É inaceitável criticar a adaptação ocidental de Death Note por não seguir o mesmo rumo do mangá e anime de mesmo nome. O diretor do filme, Adam Wingard, sempre foi muito claro sobre sua proposta, mas claro, eventuais críticas quanto a isso já eram de se esperar.
Como na história original, somos apresentados a um jovem, Light Turner (Light Yagami, no original), um adolescente que nesta versão é o estudante aparentemente solitário (típico) e incompreendido; estereótipo que o público já conhece. Em um dia como todos os outros, acaba encontrando um caderno que descobre ter o poder de tirar a vida de qualquer pessoa que ali tiver o nome escrito.
Tanto o mangá quanto o anime merecem ser revisitados. Esta história entre gato e rato traz reflexões sobre justiça, religião e ainda é muito atual já que o extremismo, infelizmente, é idolatrado por diversas pessoas, mas esqueça toda essa importância. O enorme contraste entre a obra original e este filme da Netflix começa aqui. Não existe sequer nenhum peso nas escolhas que o protagonista toma, muito menos sob os questionamentos abordados por Tsugumi Ohba.
Light revelou-se ao decorrer do anime um ser humano sem qualquer empatia e que mata a sangue frio, algo completamente diferente do personagem que Nat Wolff interpreta. Aqui ele é o típico protagonista que sofre pelas convenções do gênero (inclusive movido por uma perda familiar). Não há o que ser dito contra Wolff, que faz o melhor que pode com o que tem em mãos. E Light é apaixonado por Mia Sutton. Mia que antes era Misa, uma lolita que sempre estava vestida a caráter, personagem que apenas atrai os hormônios dos jovens transforma-se numa adolescente rebelde que peita até o protagonista. Mudança que se sobressai diante das outras, mas que–assim como todo o resto do elenco– torna-se ofuscada perto da interpretação que Willem Dafoe oferece a Ryuk. O carismático shinigami ganha uma voz poderosa e mesmo com efeitos visuais precários, consegue dar um tom de cafonice positivo para o longa, nada mais jus ao visual do deus da morte.
Se não existe qualquer tipo de embate sociólogo ou reflexão a respeito da humanidade, a caçada emocionante entre Light e L é inexistente. Keith Stanfield pode ter sido o ator que mais sofre com a visão do diretor Adam Wingard, pois ”L” tem uma supremacia de fãs em todo o mundo. O diretor provavelmente ficou com receio de ocidentaliza-lo por completo e acaba apresentando um personagem que tenta emular o gênio britânico da obra original com os mesmos trejeitos e que acaba não fazendo sentido já que este personagem não é nem um pouco frio e calculista como o original, pelo contrário, é tão explosivo que até persegue seus suspeitos numa viatura atropelando pedestres.
Mas Death Note sabe seu lugar. O longa com cara de telefilme de investigação traz uma trilha operante, pequenos plot twists e deixa um final aberto para uma possível continuação que, dependerá de uma série de fatores para talvez acontecer.
Quem deve se entreter com esta adaptação romantizada será o público que sabe ponderar aquilo que de fato é um problema em adaptações e acima de tudo tem noção de que a obra original jamais será reproduzida e terá o mesmo impacto numa outra mídia.
PS: Não entendi porque colocaram aquele making off nos créditos. Afinal, qual foi o filme que Adam Wingard quis fazer?
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