Análise: Bleach: Rebirth of Souls: Você agora se sente o Número Um?

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Se por um lado animes tem alcançado cada vez mais popularidade a nível global, por outro jogos eletrônicos baseados nesse tipo de produção tem enfrentado dificuldades em anos recentes para se destacarem no não menos concorrido mercado de videogames.

Isso porque a partir da 6ª geração de consoles, período onde o público foi apresentado ao PlayStation 2, o primeiro Xbox e ao Gamecube da Nintendo, um tipo de game baseado em animes começou a se destacar e a se popularizar mais que outros tipos: o subgênero que passou a ser popularmente chamado por entusiastas de Arena Fighter.

Em tais jogos, geralmente inspirados em animes e mangás que traziam a ação e as lutas como seu principal elemento de sucesso, os jogadores poderiam colocar os seus personagens favoritos para lutarem entre si em cenários, geralmente tridimensionais, contando também com as opções de poder ver (ou rever) a história de suas obras favoritas em um novo formato, onde poderiam inclusive ter acesso ao mesmo enredo sobre o ponto de vista de um personagem diferente do próprio protagonista que escolheriam para tal modo de jogo.

Não que jogos do tipo nunca tivessem existido em gerações anteriores, mas foi nessa época em específico que eles se consolidaram, especialmente graças às possibilidades tecnológicas que permitiram não só experiências de jogabilidade bem mais dinâmicas como também gráficos que agora aproximavam muito mais o visual dos personagens nos games das séries de TV que o público assistia, fazendo com que o resultado final fosse muito mais gratificante.

Bandai Namco / Tamsoft / Divulgação

Porém, a ficha começou a “cair” desde os conturbados lançamentos de jogos como Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections e Jujutsu Kaisen: Cursed Clash, onde ficou claro que desde que uma única empresa passou a concentrar a licença para a produção de jogos baseados nas obras de maior sucesso atuais e ditar as normas do estilo, praticamente não parecia mais haver uma preocupação em entregar algo muito além do que os consumidores já estavam acostumados, uma vez que talvez faltasse concorrência.

Some isso ao fato também de que jogos estão ficando cada vez mais complexos de serem produzidos, levando-se inclusive muito mais tempo para isso. Logo, não seria impossível de imaginar que quando um jogo com uma proposta interessante e inovadora relacionado a uma certa obra que encontra-se em alta fosse lançado, poderia haver a chance de ele simplesmente não alcançar o público alvo depois que ela perdesse o seu hype entre leitores ou espectadores.

Mas a grande questão aqui é: onde Bleach: Rebirth of Souls está posicionado diante desse cenário? Teria o novo jogo baseado nas aventuras sobrenaturais de Ichigo e seus companheiros superado a saturação dos Arena Fighters, ou ele acaba sendo apenas mais um jogo que “promete reinventar a roda” e no fim só entrega mais do mesmo?

ENTRANDO NO COMBATE COM ESTILO

Como um fã de longa data de Bleach, um detalhe que sempre me chamou a atenção, especialmente no anime, é sobre o quanto a direção de arte da série transborda… estilo. Mas como explicar isso?

Bem, quem nunca viu as roupas que seus personagens favoritos apareciam usando em uma série ou em wallpapers de computador ou smartphone e queriam vestir peças iguais ou semelhantes? Ou talvez ver técnicas especiais ou mesmo vinhetas que de tão harmônicas com outros fatores como trilha sonora ou ambientação te faziam querer ter um pôster, quadro ou mesmo uma estampa de camisa e/ou objeto com aquele momento? Então… Bleach, tem muito disso, e nesse aspecto Rebirth of Souls felizmente não ficou devendo.

A começar pelas aberturas reveladas durante o período de divulgação do game, com destaque especial para a segunda, que para muitos chegou a lembrar até algumas das que eram vistas em jogos da franquia Persona. Nos menus, a escolha foi por uma aparência mais minimalista, com uma combinação de cores harmônica e que felizmente em nenhum momento chegava a parecer mal acabada ou sem graça.

Bandai Namco / Tamsoft / Divulgação

Já nos gráficos in game, o mais recente lançamento da Bandai Namco até demonstra um bom potencial visual, com a escolha de animações renderizadas pelo próprio motor gráfico do jogo para apresentar as cutscenes do modo história ao invés de slides estáticos com cenas retirados do próprio anime. Uma escolha a meu ver positiva, apesar de alguns problemas de fluidez que façam com que as cenas não consigam provocar o mesmo impacto no jogador que a série animada.

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É no momento dos combates que felizmente os movimentos dos personagens são muito mais fluidos e ágeis, fazendo com que a uma primeira vista as lutas até remetam a jogos hack ‘n slash como Devil May Cry e God of War para desavisados, mas para qualquer fã que entende a dinâmica de como muitos personagens lutam e manifestam suas habilidades na obra, tal semelhança nem chega a ser por um acaso e é a partir daqui que o jogo demonstra sua singularidade.

ACHE (OU CRIE) UMA BRECHA E MOSTRE SEU PODER

Aqui chegamos ao foco principal da jogabilidade de Bleach: Rebirth of Souls, que traz como fator de novidade para os Arenas Fighters baseados em animes a premissa de uma vitória obtida de acordo com quantas vezes você é capaz de finalizar seu adversário com a técnica mais poderosa do personagem que você controla durante um confronto.

Bandai Namco / Tamsoft / Divulgação

Através de um tutorial básico, que coloca o jogador na pele de Ichigo em um dia de treinamento com Yoruichi, é ensinado que durante as disputas é possível utilizar ataques físicos leves, pesados, mover-se rapidamente até o oponente e até mesmo acertá-lo por diferentes ângulos que também podem ser utilizados para esquivar-se da linha de alcance dos rivais ou encontrar ponto cegos em sua defesa para a execução de combos ou especiais.

É possível escolher a princípio 1 entre 31 personagens disponíveis para lutar. A vitalidade dos personagens é chamada aqui de konpaku, e seu objetivo é aplicar durante o embate acertos o suficientes para destruir os konpakus do inimigo, que podem variar a depender do impacto dos comandos desferidos em quem é atingido.

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Após ser golpeado o suficiente, o personagem que sofre o dano fica em posturas no ar onde não consegue defender-se ou esquivar-se, o que é apontado na maioria das vezes com os dizeres “now or never” (agora ou nunca) aparecendo em vermelho brilhante na tela e indicando o momento de finalizá-lo com sua habilidade mais forte, gerando uma animação com os dizeres soul destruction e com um número indicando os konpakus destroçados.

Transformações podem ser acionadas ao se apertar os gatilhos do analógico de seu controle após o preenchimento de uma barra na tela que funciona como o “medidor moral da luta”, que é preenchida conforme porradas são desferidas ou recebidas por você durante a partida.

Tais mudanças de forma podem gerar desde cenários temporários que lhe dão uma vantagem quase absoluta temporária, como na liberação da Bankai de personagens como Renji e Komamura, ou que expandem os principais atributos responsáveis pelo potencial de um personagem no jogo, como Yoruichi que tem sua velocidade e agilidade ampliados através de seu Shunkô.

Há também uma barra de “ação reversa” que fica na parte inferior da tela que ao ser preenchida permite com que alguns golpes possam ser executados de modo a infringir mais dano contra o oponente, embora venham a reduzir menos konpakus em momentos cruciais do que finalizações e ataques realizados enquanto o personagem está transformado.

Bandai Namco / Tamsoft / Divulgação

Além da jogabilidade padrão, há as opções de tutorial, treino, realização de missões, um modo história principal, que segue até o fim da saga Arrankar, e um alternativo que traz elementos inéditos que expandem um pouco do que é visto nos arcos centrais da obra, sem falar na localização em português brasileiro (ainda que apenas com textos nos menus e legendas) e na possibilidade de se comprar ítens na “lojinha do Urahara”, que permite algumas pequenas possibilidades de personalização para os personagens que combinam mais com seu estilo de jogo, especialmente no modo online (que nessa análise não chegou a ser testado).

JOGOS DE ANIME LIBERARAM SUA “BANKAI”?

Embora tenha se vendido como um jogo com proposta inovadora, alguns elementos trazidos em Bleach: Rebirth of Souls não são exatamente inéditos para jogadores que tenham uma experiência longeva ou mesmo mediana em videogames, uma vez que sua jogabilidade é apontada por alguns como ligeiramente baseada em Dissidia, franquia conhecida por colocar personagens da série Final Fantasy para lutarem entre si.

Contudo, a inspiração em um outro jogo ou franquia de sucesso já existente não chega a ser um demérito, especialmente se for bem executada ou se dentro do nicho que se propõe realmente trouxer algum grau de pioneirismo.

Bandai Namco / Tamsoft / Divulgação

A princípio achei estranho o modo como muitas vezes os personagens parecem estar em um plano enquanto o cenário está em outro, fazendo com que em alguns momentos eles pareçam puramente estar flutuando no ar enquanto lutam e não de fato dentro do espaço físico do cenário, mas depois de algumas horas jogando acabei me acostumando e passei a ignorar tal detalhe.

Na parte de trilha sonora, as músicas são suficientemente boas para te dar imersão ao momento do jogo onde são inseridas, mas faltaram algums temas que poderiam evocar mais emoção a fãs de longa data das aventuras de Kurosaki Ichigo e seus companheiros, como Number One ou Storm Center em certas partes do modo história do jogo.

VEREDITO

Bleach: Rebirth of Souls não chega a ser exatamente revolucionário para entusiastas de jogos de luta, mas ao menos traz algum diferencial para o saturado subgênero de arena fighters e é um jogo divertido, que mesmo alguém com pouca experiência com jogos de luta pode aprender os comandos com facilidade e divertir-se jogando.

A Bandai Namco aparentou ter aprendido, ao menos um pouco, a lição com os erros cometidos no último jogo de Naruto e no de Jujutsu Kaisen, conseguindo entregar um produto ao menos razoável para uma obra que voltou a estar em evidência entre o público desde 2022, o que chega a ser um respiro em relação às críticas apontadas no início desta review. O game demonstra um bom potencial que pode ser ainda melhor trabalhado com futuras atualizações e DLCs com o acréscimo de mais personagens, cenários, sagas e ítens complementares de batalha.

Apesar do começo com o pé esquerdo ao menos no lançamento para PC, ainda diria que o jogo terá tempo para se consolidar de vez entre os arena fighters e quem sabe despertar sua “Bankai”.

*Análise feita por cópia enviada pela Bandai Namco para PlayStation 4.

Bleach: Rebirth of Souls está disponível para os consoles Playstation 5 e 4, Xbox Series S/X e PC (via Steam).

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não remete necessariamente a posição do ANMTV*