Análise: Napo: quando as emoções persistem

Miralumo Films / Divulgação

A animação brasileira cresceu muito na última década. Produtoras como a Copa Studio (Irmão do Jorel e Tromba Trem) e o Combo Studio (Any Malu e Super Drags) elevaram o padrão da animação nacional e têm ganhado cada vez mais projeção. Esse também é o caso da Miralumo Films, que nos traz Napo, um premiado curta-metragem em animação 3D dirigido por Gustavo Ribeiro.

A animação conta a história de Napo, um senhor de idade que vai morar com sua filha e neto depois que o alzheimer se intensifica. A partir daí, acompanhamos João, o neto de Napo, tentando compreender e lidar com a condição do avô. Apesar da temática, o curta é indicado para adultos e crianças.

Histórias sobre alzheimer estão sempre em voga na produção audiovisual. Em 2014, tivemos “Para Sempre Alice”, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Julianne Moore; recentemente, em 2019, “Meu Pai” que, coincidentemente, rendeu o Oscar de Melhor Ator para Anthony Hopkins. Trata-se de uma temática que sensibiliza muito as pessoas, acredito que devido à inevitabilidade da doença e a completa impotência da família diante dela.

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Nem sempre é fácil acessar pessoas neurodivergentes. E no caso do alzheimer, é ainda mais complicado, afinal, a doença deteriora a capacidade cognitiva e a memória do indivíduo. Entretanto, mesmo nesse contexto extremamente dramático, o curta-metragem escolhe abordar o tema de uma forma mais leve.

Aqui, a direção de Napo toma uma decisão muito inteligente e acertada. A fim de interagir com seu avô, o protagonista começa a utilizar desenhos que reacendem as memórias e as emoções do idoso. Isso possibilita a experimentação de outro formato de animação, o que gera uma quebra de expectativa e torna a história ainda mais comovente.

Os aspectos técnicos do curta também impressionam. As cores em tela que mimetizam o estado de espírito dos personagens, as texturas de quase todos os elementos em tela (o sofá, as roupas, os móveis etc.) são muito detalhadas e o meu favorito: a brasilidade da ambientação. Ainda que Napo utilize muito da “estética Pixar” em seus personagens, qualquer brasileiro que se preze vai se sentir em casa. Desde os chinelos até o jornal que passa na TV, esse é o tipo de representatividade que não sabia que precisava até ver em tela.

Miralumo Films / Divulgação

Curtas-metragens costumam trazer histórias impactantes e, frequentemente, com finais abertos ou que deixam reflexões. Mas após assistir Napo algumas vezes, fiquei inconformado com a forma abrupta como ele se encerra. A resolução me pareceu simplista demais para a jornada daqueles personagens.

Porém, depois de elaborar mais sobre a animação, percebi que Napo permanece. O tema também permanece. É como se a animação não fosse apenas um curta-metragem, mas um registro de determinadas emoções, assim como os desenhos que João cria. Napo é sobre memórias, mas ao mesmo tempo, ele serve como memória. E, afinal, o que são as memórias senão as emoções que persistem?

Napo será lançado no YouTube no dia 28 de outubro, às 20h, no canal da Miralumo Films.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*