Análise: Crash Team Rumble – Entre os saltos em plataformas e competitividade dos MOBAs

Quando tive acesso ao jogo Crash Team Rumble, mesmo sendo fã de longa data do personagem Crash Bandicoot e de vários de seus jogos, assumo que não sabia exatamente qual sua proposta ou mesmo o que esperar. Pensava tratar-se de um novo party game que repaginava a ideia trazida originalmente por Crash Bash, último jogo da franquia lançado no hoje longínquo ano 2000 ainda no primeiro Playstation.

No entanto, a surpresa até que foi grata ao descobrir que o jogo não só faz uso sim do tradicional esquema de plataforma 3D que eu e muitos fãs do bandicoot mutante estão minimamente habituados, como traz também como diferencial a mesclagem desse tipo de mecânica com a jogabilidade que fez o estilo conhecido como MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) se destacar em meio ao cenário de jogos eletrônicos desde a chegada do mapa Defense of The Ancients (DotA) a WarCraft III em meados dos anos 2000 e da posterior consolidação do gênero com os games competitivos League of Legends e DotA 2, que até hoje ainda movimentam uma numerosa comunidade de jogadores.

Mas afinal, Crash Team Rumble estaria mais para MOBA, para um jogo de plataforma de mascote ou para uma mistura bem inusitada dos dois gêneros? É o que esse review ajudará você a descobrir além de se o jogo vale o seu tempo e dinheiro ou não.

JOGABILIDADE

Activision / Toys For Bob / Divulgação

Após uma breve partida de tutorial com bots, jogadores poderão ir aos confrontos online aos quais o game se propõe a trazer podendo escolher entre 3 tipos de personagem inicial representados aqui por Crash, Coco e Dingodile. Comandos indicando que ações e combos cada personagem faz durante a jogatina ficam visíveis em menus de fácil acesso ao jogador antes de escolherem entrar em partidas. Junto a isso, opções com personalização de indumentárias, técnicas especiais, poses de vitória e até mesmo sombras e efeitos de pontuação também estão lá à disposição de uso.

Basicamente, cada partida consiste em uma disputa de 2 equipes compostas cada uma por 4 membros, onde assim que uma acumular 2000 wumpas (frutas espalhadas pelo cenário ou em caixas) antes da outra vence. Para facilitar ou dificultar a meta, recursos facilitadores e sabotadores, como máscaras vistas em outros jogos da série, fenômenos meteorológicos e transformações em objetos podem ser acessados pelas equipes ao longo do mapa através do acúmulo de relíquias azuis que ficam espalhadas e são repostas após serem colhidas em um breve intervalo de tempo.

Além disso, pilares auxiliares neutros estão posicionados em pontos estratégicos do cenário que se tocados por um ou mais jogadores de um time podem impulsionar a coleta de wumpas daquela equipe por um intervalo de tempo curto e acelerar os números de pontuação. É possível também cair acidentalmente, nocautear ou mesmo derrubar jogadores adversários em buracos pelo mapa durante a partida através de comandos para bater ou causar dano, uma vez que cada personagem ao colher wumpas passa a acumular uma barra de vida que diminui à medida que recebe hits de rivais. Após ficar fora de combate, cada jogador é ressuscitado dentro de um intervalo breve com a pontuação de wumpas e relíquias zerada, tendo que recomeçar seu percurso do ponto inicial de onde apareceu no mapa junto a seus companheiros nos instantes iniciais da partida.

Cabe aqui falar sobre as classes aos quais cada um dos 3 personagens pertence e seus diferenciais: Crash representa a categoria “pontuador”, e tem seus atributos e habilidades pensados aqui para jogadores mais acostumados à jogabilidade vista nos jogos tradicionais do personagem e que desejam “brilhar” em suas atuações com pulos e rasteiras que permitem juntar o máximo de wumpas possível nas caixas e pelo cenário para serem depositados no pilar principal de cada time.

Coco aqui é classificada como “suporte”, e assim como demais personagens de tal atributo possui técnicas que ajudam a impulsionar membros de uma mesma equipe e protegê-los de investidas adversárias enquanto Dingodile pertence ao atributo “bloqueador”, personagens com alto potencial ofensivo e de resistência que estão ali para atrapalhar pontuadores e suportes rivais de cumprirem seus objetivos durante o jogo, ideal para adeptos de personagens conhecidos como tankers e nookers em MOBAs, que defendem e suportam altas quantidades de ataques de oponentes ou expulsam inimigos que ameaçem o resto do time de fazer seu trabalho em campo. Novos personagens conhecidos dos fãs e do cânone da franquia são liberados a medida que jogadores alcançam determinadas pontuações jogando de pontuador, suporte ou bloqueador com destaque para a personagem Catbat, que faz aqui sua primeira aparição em um jogo da série.

PRÓS E CONTRAS

Activision / Toys For Bob / Divulgação

Sem uma história de fundo, com gráficos razoáveis para um jogo com estética cartunesca e uma trilha sonora que até remete ao que nos lembra Crash, mas que no geral não se destaca por consistir basicamente em reutilizações, Crash Team Rumble se mostra um jogo que até parece apresentar bastante… potencial, mas ainda não dá bem pra saber se esse potencial vai ser desenvolvido posteriormente ou se vai ficar no potencial mesmo, tal qual uma criança com as múltiplas possibilidades do que poderia vir a ser quando crescer.

É importante ressaltar que embora simples, o jogo não deixa de ser divertido, contudo há fatores que podem não prolongar o divertimento que o jogo propõe após alguns dias de experiência. Pra começar, cabe aqui destacar que aparentemente o jogo ainda não “sorteia” os jogadores em partidas de acordo com níveis similares de habilidade e experiência, fato que pode ser percebido ao se ver durante partidas personagens que os iniciantes levarão algum tempo para desbloquear de acordo com seu próprio desempenho durante as partidas. Tal fato pode tornar a experiência relativamente frustrante para quem está tendo seu primeiro contato com um jogo de Crash e sua turma, uma vez que o jogador é atirado em um cenário onde pode se sentir incapaz de apreciar o game por ter que lidar logo de cara com um grupo inteiro de proplayers enquanto ainda é um mero iniciante só querendo se divertir.

Recursos de bate-papo e interação seja com mensagens pré-definidas ou livres de modo escrito ou falado não foram observados nem durante as partidas ou no menu que as antecedem. O máximo que se tem até o momento é um comando que ao ser acionado com um botão solicita-se ajuda em meio a uma disputa em certo ponto do mapa, o que acaba não tornando o jogo minimamente estratégico como ele talvez deveria ser, uma vez que o lugar e os recursos à disposição podem tornar a tela do jogador uma verdadeira bagunça se a câmera não for bem administrada com um dos botões analógicos

A fim de não tornar as partidas um tanto quanto previsíveis, os mapas e recursos são escolhidos pelo algoritmo do jogo de forma randômica, o que pode incomodar a princípio jogadores acostumados a estabelecerem salas, escolherem o terreno e os recursos de Power-Up que estarão à disposição e receber outros jogadores aleatórios interessados naquela disputa. Até onde pude conferir o jogo não tive certeza sobre a ausência de tais alternativas mesmo na opção de criar sala com amigos que também é ofertada, pois admito que não cheguei a fazer uso de tal recurso.

SOBRA COMPANHIA, MAS FALTA CAMPANHA

Activision / Toys For Bob / Divulgação

Uma possível forma de prolongar a atenção dos jogadores à Crash Team Rumble poderia ser um modo campanha, que poderia não só servir como uma forma de “exercitar” melhor as mecânicas para jogadores de primeira viagem ao online do game além da partida tutorial como também permitir que ele fosse consumido em modo offline ou mesmo com multiplayer local, uma vez que mesmo em jogos do personagem que se destacavam por seu multiplayer no passado como Crash Team Racing e o já mencionado Crash Bash havia modos de campanha que ofereciam uma opção a mais ao consumidor para sua própria apreciação do produto.

Um ponto que não tem também como não ressaltar aqui é que aqueles que forem acostumados com o estilo plataforma 3D provavelmente poderão ter uma experiência minimamente desafiadora por colocarem suas habilidades mais à prova do que nunca contra adversários e esses são talvez quem mais irão aproveitar Team Rumble, o que talvez não se pode afirmar no que diz respeito a quem pode escolher o game como uma de suas iniciações no gênero plataforma de mascote, que pode se deparar com um produto final que ainda precisa de mais tempo para mostrar a que veio e que pode não se mostrar tão “amigável” com novatos do estilo.

VEREDITO

Activision / Toys For Bob / Divulgação

Se bem desenvolvido em suas funções online através de posteriores expansões, Crash Team Rumble pode se tornar uma grande referência no segmento onde está realizando sua incursão e quem sabe tornar favorável as opiniões de jogadores que ainda estão céticos quanto à sua qualidade e as razões de seu lançamento.

Sabe-se que a Toys For Bob optou por um caminho considerado por muitos como “pouco convencional” após o sucesso de Crash Bandicoot 4, no entanto, só o tempo e a própria paciência da Activision em aprimorar o produto que entregou dirá se a aposta foi um erro ou um acerto que podem manter o nosso querido Bandicoot vivo e relevante na memória do público fã de jogos.

 

Crash Team Rumble está disponível para os consoles Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series S/X
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*