A História dos Animes no Brasil Parte 3: A TV por Assinatura

ANMTV / Divulgação

Depois de termos introduzido o tema à dois artigos atrás e falarmos sobre o sumiço dos animes na TV aberta no Brasil na semana passada, eis que agora iremos falar sobre os animes que passaram na TV por assinatura, ou como conhecida TV fechada. Por que houve essa queda na exibição de animes neste nicho da TV brasileira? Quais fatores foram determinantes para este acontecimento? Bem é isso e muito mais que falaremos aqui neste artigo, onde poderemos teorizar, trazer fatos e argumentos para explicar essa situação. Só antes, o agradecimento a todos vocês que no artigo passado, bateram a meta no qual eu havia descrito. Muito obrigado mesmo galera. Bom, sem mais delongas, vamos lá.

Antes de entramos no tema dos animes, proposto pelo título, precisamos entender as origens da TV fechada/assinatura por aqui. A TV por assinatura, no Brasil, surgiu na década de 80, onde as primeiras transmissões desse serviço foram feitas pela CNN e pela MTV, e estas operações serviram de um grande gatilho para a implementação da TV por assinatura e consequentemente, sua regulamentação em 1988. Porém, somente no final de 1989, que o governo introduziu definitivamente a TV por assinatura no Brasil. Em 1991, houve um grande crescimento em investimento nesta área, encabeçada pelas Organizações Globo (que criaram a Globosat) e o Grupo Abril (que criou a TVA). Desde então várias outras empresas investiram neste segmento, no qual ganhou cada vez mais assinantes, se tornando uma grande opção para quem não queria ficar vendo uma programação, praticamente imutável na TV aberta na época (apesar de que a TV por assinatura, na época, ser algo bem caro para os padrões).

Dito isso vamos a história dos animes nesse nicho especifico, que é a TV fechada. Após o grande sucesso que a TV Manchete obteve com animes em sua programação, como Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Sailor Moon, Super Campeões e Yu Yu Hakusho, era de se imaginar que isso se espalharia, de alguma maneira, para a TV fechada, uma vez que ali, poderia ser um grande celeiro para a exibição e uma grande fonte de renda. Brinquedos e produtos relacionados a esta estas franquias esgotavam-se rapidamente, principalmente de Cavaleiros do Zodíaco que virou uma febre entre os fãs. Então se algo está dando audiência, grande retorno das pessoas e principalmente lucro, isso é motivo o suficiente para as empresas apostarem neste tipo de conteúdo. E foi o que aconteceu.

Apesar do triste fim da TV Manchete em 1999, eles marcaram para sempre na história dos animes no Brasil, pois apesar do fechamento da emissora, a cultura japonesa já estava ratificada nas terras tupiniquins. E na TV por assinatura, não foi diferente. Canais como Cartoon Network, Nickelodeon, Fox Kids (que posteriormente se tornou a Jetix e depois o Disney XD) e o Multishow (sim, o canal da Globosat foi responsável por exibir animes no Brasil, por mais que você não acredite). E posteriormente, vimos a criação do Locomotion e com o fim do mesmo, surgiu o canal Animax. Também tivemos Disney Channel, Disney XD e o Boomerang, que exibiam animes. Lembrando galera de uma coisa. Vale aqui a menção honrosa a canais, que não são específicos de animes, mas que em algum momento exibiram na TV algo relacionado ao tema, como por exemplo, a MTV, HBO, MAX, Cinemax, e a Rede Telecine.

O Cartoon Network foi responsável por trazer diversas animações japonesas, como Dragon Ball e os seus filmes, Pokémon, Naruto, Inuyasha, Hamtaro, Animatrix, Sakura Cadcaptors, Zatch Bell… São alguns exemplos de animações que fizeram um grande sucesso no canal. Na Nickelodeon tivemos Monsuno, Yu-Gi-Oh! Duel Monsters, que ficou extremamente popular no Brasil, e a sequência Yu-Gi-Oh! GX. Na Fox Kids tivemos Beyblade (pra começar temos que girar… Quem não lembra da abertura?), Digimon e suas sequências (Adventure, Adventure 02, Tamers, Frontier), Medabots, o grande Shaman King, dentre outros.

O Multishow nos proporcionou alguns também como Macross Plus (o OVA), New Dominion Tank Police (OVA), O Oitavo Homem – O Policial do Futuro (8 Man After OVA), Babel II (OVA), Genma Taisen, Oneamisu no Tsubasa (Asa de Honneamise). O Locomotion tivemos Akira, City Hunter, Cowboy Bebop, Lupin, Saber Marionette J. E no saudoso Animax vários animes que fizeram sucesso como Bleach, Black Jack, Death Note, Fullmetal Alchemist, Hunter X Hunter, Hellsing dentre muitos outros.

O Disney Channel e o Disney XD exibiram Beyblade: Metal Fusion, Beyblade: Metal Masters Beyblade: Metal Fury Digimon: Data Squad (Digimon Savers), PUCCA e Stitch!. E por fim o Boomerang  tivemos, As Meninas Superpoderosas Geração Z (Power Puff Girls Z), Ashita no Nadja, Gatchaman, Kaleido Star, Kaleido Star: New Wings Extra Stage, Kimba the White Lion (Jungle Taitei), Sakura Card Captors e Tokyo Mew Mew.

Dito tudo isso, os animes sem dúvidas, foram algo muito marcante na TV por assinatura do Brasil. Mas porque houve esse “esvaziamento” dos animes neste segmento? Você deve estar pensando que são as mesmas regras, que se aplicam (ou aplicaram na época), na TV aberta, por conta da classificação indicativa e das suas exibições em determinados horários, foram que causaram o enfraquecimento dos animes na TV fechada, certo? Errado. As regras de classificação indicativa só se aplicava a TV aberta e por conta disso, a TV paga não segue estas regras. Então por qual motivo os animes decaíram tanto?

Não tem um motivo plausível para esta queda vertiginosa dos animes em canais fechados mas podemos linkar e analisar fatos e que a partir de agora é o que eu acho que ocasionou este esvaziamento. Bem, basicamente podemos dizer que o  primeiro ponto seria o público. O público que era jovem ou criança na década de 90 e inicio dos anos 2000, que cresceu vendo animes, vai ser digamos o “público alvo”. Porém, as crianças de hoje em dia não cresceram como a gente cresceu. A geração atual vê atualmente desenhos animados que são bem infantis, e por mais que você ache isso absurdo, é o que dá um grande retorno de audiência, vide o Discovery Kids, que é um canal dedicado ao público inteiramente infantil, figura como uma dos canais de maior audiência na TV por assinatura. E esse fator de público e audiência, tem haver com o próximo tópico que iremos falar, que é a publicidade.

Quando falamos de audiência, naturalmente falamos de público e quando falamos de público estamos nos referindo a consumo. E nada melhor do que comerciais e publicidades vinculadas a esta parcela da população, certo? Correto. Então os desenhos que vemos atualmente, dão um grande retorno para as emissoras, e consequentemente, as apostas neste público são mais garantias de certeza de audiência. Mas pera aí Éder, os animes também possuíam “muito audiência”, isso não é justificativa para sair os animes das emissoras de TV paga. Sim, você está certo em partes, porém temos duas questões interessantes, que é o horário de exibição dos animes e a questão do nicho. Quando começaram a vincular animes na madrugada, meio que ficou “escondido” na grade das emissoras, uma vez que eram poucos os que ligavam a televisão tarde da noite para assistir animes. E isso foi minando a audiência deles por aqui. Outra situação é os animes serem algo de nicho, algo bem específico para determinado público. E infelizmente as crianças, que são a parte fundamental para consumo do produto, não veem anime como algo que lhes façam admirar. É uma cultura diferente da qual as pessoas que cresceram na década de 90 e nos anos 2000. O público daquela época é um, e o de hoje é totalmente diferente. Mas Éder eu ainda não estou convencido. Vamos para a questão do prejuízo.

Atualmente canais segmentados por animes, games ou algo parecido, dão pouco retorno financeiro para eles. Se não está dando o retorno esperado, a ideia de extinguir, vai se tornando mais clara na visão de um empresário. E os pensamentos de comprar  pacotes de desenhos americanos é mais barata e lucrativa do que um anime, pois dizem que adquirir um anime não é algo barato se comparado a esses desenhos. Fora que, como foi dito, não dão o retorno esperado e que as empresas não querem ver sua marca veiculada a um anime que ranca tripas, tem muito sangue e tem situações que “afetam a moralidade e destoam de como é a sociedade”. E isso foi minando muito os animes na TV fechada que tanto todos nós gostamos. Fora que atualmente, a competição se tornou grande, uma vez que os Streamings vieram com tudo, na aquisição de animes, tirando grande parte do público desses canais, já que este serviço tem se tornado cada vez mais popular e preços mais acessíveis, se comparado a TV paga. Mas isso será tema para um próximo artigo.

Resumindo tudo isso, dificilmente veremos aquela febre dos animes na TV fechada voltar. Emissoras como a PlayTV, apostaram em adquirir animes famosos, como Naruto, Bleach, Death Note mas não obteve o resultado esperado. E isso desanima cada vez mais de se apostar neste segmento, tão admirado por nós mas que financeiramente falando, não é bem visto pelas emissoras. É um cenário praticamente impossível de retorno, são poucos os animes que sobrevivem, e os que têm, são famosos perante o público e que são “Family Friendly”, ou seja, são para toda família. Pokémon e Dragon Ball Super são exemplos claros disso. A atual temporada de Pokémon, Sun e Moon, que é muito mais infantil, tanto no enredo quanto nos traços da animação,tem obtido uma audiência superior a saga XY, onde tivemos histórias mais densas e uma animação muito boa. Já o caso de Dragon Ball Super, perdeu aquela essência que se tinha no Dragon Ball clássico e no Z, onde tínhamos sangue e outras coisas. Agora temos apenas “babas e leite” saindo da boca dos personagens. É triste mas é a realidade do mercado. Atender a todos os públicos possíveis e isso é ruim para gente, mas financeiramente ótimo para as emissoras. Nesta queda de braço, perdemos todos nós.