Cartoon Network: Pablo Zuccarino responde aos leitores do ANMTV

ANMTV / Cartoon Network / Divulgação

Após uma longa espera, finalmente trazemos para vocês a tão aguardada entrevista que o ANMTV havia feito com o executivo Pablo Zuccarino, que em 2018 foi promovido ao cargo de VP sênior e Gerente Geral dos canais infantis da Turner na América Latina (Cartoon Network, Boomerang e Tooncast). Como sempre lembramos, os responsáveis por diferentes canais, assessorias e etc, estão sempre visitando nosso site, especialmente os comentários, a procura de feedback do público que os assiste, e foi exatamente o que Pablo fez. A ocasião foi muito importante não apenas para ele, que havia alcançado um cargo maior dentro da programadora, mas também pelos 25 anos de existência do Cartoon Network na América Latina, completados no referido ano.

A princípio, o que parecia ser uma brincadeira, se tornou algo sério a medida que mensagens e emails foram trocados, e tudo começou a ganhar forma. A demora nas respostas deve-se ao fato de que Zuccarino é, obviamente, alguém muito ocupado, e por conta disto, recebemos-as somente no final de novembro. Este trata-se de um marco muito importante para nós e de certo orgulho, já que em nossos 11 anos de existência, essa aproximação com o Cartoon Network faz parte de nossos melhores feitos.

Em relação a entrevista é preciso ter mente aberta. Pablo deixou alguns enigmas no ar, que até mesmo podem vir a coincidir com o atual momento que algumas coisas estão acontecendo no Brasil e América Latina em termos de animações e animes. No final, o executivo menciona que haverá uma surpresa para os leitores (nem nós sabemos o que é), mas a resposta deverá ser conhecida em algum momento deste ano. Confiram abaixo todas perguntas que os leitores do Brasil e América Latina fizeram a Pablo Zuccarino:

Quais são os maiores desafios para o Cartoon Network, Boomerang e Tooncast?

Pablo Zuccarino: Olhando para o futuro, em geral, para todas as marcas, o importante é entender a conexão com o público e manter a relevância. Estamos enfrentando um “ecossistema” que está constante evolução, onde os fãs consomem conteúdo em diferentes plataformas e também têm mais opções. Então, nosso principal desafio é permanecer em evidência e em ligação contínua com os telespectadores, mantendo esse nível de conexão que tivemos até agora e por 25 anos!

Falando especificamente sobre o Cartoon Network, há um elemento muito interessante que é o assunto da produção original. Esse é um dos grandes desafios com o qual lidamos na América Latina, a capacidade de adicionar a biblioteca de conteúdo que já temos de nossos estúdios, um oportunidade para os criadores latino-americanos possam desenvolver suas idéias e visão criativa junto conosco. Já existem exemplos muito bons, como é o caso de Vilanesco no México, mas obviamente queremos mais projetos, mais longos e com mais frequência.

Quanto ao Boomerang, queremos alcançar um nível semelhante ao do Cartoon Network e procurar essa ligação com a parte mais jovem do público. Estamos fazendo muito progresso e está funcionando muito bem, mas queremos continuar crescendo. Já o Tooncast tem um desafio que tem a ver com o número de fãs que pode conquistar hoje pelo modelo de distribuição de TV por assinatura, e queremos tentar quebrar essa barreira e se conectar com os telespectadores em todas as plataformas e numa escala maior .

O Sr. já pensou em expandir o público-alvo do canal? Especialmente considerando sucessos como o anime e a ascensão ao universo da DC Comics?

Pablo Zuccarino: Estamos sempre pensando em como nos conectar com mais fãs e manter viva nossa ligação com os que já passaram no passado pelo Cartoon Network, durante a infância. Por isso, estamos constantemente avaliando novas opções e novas maneiras de nos conectar. Todas as marcas que fazem parte do universo Cartoon Network e da Warner Media são uma oportunidade para nós.

O anime também é parte do nosso DNA e está em nossos corações como fãs, e dentro dos corações das pessoas que trabalham na Cartoon Network, mesmo que, do ponto de vista do público nem sempre seja uma situação de grande alcance. Às vezes, você tem que encontrar o conteúdo certo, no momento certo, para um público certo. Temos feito isso com algumas propriedades muito fortes, como Dragon Ball, e acho que no futuro haverá uma oportunidade de fazê-lo com algumas outros títulos. O mundo digital também abre a oportunidade de segmentar públicos e pensar em diferentes possibilidades.

O anime é parte da essência do canal, mas é uma realidade que não é escolhida pelo público atual com o volume que gostaríamos que tivesse. Mas o que o canal tem a oferecer na TV, o público infantil prefere outra coisa. Mas ao mesmo tempo, destacamos que isso é algo relativo, em diferentes plataformas estamos dando aos fãs de animes o que eles querem. No cenário multiplataforma, estamos fazendo tudo o que podemos para agradar esse nicho de fãs sem deixar de lado nosso público infantil.

No Brasil, temos um exemplo interessante. Recentemente, lançamos um bloco específico, chamado Cartoon Network OFFAIR, que tem como objetivo se conectar a uma geração diferente. Ao mesmo tempo em que fazemos isso no Facebook, em nossas atividades ao vivo com o YouTube, temos um canal do Twitch, por isso, nas redes sociais e na TV, sempre procuramos maneiras de nos conectar com diferentes segmentos.

Por qual motivo a publicidade é quase inexistente em horários inacessíveis para séries que não são produzidas pelo canal?

Pablo Zuccarino: Na verdade, nós temos em nossa programação muitas séries que não são produções 100% originais que estão sendo exibidas em bons horários, tendo um bom espaço e publicidade, tanto as animações locais em cada um dos diferentes países da América Latina, como aquelas feitas por terceiros, que são muito importantes para nós e são tratadas e trabalhadas com todo carinho. Um exemplo deste ano é Capitão Tsubasa, que foi bem divulgado e esteve em bons horários, também em nossas plataformas digitais lineares e ele não é uma produção original.

Por outro lado, é verdade que nossas propriedades são aquelas que melhor refletem o DNA da nossa marca. Temos estudos muito prolíficos entre Cartoon Network e Warner Animation, que produzem 30 séries por ano, o que é um volume muito grande e de alta qualidade. Assim, a principal oferta de nossas plataformas será o conteúdo que nossos estúdios criam e que também reflete muito bem o que queremos dar ao público. É por isso que eles às vezes tem essa prioridade: por causa do volume que produzem, por causa da qualidade e porque eles representam exatamente o que queremos alcançar. As produções feitas por outros estúdios nos ajudam a cultivar o relacionamento com o público e a completar o alcance de nossa oferta de conteúdo, o que nos torna bem-sucedidos na região.

Uma curiosidade: Quais são seus animes favoritos? E quais deles gostaria que fossem exibidos pelo Cartoon Network?

Pablo Zuccarino: Do meu ponto de vista pessoal, tem séries que eu gostei muito. Eu acho que Dragon Ball é um dos exemplos mais emblemáticos de algo que eu realmente gosto e que temos em nossa família. E quais outras séries gostaríamos de transmitir? Eu acho que haverá novidades no futuro, mas estamos constantemente procurando por isso. Na Cartoon Network, temos muitos especialistas na equipe que não apenas trabalham com as marcas que temos, mas estão constantemente avaliando novas oportunidades para expandir nossa oferta.

O Cartoon Network está ciente das opiniões que as pessoas fazem sobre suas produções na internet? Isso influência de alguma forma nas decisões do canal?

Pablo Zuccarino: Tentamos ouvir e prestar atenção em tudo o que nossos fãs dizem. Como eu disse antes, um dos nossos desafios é manter a conexão e entender o que o público quer, então preste muita atenção. Do ponto de vista de como lidamos com o canal e a proposta de conteúdo, apesar de ouvirmos o tempo todo, não há uma única voz, já que temos segmentos diferentes – o segmento infantil, o segmento de fãs de outras idades (que sempre querem coisas diferentes). Parte do nosso trabalho é conciliar e equilibrar essas necessidades.

No caso do público que é leitor do ANMTV, que é uma comunidade que achamos muito interessante e muito apaixonada, nós os ouvimos e somos muito agradecidos por ter fãs que nos deixam saber sua opinião. Nós ouvimos com grande atenção o que a comunidade está marcando e pedindo. Como eu disse, às vezes é difícil responder a essa solicitação porque a oferta de conteúdo que estamos trabalhando tem que equilibrar com o público infantil. Então, você nem sempre pode responder ao que um fã de outra era preferiria, porque temos uma nova geração de crianças a cada ano com a qual temos que nos conectar e nos manter entretidos.

Não se esqueça que o nosso foco principal são as crianças, assim como fizemos no passado para as gerações anteriores (que felizmente ainda nos acompanham). Então, a partir daí começamos e depois procuramos maneiras de incorporar vários níveis e ofertas diversificadas para que todos fiquem felizes. Na gestão do canal, tentamos levar em conta as diferentes necessidades dos diferentes segmentos. Em suma, devemos atender ao nosso principal foco, que é essa nova geração de crianças que podem aproveitar aquilo que o Cartoon Network tem a oferecer, assim como nossos maiores fãs fizeram na infância. Mas, paralelamente, estamos encontrando maneiras de nos aproximar com nosso público de todas as idades e queremos que nossa maior comunidade de fãs se sinta muito amada.

Tal como Dragon Ball Super, o público espera por animes deste estilo que se encaixem no perfil do canal, como Cavaleiros do Zodíaco: Ômega e Boku no Hero Academia. Gostaríamos de saber se existe a possibilidade de algum dia tais títulos serem transmitidos. Qual é o critério adotado para que séries tão aguardadas como esta cheguem ao Cartoon Network?

Pablo Zuccarino: Estamos cientes de quão importantes e necessárias são algumas dessas propriedades e estamos continuamente explorando oportunidades para incorporar novos conteúdos. O critério que usamos tem a ver com o que eu disse antes, levar em conta o público infantil e equilibrar o que os fãs de outras eras preferem. Algumas propriedades, como Dragon Ball, nos permitem fazer esse trabalho de satisfazer as diferentes faixas, com outras é mais difícil. Mas sim, estamos interessados, gostamos e o critério é sempre o mesmo: o que o público quer, não só do ponto de vista do que é falado, mas do que escolhem todos os dias na TV e em nossas plataformas digitais.

Para nós, a expressão verbal é tão importante quanto o que vemos nas estatísticas, que são muito importantes para nós. O público nos marca com suas decisões, o que eles querem ver. Para nós, é importante que o conteúdo possa chamar a atenção de diversas faixas etárias, que seja apropriado para os diferentes públicos que temos e que ele se conecte com o maior número de fãs possível para manter a escala da comunidade de fãs que temos. Por isso, é importante que procuremos propostas que se conectem com o maior número de telespectadores, para que seja viável adicionar a um veículo tão grande quanto o Cartoon Network.

Falemos sobre um assunto delicado: Toonami, um dos assuntos mais pedidos pelos fãs. Durante as madrugadas, o Cartoon Network leva ao reprises nesta faixa, que poderia ser dedicada para jovens e adultos que estão assistindo TV. Porque não trazer o bloco de volta tal como fez a matriz do canal nos Estados Unidos? Existe algum motivo para não trazer de volta o Toonami na América Latina?

Pablo Zuccarino: Os fãs nos fazem esta mesma perguntante constantemente, e sabemos o valor e a forte ligação que o Toonami criou com uma geração muito importante de fãs para nós. Do ponto de vista da marca, temos muita admiração pelo Toonami, que ofereceu uma proposta muito específica de programação. A marca estava evoluindo nos Estados Unidos e agora está associada a animes e a um público adulto no Adult Swim. É um segmento que não temos dentro do Cartoon Network da América Latina. O Toonami ainda está vivo de alguma forma. O que fizemos foi transportar algumas propriedades, como Dragon Ball (visto no Toonami) e incorporá-las a grade do Cartoon Network.

Apesar de estarmos constantemente avaliando as opções e tentando entender quais são os melhores negócios e o momento certo, por enquanto, não temos planos de trazer o Toonami de volta para nossa programação. Para nós, com os critérios que discutimos nas perguntas anteriores, é importante ter a possibilidade de nos conectarmos com todos públicos que estamos trabalhando e queremos ter certeza de que a oferta de conteúdo é adequada para todos.

Porque o Cartoon Network costuma ignorar produções que não são originais, estreando novos episódios sem aviso prévio na programação?

Pablo Zuccarino: Esta questão tem um pouco a ver com o que falamos anteriormente. Como eu estava dizendo, isso não é verdade. Existem muitas séries de terceiros que recebem muita divulgação. Muitas vezes, devido ao número de estreias e novidades que temos em nossas plataformas, é difícil anunciar tudo o que está acontecendo. Felizmente, os nossos fãs conhecem bem a vida do canal e conseguem acompanhar e aproveitar todo o conteúdo, mas as vezes, é difícil conseguir divulgar tudo. É literalmente uma questão de tempo, e de recursos.

Tudo que aparece na TV nos dá orgulho e, idealmente, queremos que nossos fãs saibam o que está acontecendo e encontrem o que estão procurando a qualquer momento. Tentarei trabalhar com a equipe para ter certeza de que não cometemos erros e de que não façamos lançamentos sem aviso prévio, mas isso pode ter a ver com esse fluxo e o número de episódios. Para citar um exemplo, em 2018, lançamos mais de 250 novos episódios e para 2019 temos mais de 300 novos episódios planejados, por isso é apenas o fluxo de novos conteúdos, o que faz com que as vezes seja difícil anunciar tudo. Estamos disponíveis e podemos consultar nossa equipe de imprensa para que eles tenham as informações necessárias quando precisarem.

O Cartoon Network exibe diariamente em sua programação animes como Dragon Ball Super, mas ignora certos conteúdos, como os filmes animados da DC Comics, que possuem o mesmo nível de violência. Porque o canal deixa de lado este tipo de produção num momento que a DC precisa ter mais contato com o público infantil devido a expansão da Marvel pela Disney?

Pablo Zuccarino: Somos cientes que esta é uma oportunidade que não exploramos. Para nós, a DC Comics é uma prioridade e nós trabalhamos para apoiar marcas, mas em geral nós fazemos isso através de conteúdo que é adequado para o nosso público e ter um tom relacionado ao segmento que gerenciamos no canal. Podemos citar como exemplo a Liga da Justiça ou Jovens Titãs.

Quais surpresas os telespectadores podem esperar do Cartoon Network em 2019?

Pablo Zuccarino: Lançamos no Brasil, e queremos fazer isso em outros países, o CN OFFAIR, que pensamos que pode ser uma boa ligação com os fãs do ANMTV. Estamos constantemente avaliando novos propostas de conteúdo na categoria anime e acreditamos que, se tudo correr bem, em breve teremos uma surpresas que deve agradar aos leitores do ANMTV.