Análise: Bom Menino | Nem todos podem ser salvos

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Bom Menino (Good Boy) é um daqueles filmes que, mesmo antes de seu lançamento, causa comoção entre o público por apresentar uma ideia até então pouco ou nunca explorada e sempre promove questionamentos do tipo: “será que vai dar bom?“. Neste caso, trata-se de uma produção de terror sob a perspectiva de um cachorro e a Paris Filmes está trazendo ele para as nossas salas de cinema.

Posso estar enganado, mas a última vez que vi uma situação semelhante foi com Águas Rasas (2016), estrelado por Blake Lively. Antes da estreia, sabíamos que o projeto iria apresentar sua protagonista, um mar e um tubarão, sem imaginar como isso seria desenvolvido. Não só foi produzido, como é um dos melhores do gênero – sempre revejo quando posso, permanece sendo um dos meus filmes favoritos.

Bom Menino chega com esta mesma dúvida e a mesma resposta: é possível e o todo foi bem conduzido. A produção nos deixa tenso desde o começo, pois ele não desperdiça nenhum segundo em sua duração de 1h13. Todo minuto é precioso. E, não tenha dúvidas, o protagonista é realmente o cachorro – um duck tolling retriever da Nova Escócia muito fofo chamado Indy. Além dele, temos o seu tutor: Todd.

Paris Filmes / Divulgação

A trama nos leva a sentir duas coisas, pelo menos foram as minhas reações: medo pelo Indy e irritação por Todd. É impressionante como este cara surge causando ranço, não sei se foi algo proposital da direção ou apenas nossos santos que não se bateram. E, diante da situação do mesmo, deveria ser justamente o contrário; deveríamos sentir pena, nos compadecer com o sujeito, mas estes sentimentos passaram 90% do tempo longe de mim. Esta irritação não ocorre pela forma que ele trata o Indy, aliás, eles são melhores amigos e o doguinho é muito bem tratado, a chateação começa por ele se apresentar como um clássico personagem cético que faz burrices em um filme de terror.

E são estas burrices que nos causam receio pelo Indy, nosso herói que vê, escuta e cheira o maligno presente nesta produção. E a presença é algo que me deixou pensativo: será real ou apenas uma projeção do que está acontecendo com Todd? Pois o longa se inicia no apartamento dele, com o cachorrinho sentindo algo ruim e permanece quando o humano tem a brilhante ideia de se mudar para uma casa que fica situada no meio do mato. Entende meu ranço? Pra quê essa mudança? Tem até um cemitério perto da casa!

Além deles dois, temos mais dois outros personagens secundários: Vera, irmã de Todd, e o vizinho Richard. É curioso que não nos é revelado a aparência das pessoas, eles são como a animação de Tom e Jerry, vemos apenas da cintura para baixo, deixando o foco totalmente no Indy e na sua percepção do todo.

Paris Filmes / Divulgação

Como eu disse no topo desta análise, o longa se inicia com nosso coração apertado e temendo pelo pior logo de cara, pois a todo momento Indy olha para um lugar, escuta algo, sente algo, teme por algo. Em diversos momentos, você acredita estar vendo o mesmo que ele e isso é angustiante, pois o bichinho não fala, não grita, apenas reage com som de choro e late para o seu tutor que não liga para as reações do animal e não se atenta aos sinais do mal. Mais um motivo para sentir ranço.

Acredito que você saiba que ele sobrevive, mas isso não significa que nosso amiguinho peludo passa o filme todo num bom passeio. Há um momento em que você sente pena dele e reza para que o Todd tome juízo e volte para seu apartamento, mas é um pedido em vão.

A direção de Ben Leonberg é bem feita, realizando um jogo de câmera interessante além de manter o ar de perigo do começo até o final. A condução de Indy também foi ótima, mas ajuda o fato dele ser o dono e treinador do cachorro. Um nepotismo aceitável.

Este filme é uma boa experiência para os fãs do gênero, principalmente para aqueles que apreciam títulos mais alternativos e que conseguem chamar a atenção pelo quesito inovação. Não duvido que ele chegue a concorrer em algumas premiações.

Nota: 10/10

Agradecimentos a Paris Filmes pelo envio antecipado do material.

Bom Menino estreia dia 30 de outubro nos cinemas brasileiros.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*