Programação infantil em queda na TV aberta

Após a extinção do TV Kids e a redução da TV Globinho, que agora ficou restrita aos sábados, a programação infantil vem perdendo cada vez mais espaço na TV aberta brasileira e, segundo executivos, essa tendência deverá ser cada vez maior.

Algumas emissoras ainda apostam em uma faixa infantil e conseguem se dar muito bem, como é o caso do SBT, que há anos exibe diversas animações da Warner e vem sendo elogiado por transmitir Justiça Jovem e a nova versão dos Thundercats, cujo terceiro episódio foi exibido neste último sábado.

Outro exemplo positivo é a Bandeirantes, que viu sua audiência melhorar com a chegada de Power Rangers e as séries da Nickelodeon. E quanto aos animes, o canal tem na geladeira a série Dragon Ball Kai. Correndo por fora temos a Record, que exibe exaustivamente Pica Pau, mas já deixou mais do que claro que não se importa com programação infantil. A emissora foi uma das pioneiras no chamado “boom do anime na TV“, ao estrear Pokémon e investir em outras séries como Sailor Moon (que ficou pouco tempo no ar) e outros animes menos conhecidos (Zorro, Robin Hood).

A Rede Globo também merece ser lembrada, mas de uns tempos pra cá reduziu drasticamente as atrações infantis em sua grade. A emissora alega que esse tipo de programa não dá audiência e muito menos retorno publicitário, por este motivo a TV Globinho acabou ficando menor. Apesar de não ser lucrativo, o infantil sempre empatou com o matinal “Hoje em Dia”, da Record.

A Globo menciona que adotou um modelo utilizado em outros países: programação infantil deve ficar restrita a TV paga, onde não há censura, classificação indicativa ou redução de publicidade infantil, o que não deixa de ser verdade, mas se analisarmos mais a fundo, os canais infantis parecem gostar de seguir a risca duas coisas: censura e classificação indicativa, aplicadas por livre e espontânea vontade já que na prática não são obrigados a censurar, como foi o caso do Cartoon Network com Apenas Um Show e consequentemente o mesmo deve acontecer com MAD TV.

Segundo Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, a programação infantil dá audiência e é lucrativa nos canais fechados justamente por não ter restrições, e esse foi um dos motivos para a Globosat lançar seu canal infantil, o Gloob. “Na Globo mãe, não estamos deixando de fazer programação que interesse à criança, mas que interesse apenas à criança”, diz.

Especialistas afirmam que a decisão da Globo de deixar a programação de lado deve-se ao fato dela ser feita para um público específico. Para Newton Cannito, ex-secretário do Audiovisual, a programação precisar ser muito segmentada dentro do próprio segmento. “São diversas faixas etárias que concorrem entre si. Até os seis anos é uma. Dos sete aos dez, é outra. E ainda começa uma subdivisão entre gêneros: o que agrada ao menino não agrada à menina.”

Como a TV aberta vive de publicidade e uma nova lei proíbe as emissoras a não veicular excesso de propagandas, a grade infantil acaba sendo prejudica, neste caso, os cofres das emissoras. Apesar dos canais do gênero possuir uma grade variada e toneladas de comerciais de brinquedos, alimentos e etc, não quer dizer que todas as crianças tenham acesso a eles, pois a TV paga só agora se tornou popular, mas sua penetração está longe de ser a ideal.

Para sobreviver e manter esse tipo de conteúdo no ar, as emissoras precisam se dedicar aos pontos fortes, como o próprio SBT faz, chegando a ser elogiado pelo diretor-geral da Globo, Octávio Florisbal. O canal dedica sete horas diárias ao gênero.  Para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a programação infantil devia ficar restrita somente aos sábados, tal como acontece nos Estados Unidos.  “Com tantos canais […] transmitindo toneladas de lixo estrangeiro, não seria a hora de as redes abertas deixarem esse tipo de produto apenas para o sábado, quando não há aula?”.

Estaria ele certo?


Via Folha de São Paulo