Ex-diretor da Madhouse culpa fansubs e animação 3D pela crise do anime

Que a animação japonesa está em crise já faz algum tempo não é nenhuma novidade. Fala-se muito na falta de criatividade dos criadores e na forma como as empresas licenciam seus produtos no resto do mundo. Mas o grande culpado, segundo um ex-diretor da Madhouse, é a pirataria.

Em uma entrevista publicada no site ASCII.jp, Masuda Hiromichi culpou os fansubs e a animação 3D pela crise da animação japonesa no país. Confira as declarações mais importantes e polêmicas dadas por Hiromichi:

1 – Naruto não pode fazer tanto dinheiro

O caso de maior sucesso exportado do mundo dos animes é Pokémon. Ele teve grandes vendas no início do ano 2000, porém, a maior parte dos lucros foi com produtos baseados nos personagens e jogos. No caso de Naruto, o principal produto é tudo que seja relacionado a vídeo, pois a maioria das pessoas só quer saber de ver séries gratuitamente e nunca gastar dinheiro com DVDs. A popularidade do anime continua em alta, mas as vendas fora do Japão em 2009 caíram por volta de 51% em relação a 2006.


2 – Pequenos produtores não podem contra fansubs

É impossível tomar medidas legais contra streaming não autorizado e download de arquivos. Os valores das vendas anuais de grandes produtoras de anime são quase iguais aos que a Disney gasta anualmente em medidas antipirataria.


3 – A parceria com o Crunchyroll não funcionou bem

Tentamos criar uma boa relação com os fansbus por meio de um contrato com o Crunchyroll. Esperávamos que ele tomasse medidas legais contra o download de arquivos, mas isso não foi possível. Ele também é uma empresa pequena como a nossa. Muitos dos títulos são simplesmente incompatíveis com o simulcast, porque a produção de cada episódio de uma série, geralmente, é concluída um pouco antes de ser transmitida no Japão.


4 – Fansub como “publicidade gratuita” é algo irreal

Criou-se a ideia de que os produtores de anime podem fazer dos fansubs uma espécie de “relações públicas” gratuito, e pode ganhar dinheiro com a venda de produtos ao invés de DVDs. No entanto, a venda de mercadorias fora do Japão não é negócio simples. Acordos de licenciamento e os meios de vendagem levam muito mais tempo e energia do que as vendas no formato de vídeo. Enquanto isso, aparecem os produtos e dominam o mercado.

Além disso, o mercado de produtos baseados em animações japonesas é voltado especificamente a um determinado público, bem menor do que o de animes voltado para crianças. Temos de deixar tudo nas mãos do formato de vídeo, que sem dúvida alguma, cria problemas para os fansubs que os disponibilizam gratuitamente.


5 – A animação 2D está se tornando obsoleta

Hollywood já adotou por completo a tecnologia de animação 3D. A demanda pelo 2D não vai mais crescer. A produção em massa de animações em 3D não é páreo para a ineficiente animação japonesa em 2D.

Seriam plausíveis os argumentos de Masuda Hiromichi? De fato o diretor esqueceu que o modelo adotado pelos japoneses para negociar animes é visto como “arcaico” e “ultrapassado”, pois o produto é vendido para canais e distribuidoras de todo o mundo a peso de ouro, isso sem contar o enorme delay para que uma produção chegue num país, algo que não acontece com as animações e séries de TV americanas.

Independente das produções americanas serem mais baratas, elas são mais acessíveis e estreiam facilmente em vários países enquanto ainda são exibidas em seu local de origem. Aqui na América Latina, por exemplo, a janela de exibição diminuiu consideravelmente, tanto que o atraso costuma ser de duas semanas entre os Estados Unidos e a região, no que se refere a seriados, e tudo isso para combater a pirataria.

Há quem diga que os japoneses estão errando e muito em querer ganhar rios de dinheiro com os animes vendendo-os tão caro, quando poderiam mudar sua forma de negociação e agilizar a disponibilidade, o que possivelmente poderia diminuir o problema que enfrentam. Na prática, o modelo japonês não condiz com a atual realidade do mundo de hoje.

A tecnologia fez com que qualquer pessoa tenha acesso a um anime em questão de um único clique. Como a indústria do anime ainda não conseguiu ou não quer encontrar uma solução que agrade os dois lados (fãs e empresários), a briga entre eles e a pirataria não deverá ter um fim tão cedo.