Análise – Dustborn: uma aventura inovadora

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A Red Thread Games é conhecida por seu grande foco em narrativa, e Dustborn segue essa tradição. No jogo, você assume o papel de Pax, uma personagem astuta e manipuladora que está fugindo com três amigos. A história começa de maneira abrupta, com Pax e sua gangue em uma perseguição de carro. Não há introdução ao enredo ou aos personagens, o que pode ser um pouco confuso no início. O grupo está em posse de um pen drive altamente proibido que eles roubaram, e logo fica claro que esse pequeno objeto é de grande importância para alguém que não quer que seu conteúdo seja revelado.

No entanto, a introdução da história e dos personagens não é isenta de problemas. O titulo demora a revelar o que está realmente acontecendo e o foco rapidamente se desvia do enredo central para as relações entre os quatro amigos. Só mais tarde no jogo a importância do pen drive volta a ser destaque. Essa escolha narrativa da Red Thread Games pode ser frustrante, pois faz com que a trama pareça um pouco dispersa em alguns momentos. Não sou muito fã desse tipo de narrativa, onde a história principal fica em segundo plano para dar espaço às interações entre personagens que nem sempre parecem relevantes para a trama geral.

Por outro lado, Dustborn se destaca no desenvolvimento dos personagens. A história se passa em 2030, em um mundo alternativo onde a história tomou um rumo completamente diferente. Nesta versão do mundo, John F. Kennedy sobreviveu ao atentado de 1963, mas sua esposa Jacqueline morreu em seu lugar. Essa tragédia fez com que Kennedy se tornasse mais autoritário, e a sociedade que você encontra no jogo é caracterizada por vigilância, repressão e um governo que não tolera desvios da norma. Pax e seus amigos são esses desviantes. Eles pertencem a comunidades que hoje também lutam por seus direitos, e além de seu estilo de vida, possuem habilidades sobrenaturais semelhantes às encontradas no universo dos X-Men.

Quantic Dream / Divulgação

A protagonista Pax tem a habilidade de influenciar as mentes das pessoas com sua voz. Ela pode atacar os cérebros com palavras, fazendo-as discutir, paralisá-las ou fazê-las agir conforme sua vontade. Seus amigos possuem habilidades semelhantes, todas elas usadas para resolver quebra-cabeças e manipular conversas com os muitos personagens que encontram pelo caminho. Essa parte do jogo funciona muito bem, e a integração das habilidades dos amigos de Pax à jogabilidade é impressionante. Essas habilidades são perfeitamente adequadas às suas respectivas personalidades, e há muitas oportunidades de explorar e entender esses personagens ao longo do jogo.

A jornada em Dustborn é uma viagem de carro pelos interiores dos Estados Unidos, onde os quatro amigos, disfarçados como uma banda chamada Dustborn, tentam chegar à Nova Escócia para entregar o misterioso pen drive. Esse cenário permite ao jogo explorar diferentes comunidades americanas, cada uma com suas características únicas e habitantes. Ao longo do caminho, Pax e seus amigos encontram uma variedade de personagens que podem ser recrutados para a jornada ou deixados para trás, dependendo de como você escolhe interagir com eles. Os diálogos entre Pax e seus amigos são detalhados e muitas vezes bastante divertidos, mas podem se tornar cansativos em alguns momentos, especialmente quando se trata de personagens pelos quais você não se importa tanto.

No fim do dia, o grupo faz pausas em vários pontos de descanso, onde você pode conversar com seus amigos e explorar seus pensamentos e sentimentos mais a fundo. Essas conversas oferecem uma visão mais profunda das personalidades e relações dos personagens, mas também podem se arrastar, especialmente se você não estiver investido em todos eles. Para aqueles que não são tão empolgados com longas conversas, o jogo oferece a opção de escrever novas músicas em um mini-jogo onde você deve pressionar botões na tela. O mesmo vale para tocar em shows ao vivo com a banda. Infelizmente, esse tipo de mini-jogo não é o meu forte, e mesmo com a dificuldade ajustada para o mínimo, tive dificuldade em me adaptar. Admito que não sou um grande fã dessa mecânica.

Quantic Dream / Divulgação

Um dos maiores desafios em Dustborn, no entanto, é a variedade de mecânicas de jogo, nem todas bem-sucedidas. Embora a narrativa e o desenvolvimento dos personagens sejam os pontos fortes do título, ele peca em outras áreas. As sequências de combate são provavelmente o maior problema. Pax está armada com um taco de beisebol e não hesita em usá-lo, mas o combate parece simples e insatisfatório. Os inimigos, que variam de motoqueiros a policiais, precisam ser enfrentados, mas as mecânicas de combate são muito básicas e carecem de profundidade. Você acaba atacando de maneira desordenada, sem uma estratégia real, e tudo rapidamente se torna monótono, sem a satisfação que se espera de um sistema de combate.

Embora você também possa usar as habilidades sobrenaturais de Pax e seus amigos no combate, como fazer inimigos brigarem entre si ao gritar com eles ou usar suas habilidades especiais para realizar ataques combinados, ainda assim parece sem profundidade. Mas onde Dustborn realmente brilha é na narrativa. O jogo empresta mecânicas de jogos da Telltale e da Quantic Dream, o que não é surpreendente, já que a Quantic Dream também é a editora de Dustborn. Isso significa que as escolhas que você faz têm um grande impacto na história e nas relações entre os personagens. Por exemplo, se você for duro com um de seus amigos, aquele personagem lembrará disso e isso afetará suas interações mais tarde no jogo. Esse tipo de narrativa dinâmica é algo de que sempre gostei, e Dustborn consegue usá-la de uma forma que realmente faz diferença na experiência.

Pax pode ser uma amiga bastante difícil, e suas ações têm consequências na forma como seus amigos a percebem. É uma mecânica interessante que adiciona uma dimensão extra ao desenvolvimento dos personagens e permite que você tenha experiências de jogo muito diferentes, onde as decisões que você toma fazem a história mudar significativamente. Além disso, cada percurso da história é acompanhado por uma HQ única que reflete as escolhas que você fez. Após cada capítulo, é criada uma história em quadrinhos que resume as decisões e ações tomadas, o que é uma ótima forma de amarrar a história e dar ao jogador a sensação de que suas escolhas realmente importam.

Em resumo, Dustborn é uma experiência mista, mas com pontos fortes. Por um lado, a história e a forma como é contada são altamente envolventes e cativantes. A jornada de Pax e seus amigos por uma América distópica é repleta de personagens interessantes e relações complexas, e a maneira como o jogo permite ao jogador influenciar essas relações por meio de suas escolhas é muito bem-feita. Por outro lado, há certas mecânicas de jogo que a Red Thread Games não dominou completamente. As batalhas e os muitos pequenos mini-jogos às vezes parecem algo inútil que não acrescenta nada a experiência de jogo, mas sim a sobrecarrega.

Se você gosta de histórias fortes e de jogos onde suas escolhas importam, Dustborn é para você. É um título que se concentra mais na jornada e nas pessoas que você encontra ao longo do caminho do que em batalhas cheias de ação ou mecânicas de jogo complexas. Se você está em busca de um jogo com mecânicas de combate profundas e satisfatórias, existem alternativas melhores por aí. Mas se estiver disposto a ignorar esses pequenos problemas, Dustborn definitivamente vale a pena, especialmente para aqueles que apreciam uma boa história e personagens complexos.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*

Dustborn está disponível para PlayStation 5 e 4, Xbox Series X, Xbox One, e PC.