Desventuras em Série está de volta à Netflix após uma bem recebida primeira temporada por sua qualidade de produção e fidelidade ao material original escrito por Daniel Handler, sob o pseudônimo de Lemony Snicket. O segundo ano da série continua com o mesmo método de adaptação, dois episódios cobrindo os acontecimentos de um livro, porém conta com 5 histórias sendo adaptadas, ao contrário das 4 do ano anterior. Com dois episódios a mais que na primeira temporada, a segunda promete seguir com seu estilo excêntrico e peculiar ao continuar a triste jornada dos órfãos Baudelaire e se aprofundar nos mistérios e conspirações que envolve o passado dos seus pais e a morte deles. Este texto poderá conter alguns spoilers.
Com o intervalo de mais de um ano entre os lançamentos das temporadas, o elenco cresceu, e em seu segundo ano a série já começa brincando com si mesma em relação a isso, mas ainda assim continuam com um ótimo trabalho na atuação. Louis Hynes, Malina Weissman e Presley Smith conseguem dar vida muito bem a Klaus, Violet e Sunny Baudelaire, respectivamente, conseguindo transmitir bem as habilidades e gostos de cada um que são exploradas nessa temporada, exprimir seus conflitos internos em situações extremas, e interagir bem com os novos personagens e ambientes em que são colocados.
Essa temporada apresenta Neil Patrick Harris mais familiarizado com o papel e entregando uma performance ainda melhor como o Conde Olaf, que nesse novo ano tem acontecimentos e relações passadas sendo exploradas na história, e um público maior para enganar, o que o força a elaborar melhor suas tramoias e isso acaba gerando cenas de suspense, comédia e até musicais, e Harris entrega cada uma delas de maneira excelente.
O novo ano traz novos personagens, e como na temporada passada, com participações de Cobie Smulders e Will Arnett. Os novos personagens são bem introduzidos e têm um bom desenvolvimento, conseguindo criar uma boa conexão com os irmãos Baudelaire e fazendo a trama do mistério envolvendo a organização secreta evoluir, como é o caso dos Irmãos Quagmire e da bibliotecária Olivia Caliban. Apenas a personagem Esmé Squalor foi mal introduzida, pois teve motivações que serviam como conveniências de roteiro inicialmente, mas isso não foi tão incomodativo porque a personagem logo consegue seu local na trama e Lucy Punch está muito bem no papel.
Uma das principais reclamações em relação à primeira temporada foi devido à repetição narrativa, em que os órfãos Baudelaire iam para um novo tutor e o Conde Olaf se disfarça para persegui-los. Nessa temporada, há alguns novos elementos inseridos, que variam mais esse padrão, especialmente depois de O Elevador Ersatz. Além disso, os episódios estão menos independentes, com uma história paralela sobre a organização avançando a cada capítulo e com acontecimentos que possuem consequências maiores para a trama ocorrendo com mais frequência. Outra mudança é a leve redução na presença do narrador Lemony Snicket, porém suas participações passam a ter maior significado, pois ele passa a fazer parte da trama por suas ligações com a organização secreta CSC, sua amada Beatrice e seu irmão, Jacques.
Dois aspectos que se destacaram no primeiro ano da série retornaram ainda mais bem trabalhados no segundo: a direção de arte, que consegue dar profundidade e peculiaridade aos variados locais com diferentes detalhes e estilos; e a edição, que tem alguns desafios nessa temporada e ainda assim se sai bem, apresentando a excentricidade, suspense e conexão com a narração que a série precisa. Um bom exemplo para se notar a qualidade dos dois é na cena da exploração dos cômodos da cobertura no episódio 03. A trilha sonora de James Newton Howard, que rendeu à série uma indicação ao Emmy no ano passado, continua envolvente e bem encaixada com a história.
Desventuras em Série consegue manter seus personagens carismáticos e sua forma envolvente de contar a história, mesmo ao tarzer novos personagens, desenvolver mais a história da organização secreta e apresentar novidades em sua narrativa. Mesmo com mais episódios, a série consegue seguir a história em um bom ritmo e manter suas qualidades técnicas. A produção continua a apresentar muitas referências e piadas e ainda tratar de temas importantes, como aceitação, de um jeito bem construído e com seu estilo gótico, irônico, caricato e surrealista, que consegue agradar e trazer reflexões tanto ao público mais jovem quanto ao adulto.
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