Análise: Sonic 3 – O Filme: o fim do período sombrio de Shadow

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Se tem um personagem da franquia Sonic que em meio ao ano de 2024 finalmente voltou à posição que merecia, esse alguém sem dúvida foi o ouriço negro Shadow, um dos principais antagonistas de Sonic 3 – O Filme.

Tendo sua primeira aparição em 2001 através do jogo Sonic Adventure 2, até então lançado para o console Dreamcast, que marcaria o fim das incursões da Sega no mercado de videogames domésticos, o anti-herói com conceito criado por Takashi Iizuka, Shiro Maekawa e desenhado por Kazuyuki Hoshino acabou se tornando tão popular ao ser apresentado, que seu “contrato de trabalho” acabou sendo renovado por tempo indeterminado pelo Sonic Team, ainda que projetos posteriores nem sempre tenham estado a altura do perfil que o consolidou entre os fãs.

Mas com o lançamento do recente jogo de videogame Sonic X Shadow Generations e com o 3º filme do velocista azul nas telonas, mesmo com seu jeitão soturno, Shadow está mais iluminado pelos holofotes do público que nunca, e ao comentarmos sobre a 3ª parte da saga de Sonic e seus amigos nos cinemas, você logo saberá o porquê.

O “FERMENTO” QUE SONIC PRECISAVA PARA CRESCER

Paramount Pictures / Divulgação

Logo no começo do filme, é mostrado o laboratório secreto onde Shadow encontrava-se em estado de animação suspensa, em algum lugar nos arredores do arquipélago japonês. Sendo constantemente vigiado por agentes de segurança há cerca de ao menos 50 anos, o estranho ser jamais causou grandes problemas ou mesmo sustos em sua atual condição para aqueles que cuidam de sua vigilância. Porém, e de forma súbita, a criatura logo é despertada de seu sono induzido, graças ao que parece ser uma aparente ação indireta de Robotnik e começa a demonstrar todo seu potencial destrutivo contra quem quer que tente detê-lo já nos primeiros minutos, partindo posteriormente para Tóquio, ainda sem um propósito claro.

Enquanto isso, Sonic, Tails e Knuckles estão em um divertido momento em “família” nos arredores de uma floresta quando logo acabam sendo convocados por agentes da G.U.N para deterem a ameaça iminente ao qual ainda não tem total conhecimento e a partir daí começa o deleite do público não só com as cenas já vistas nos trailers como primorosas sequências que combinam o melhor que Hollywood poderia oferecer em termos de ação e efeitos especiais, com a sensação de velocidade típica de jogos da “era moderna” de Sonic.

Paramount Pictures / Divulgação

Com o desenrolar do longa, vamos entendendo melhor as experiências que tornaram Shadow o que ele é, as motivações de um até então desconhecido familiar de Ivo Robotnik, que dessa vez retorna com um visual mais parecido com o dos games, assim como a forma que a própria aparição de Shadow impacta a relação de Sonic com aqueles que consideram sua família, o que culmina em um apoteótico confronto final de proporções cósmicas que vai sendo edificado com boas cenas de comédia protagonizadas especialmente por um inspirado Jim Carrey e um significativo drama, ambas dosadas de maneira equilibrada a ponto de lembrar animes, e que conseguem dar à produção um verdadeiro ar de blockbuster, algo bem discrepante do clima de “sessão da tarde” que os antecessores traziam (especialmente o primeiro). Mas…o que de fato faz esse filme trazer um amadurecimento louvável à saga de Sonic nos cinemas?

DORES DO CRESCIMENTO X DORES DO LUTO

Paramount Pictures / Divulgação

Apesar da primeira pessoa a quem Shadow se vincula emocionalmente não ter tempo de tela o suficiente para que o impacto da cena onde perde sua vida seja mais sentido pela audiência, é notório observar que muito do que move esse antagonista em suas atitudes são sobretudo as dores emocionais de um processo de luto, ainda que disfarçada de uma insaciável (chegando até a ser caricata às vezes…) sede de vingança, sendo talvez uma ótima abordagem introdutória para o tema em meio a um público que está tendo a oportunidade de crescer junto com Sonic em seus filmes.

O novo personagem traz não só peso, como também consistência a uma franquia cinematográfica que tem potencial para não só trazer futuros momentos memoráveis a seus espectadores como também abordar de um jeito compreensível junto a eles outras questões que fazem parte da experiência de crescimento humana.

Se por um lado temos durante o longa antagonistas amargurados com uma humanidade que não os poupou do sofrimento de uma perda precoce, por outro temos um protagonista que embora demonstre ser de algum modo afetado por tais angústias ao compreender melhor seu rival, busca usar aquilo que aprendeu com aqueles que lhe são importantes para lidar com o que sente do jeito certo, ainda que esses seus princípios sejam abalados em uma cena do filme onde um de seus entes queridos fica em risco de vida, colocando em cheque seus ideais de resolver as coisas de um jeito “heróico”.

Paramount Pictures / Divulgação

No fim, o que eu diria é que apesar de sua linguagem simples, Sonic 3 – O Filme consegue trazer um confronto de bem contra o mal que teria mais haver sobre como cuidar de suas feridas emocionais de um jeito assertivo em contraposição ao levar o mal estar em sua alma às últimas consequências para si e para o mundo, e essa “sombra” sem dúvida precisa ser sempre iluminada por todos nós para que produções como essa possam ir muito além de mero entretenimento. Dito isso, que venha Sonic 4.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*