Análise: Entrevista com o Vampiro é sangrento, denso e um pouco amoroso

Após uma enorme demora, Entrevista com o Vampiro chegou ao catálogo da Amazon Prime Video no mês de maio, além de também estar sendo transmitida no canal AMC. A produção teve sua segunda temporada exibida neste ano nos Estados Unidos e uma terceira, felizmente, já foi confirmada.

Para quem não está familiarizado, a série é baseada no primeiro livro das chamadas Crônicas Vampirescas, escritas por Anne Rice. Tendo sido lançado em 1976 nos EUA, a obra chegou a receber uma adaptação cinematográfica em 1994, estrelada por nomes como Tom Cruise; Brad Pitt e Antonio Banderas.

E, devo comentar, fiquei bastante surpreso de como as situações na versão televisiva exploraram este drama e confusões amorosas de uma forma mais densa, recheada e que lhe fazem se perguntar como esta primeira temporada possui apenas sete capítulos. Ao final, você se sente órfão e desejando mais.

Sem dúvidas, é uma adaptação mais próxima dos tempos atuais.

É bastante comentado pelos fãs o fato de que os vampiros Lestat (Sam Reid) e Louis de Pointe du Lac (Jacob Anderson) serem mais do que apenas amigos. As falas de Louis para o jovem repórter deixavam isso evidente, mesmo que nas entrelinhas. Entretanto, a série não deixa nada subentendido, ela nos joga a verdade na cara logo no início. São sete episódios, não há tempo para formalidades.

A verdade é que o programa da AMC tomou algumas liberdades em relação a obra original, mas mantendo a sua essência. A começar que o repórter – Daniel (Eric Bogosian) – está idoso, diferente do original onde ele é um rapaz na faixa dos 20 anos.

Originalmente, Louis decide contar sua história a um jovem e inexperiente entrevistador, que quase não possui relevância a não ser a de escutar. Nesta trama, isso já ocorreu. Louis encontra Daniel na década de 1970 e, assim como ocorre no livro/filme, as coisas não terminam bem.

Anos depois, o vampiro decide entrar em contato novamente para oferecer a mesma crônica, mas com um toque de maturidade. Há mais embates entre os dois, enquanto a anedota vai sendo falada. Mas o foco permanece sendo o romance fervoroso e tóxico entre Lestat e Louis.

Nesta versão, Louis não é um ex senhor de escravizados, ele é um homem negro do início do século XX e age como o principal provedor de sua família na cidade de Nova Orleans, no estado da Louisiana, sendo um cafetão ”respeitado” naquela região. Nestes primeiros episódios, podemos observar como o racismo era frequente na época e incomoda bastante como nosso protagonista se reporta aos demais homens brancos, os tratando sempre como ‘superiores’ e não como iguais.

A sua situação muda com a chegada de Lestat, que lhe faz mudar sua visão em alguns aspectos. É verdade que o vampiro europeu o ajuda bastante, ele o ama e este amor é recíproco. Nada de entrelinhas. Mas, com o tempo, vamos entendendo o quão doentio e perigoso pode ser um homem que não gosta de ser contrariado.

Lestat esbanja classe, autonomia, inteligência, sagacidade e tesão também. Ao mesmo tempo, ele nos inflige medo e dúvidas. Este definitivamente não é um mero romance, é uma história com romance – e isso é bem diferente. Mortes e pessoas sendo completamente desmembradas é uma realidade aqui e tudo isso tem o vampirão francês como responsável.

O charmoso e perigoso antagonista se utiliza de clichês tóxicos como lhe espancar e, logo depois, presentear-lhe com algo físico ou com palavras bonitas. Tudo isso penetra na mente de Louis, o deixando preso nesta situação. Daniel o confronta sempre que pode, sobre o fato dele ter vivido um relacionamento nada saudável e que ainda permanece minimizando algumas situações.

O roteiro também não esconde isso. É um amor tóxico e é algo bastante evidente. A chegada de Claudia (Bailey Bass) só reforça esta situação. A jovem foi quase morta em um incêndio e, por isso foi transformada em um ser da noite para que permanecesse viva, de certo modo. Ela é a âncora de Louis, sua principal amiga e aliada, aquela que o faz enxergar o quão repulsivo e danoso Lestat é.

Entrevista com o Vampiro nos entrega aquilo que sempre pedimos, uma história com ‘gays empinando moto e não apenas sofrendo’. Afinal, não são apenas eles que choram, mas esta cidade inteira.

Para aqueles que temem a bandeira colorida, não sintam medo do casal gay de vampiros, vocês encontrarão aqui uma boa história dos sugadores de sangue, com tudo que eles tem direito. Incluindo uma ótima cena de matança em uma igreja.

Só como curiosidade, o terceiro livro destas crônicas – A Rainha dos Condenados – foi adaptado para os cinemas em 2002 e nos apresenta Lestat sendo um famoso vocalista de uma banda de rock. Com a sinopse liberada da terceira temporada, é possível que possamos ver uma versão desta história nas telas.

Entrevista com o Vampiro está disponível na Amazon Prime Video, com dublagem e legendas em português. A série também é exibida na AMC.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*