua dinamicidade na animação para casar muito bem com o tema “Gyakutengeki” (“逆転劇”) da cantora Tsukuyomi, já o tema de encerramento “Hachimitsu” (“ハチミツ”) do cantor Shikao Suga, pode ser simplesmente pulado, mesmo que tenha um trabalho de animação bem feito.

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E por falar em trilha sonora, a sonoplastia de Ganhei Um Poder Apelão merece pontos positivos, sobretudo com sua dublagem brasileira, que tem como diretor de dublagem o ator Lucas Almeida, experiente em obras com Haikyuu!! e Suzume, e que aqui consegue salvar boa parte do humor da obra com a ajuda do elenco.

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Com isso, entre mesclas de movimentações em CGI e 2D e algumas pontas soltas de uma história mais ou menos, temos um anime que em alguns de seus aspectos é um verdadeiro vislumbre de beleza, mas que, como muitas pessoas ditas “bonitas”, cobra em seu preço uma alta quantidade de paciência daqueles que decidem se envolver com ele e seus personagens nem tão coerentes assim.

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A primeira temporada de Ganhei Um Poder Apelão Em Outro Mundo E Agora Sou Imbatível No Mundo Real, está disponível no Brasil pela plataforma de streaming Crunchyroll com áudio original e legendas ou dublado.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*